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ANÁLISE CRÍTICA SOBRE O FILME: A ZONA DO CRIME

Por:   •  9/3/2017  •  Resenha  •  1.758 Palavras (8 Páginas)  •  2.084 Visualizações

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RESENHA

ANÁLISE CRÍTICA SOBRE O FILME: A ZONA DO CRIME

Camila Costa Peixoto

ZONA DO CRIME (LA ZONA). 2007. México. Direção e Roteiro: Rodrigo Plá. Elenco: Daniel Giménez Cacho, Maribel Verdú, Alan Chávez, Daniel Tovar, Carlos Bardem, Marina de Tavira, Mario Zaragoza, Andrés Montiel, Blanca Guerra, Enrique Arreola, Gerardo Taracena. Gênero: Drama. Duração: 98 minutos. Classificação etária: 16 anos.

PLÁ, Rodrigo. A Zona do Crime. Direção de Rodrigo Plá. México, 2007, 98 min. color.

A obra em análise no presente trabalho é o filme “Zona do Crime” (2007), dirigido pelo cineasta mexicano Rodrigo Plá. A história se passa em um local conhecido como “La Zona”, o qual vem a ser um condomínio fechado de classe alta, localizado em um bairro envolto de favelas e, por isso, fortemente guarnecido por um sistema de segurança. Ressalta-se que “La Zona” é mais do que um condomínio residencial, pode ser considerada como uma comunidade em que o traço que mais salta aos olhos são as leis próprias criadas pelo grupo.

A história se inicia quando o sistema de segurança encontra-se comprometido por um curto período de tempo em razão de uma queda elétrica após uma tempestade, momento em que três jovens suburbanos decidem invadir o condomínio, motivados pela oportunidade de roubo. Este assalto resulta na morte da dona da casa, de dois jovens e dos seguranças do condomínio. O terceiro jovem, Miguel, consegue se esconder dentro da Zona, como o condomínio é chamado. Sabendo que o terceiro jovem esta escondido dentro do condomínio, já que não conseguiu escapar pela segurança e não foi morto pelos guardas, os moradores do condomínio decidem por vingar-se da morte da moradora através da caça e consequente assassinato do jovem fugitivo. O filme segue com os moradores buscando “justiça”, precursora de uma inescrupulosa caçada pelo invasor sobrevivente posta em prática após o consentimento da maioria em assembleia, em que todos concordam em não chamar a polícia sob o argumento de que a justiça não serve para nada. Várias pessoas se organizam em grupos, armados para uma verdadeira perseguição que anseia apenas a morte do garoto. Ao mesmo tempo, tentam manter toda a trama ocorrida anteriormente dentro dos muros e fora dos domínios da polícia, visando o mantimento da tranquilidade sobre o condomínio. Um adolescente, filho de um dos principais organizadores da caça de Miguel, encontra Miguel escondido no porão de sua casa, porém, influenciado por seu pai e os outros moradores, não confia e nem se mostra amigável a Miguel, apenas não o entrega para os outros moradores e pede que ele vá se esconder em outro lugar. Depois de um tempo, esse adolescente conhece Miguel melhor, entende o que aconteceu naquele dia e entende a situação de Miguel. Abalado com o que está acontecendo, o adolescente grava um vídeo de Miguel e sai pra pedir ajuda de um juiz, amigo de sua família, porém, antes que pudesse fazer isso, seu pai descobre Miguel no porão e o leva para que todo o condomínio possa o ver. Apesar de pedir para que todos se acalmem, os moradores, inconformados, e afobados pelo sentimento de fazer justiça com as próprias mãos, acabam agredindo Miguel até que ele morre.

Depois da morte de Miguel, a vida dos moradores segue normalmente, apenas o mesmo adolescente que conheceu Miguel vai atrás do corpo, que foi descartado da mesma maneira que os outros dois rapazes foram, através da coleta de lixo, e leva o corpo até um cemitério e avisa a namorada de Miguel que ele está morto, mostrando ser o único dentro do condomínio a ter sentimento de solidariedade.

Apesar de ficcional, a atitude dos moradores do condomínio não difere do que fazem os chamados “justiceiros” que, na realidade, promovem o linchamento de pessoas que cometeram infrações penais pois acreditam que a melhor forma de coibir a violência e diminuir a ocorrência de crimes é utilizar-se da Lei de Talião - “olho por olho, dente por dente”. De acordo com Martins (1996, p. 11) “muitos confundem a ação dos linchadores com a ação dos chamados justiceiros, apesar da enorme diferença entre as motivações de uns e outros e entre um e outro modo de justiçar.” Segundo Martins (p. 12), há registro da ocorrência de linchamentos no Brasil desde o século XVI, porém este fenômeno tem adquirido implicações mais importantes neste momento histórico devido a um descontentamento por parte da população com a violência exibida nos programas de rádio, televisão e na internet. Vivemos uma cultura de violência, que justifica a pratica dos linchamentos feitos pelos justiceiros como forma de vingança e punição para os criminosos. Segundo Minayo (2006), "Nunca existiu uma sociedade sem violência, mas sempre existiram sociedades mais violentas que outras, cada uma com sua história". Ou seja, a expressão da violência é um fenômeno sócio-histórico que se modifica de acordo com as épocas, contextos e circunstâncias.

Uma das cenas que mais chamam a atenção no decorrer do filme é o linchamento promovido pelos moradores do condomínio contra o adolescente. Baseando-se em seu próprio julgamento, os moradores decidem em assembléia que a devem aplicar uma punição adequada ao adolescente, vingando-se da morte da moradora e de forma a servir de exemplo para que esta situação não mais ocorra. De acordo com Martins o que move a multidão à prática do linchamento é a motivação conservadora, a tentativa de impor castigo exemplar e radical a quem tenha, intencionalmente ou não, agido contra valores e normas que sustentam o modo como às relações sociais estão estabelecidas e reconhecidas ou os tenham posto em risco.

O comportamento dos moradores demostram a descrença no poder da Justiça, representada pela policia, enquanto entidade capaz de resolver as situações onde houve as infrações penais. Este atitude representa como o fenômeno da violência se auto sustenta, a medida em que a concepção da existência da violência e da impotência dos poderes públicos de resolução desta situação tornam legitimas as formas extralegais de resolução deste problema. Entretanto, é necessário apontar que o uso da violência como estratégia de coibir a violência, no caso dos “justiceiros”, é potencializada pela força do coletivo.

Essa rejeição da justiça exterior é um reflexo direto da alienação dos moradores. Na própria trama, um pai explica ao filho adolescente que, no passado, quando seu irmão havia sido baleado, a demora dos policiais teria sido responsável por sua morte. Logo, a polícia não

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