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ANÁLISE DA OBRA A VIOLÊNCIA E O SAGRADO

Por:   •  7/5/2018  •  Resenha  •  2.885 Palavras (12 Páginas)  •  309 Visualizações

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ANÁLISE DA OBRA: A VIOLÊNCIA E O SAGRADO – RENÉ GIRARD

O ensaio tem como objetivo desmistificar o “mecanismo da vítima expiatória e sua dualidade” que, ao mesmo tempo são tratadas como sagradas e criminosas, benéficas e maléficas. Através de uma profunda análise do mitos e rituais em relação “a violência fundadora e a função do sacrifício”, o autor pretende justificar o papel primordial do religioso/sagrado em relação a isso. Motivo pelo qual do título da obra.

01 – O SACRIFÍCIO

Neste capítulo, o autor contempla a real função do sacrifício: apaziguar as violências intestinas e impedir a explosão de conflitos, através da transferência coletiva à custa da vítima (humana ou animal) das tensões internas, rancores, rivalidades e todas veleidades recíprocas de agressão no seio da comunidade, enfim, “unir corações e estabelecer a ordem” (pg 20).

O autor divide o sacrifício em duas categorias – humano e animal - baseando-se em um julgamento de valor: os homens seriam inadequados ao sacrifício enquanto os animais seriam eminentemente sacrificiáveis, porem com uma característica em comum, ambos devem assemelhar-se àquelas que substituem.

Em se tratando de impedir a explosão de conflitos, uma violência intestina não apaziguada, segundo o autor, geraria o sentimento de vingança o qual constitui uma ameaça num processo infinito, que Girard chama de “círculo vicioso de vingança”. Neste ponto ele compara o sistema sacrificial a um sistema judiciário onde o culpado não é o que mais interessa e sim as vítimas não vingadas; é delas que vem o perigo mais imediato.  Cabe a este sistema judiciário afastar as represálias pessoais, cabendo a ele a “última palavra de vingança”.

Ainda neste capítulo o autor destaca a importância do religioso em relação a violência. As condutas religiosas e morais, segundo Girard, visam a não-violência de uma forma imediata na vida cotidiana, e muitas vezes, de forma mediata na vida ritual, por intermédio da própria violência. E se tratando disso, o autor enfatiza que não se deve confundir a boa da má violência. O rito é exatamente isso: repetir incessantemente a boa violência para eliminar a má violência. Enquanto houver diferenciação entre a boa e a má violência poderá limpar as maiores máculas. “Quando eles se confundem, nada mais pode ser purificado” (pg 54), destaca Girad.

02 – A CRISE SACRIFICIAL

Neste presente capítulo o autor enfatiza que, “uma vez que a violência tenha penetrado na comunidade, ela não cessa de se propagar” (pg 89), com isso exige-se o funcionamento correto do sacrifício. Qualquer mudança, mesmo mínima, ameaça desregular o sistema sacrificial. Na insuficiência a eliminação da violência não se produz: os conflitos multiplicam-se. Quanto ao excesso, mistura-se a violência santa com a criminosa: há a perda do sacrifício e é isso que Girard chama de “crise sacrificial”. Neste ponto, o autor enfatiza que, o sacrifício sempre termina mal e provoca uma reação em cadeia.

A não-diferenciação entre a boa e a má violência, Girard denomina de “a balança da violência, onde a tragédia é o ponto de equilíbrio”. Este equilíbrio de conflito é denominado pelo autor de imparcialidade trágica. Esta imparcialidade, segundo o autor, “é uma recusa deliberada de tomar partido, um firme propósito de tratar os adversários da mesma forma”. Segundo ele, “a imparcialidade não quer decidir, não quer saber se é possível decidir e também não afirma que é impossível decidir”. Diante disso, os erros e as razões estão distribuídos em ambos pratos. “Nada do que se encontra em um dos pratos deixa de aparecer imediatamente no outro” (pg 63).

Para o autor, a crise sacrificial é a perda da diferença entre a violência impura e a violência purificadora. Girard define a crise sacrificial como uma crise das diferenças, ou seja, da ordem cultural em seu conjunto. Esta ordem é um sistema organizado de diferenças; “são os desvios diferenciais que dão aos indivíduos sua identidade, permitindo que eles se situem uns em relação aos outros” (pg 67). A perda da diferença, para Girard, é traída pela linguagem.

É a perda dessa diferença que causa os conflitos e instaura a crise sacrificial.

03 – ÉDIPO E A VÍTIMA EXPIATÓRIA

Neste capítulo, faz-se necessário para melhor compreensão, conhecer um pouco a história de Édipo.

Édipo é filho de Laio, rei de Tebas e Jocasta. Em seu casamento Laio procura Delfos, o oráculo, para saber a respeito do seu futuro casamento. O oráculo respondeu-lhe que, “a criança que nascesse causaria sua morte”. Jocasta ao dar a luz, Laio ordena ao criado para expor o menino no monte Cíteron, onde foi pendurado pelos pés em uma árvore. Édipo foi achado por Forbas, rei de Corinto. Sua esposa, como não tinha filhos, adotou a criança.

Adulto, Édipo consultou o oráculo e a resposta foi: “serás assassino de seu pai e marido da sua mãe: dela nascerá uma raça odiosa”. Perturbado com isso exilou-se de Corinto. Na viagem, encontra-se com Laio cercado por cinco guardas que lhe ordenou que deixasse a passagem livre, e sem se conhecerem, travam uma luta e Laio morre.

Ao chegar em Tebas, Édipo encontra a cidade desolada por um monstro chamado Esfinge que propunha o seguinte enigma: “qual animal que, de manhã tem quatro pés, dois ao meio dia e três à tarde?”, e estraçalhava quem não adivinhasse.

Creon, irmão de Jocasta, que assumira o governo após a morte de Laio, lança um desafio: entregava sua irmã Jocasta como esposa e sua coroa àquele que livrasse Tebas da Esfinge.

Édipo se apresenta e resolve o enigma: “o animal é o homem, que, na sua infância, que é a manhã da existência, se arrasta geralmente sobre os pés e as mãos, isto é, gatinha; ao meio dia, ou seja, no vigor da idade, só necessita as suas duas pernas; mas à tarde, na velhice, precisa de um bastão, como de uma terceira perna, para sustenta-lo”. A Esfinge furiosa por ser adivinhada atira-se em um precipício e Édipo torna-se Rei e marido de Jocasta que lhe deu dois filhos, Etéolo e Polínice e duas filhas, Antígona e Ismênia.

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