Entre o Pária e o Novo-Rico
Por: Suzy999 • 13/9/2019 • Pesquisas Acadêmicas • 878 Palavras (4 Páginas) • 175 Visualizações
ENTRE O PÁRIA E O NOVO-RICO
O precário equilíbrio entre a sociedade e o Estado, se resultou de uma lei peculiar que regulava a admissão dos judeus na sociedade. Durante os 150 anos em que os judeus viveram entre os povos da Europa ocidental, tiveram de pagar a glória social com o sofrimento político e o sucesso político com o insulto social. A assimilação, isto é, a aceitação da diluição dos judeus por parte da sociedade não judaica, era concedida só aos indivíduos distintos que compartilhavam as mesmas condições políticas restritivas e humilhantes. A sociedade não estava preparada para acolhê-los dentro de preceitos de igualdade social, exigindo assim, que o judeu recém-admitido se ajustasse à sociedade como condição da emancipação e que fosse “educado” quanto os seus próprios componentes. Os defensores da emancipação aceitavam que a elite de qualquer grupo se consistiria de pessoas educadas, tolerantes e cultas, analisando assim, as condições dos judeus sob o aspecto social na sociedade. No século XVIII, surgiu a procura por “novos espécimes de humanidade”, que estabeleceria o relacionamento a servir como exemplo para a convivência entre todos os tipos humanos. Sendo os judeus ignorados ainda como elementos de convivência. Enfrentavam a exigência de serem exceções entre seu próprio povo e esperava-se que se tornassem espécimes excepcionais da humanidade. Após a derrota prussiana de 1806, que a questão da emancipação dos judeus foi posta nas leis napoleônicas da Alemanha, destruindo a distinção dos judeus emancipados baseados em status social, convertendo-se muitos ao cristianismo. O melhor exemplo de salões judaicos estava na Alemanha, Rahel Varnhagen. Nas reuniões sociais na “mansarda” de Rahel iam os aristocratas, intelectuais, atores e os que não pertenciam à sociedade respeitável. Em busca de profissões liberais, os judeus seguiam os preceitos dos salões de Berlim, nada importando além da personalidade, singularidade do caráter, talento e expressão, insubstituíveis pela ascendência social, dinheiro, fama literária e os únicos meios de tornar possíveis a comunicação ilimitada e a intimidade irrestrita. O fim destas reuniões se deu no mesmo ano, em 1806. No tratado de paz de 1807, a Prússia perdeu a maioria de sua população judaica, mas o ponto crucial da história social dos judeus alemães foi em 1808, que uma lei municipal outorgava aos judeus os direitos cívicos. A Prússia rescindiu o decreto de 1812, que daria direitos políticos para os judeus pobres, mas deixou a lei municipal intacta. Os decretos de emancipação juntamente com a perda das províncias, resultou em grandes consequências sociais tornando todos os judeus menosprezados pela sociedade. Posteriormente, foram forçados a abandonar as rigorosas leis judaicas, exigindo mais ortodoxia deles, passando a reinar como príncipes absolutos entre o seu próprio povo, se sentindo como o primeiro entre seus iguais. A arrogância de classe se externou quando estabeleceram ligações comerciais entre os banqueiros judeus de diferentes países e seguiram-se casamentos entre famílias mais importantes, gerando um verdadeiro sistema transnacional de casta. Os judeus alemães tornaram-se rebeldes contra os representantes oficiais do seu próprio povo. Sentindo o impacto da pressão antissemita, os judeus intelectuais e ricos, confiavam na proteção da monarquia dos Habsburgos, e se tornaram contestadores depois da Primeira Grande Guerra, quando o Partido Social-Democrata subiu ao poder. A exceção mais significativa e amarga dessa armação foi Karl Kraus que incorporou o jornalismo exercido por judeus como culto organizado da fama. Os padrões de conduta dos judeus assimilados, determinados pelo esforço de se distinguirem, resultou em um tipo de judeu reconhecido em qualquer lugar, que recebiam atributos estereotipados, humanidade, bondade, isenção de preconceitos e sensibilidade à justiça. Para a formação da história social dos judeus na sociedade europeia do século XIX, foi decisivo que os judeus de todas as gerações, seguiria o caminho de arrivismo, ou optaria entre a sua permanência como pária ou o conformismo aliado à condição de esconder sua origem. Na Europa ocidental e central, esse pertencer do judeu resultava da solidariedade intelectual. O destino social do judeu médio foi determinado por sua eterna falta de decisão, onde a sociedade não compelia os a se decidirem sendo que a maioria vivia num lusco-fusco de ventura e desventura. A questão judaica não tinha mais significado político, mas obcecava suas vidas pessoais e influenciava suas decisões. Os problemas políticos dificultavam ao judeu abandonar seu judaísmo e os problemas não resolvidos, por exemplo, na questão dos casamentos mistos, dificultava muitas vezes o ser judeu em casa, sem abdicar de ser homem. Assim, as leis imprevisíveis da paixão, conduzir e até governar a vida dos judeus. O processo da sociedade burguesa surgir das ruínas de suas tradições e lembranças revolucionárias envolveu a saturação econômica e a indiferença geral às questões políticas. Os judeus tornaram-se pessoas que descobriram a atração por tudo que podia ser julgado misterioso, perverso ou secretamente mau. E foi esse febril e doentio interesse que abriu a porta da sociedade aos judeus; pois, a “condição de judeu”, após haver sido distorcida tornando-se qualidade psicológica, podia ser vista como qualidade de perversão. A genuína tolerância e curiosidade que a Era do Esclarecimento sentia em relação a tudo o que era humano cedia lugar a um mórbido desejo pelo que era exótico, anormal e diferente. Desse modo, só o papel dos judeus na sociedade decadente podia assumir uma estatura que transcendesse os estreitos limites de um caso social.
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