Filosofia Pré-Socrática: Arte, mistério e razão

Filosofia Pré-Socrática: arte, mistério e razão - Prof. Guisard

Nietzsche, em seu texto sobre Tales de Mileto, afirma que se a Filosofia começa com Tales é porque nele havia algo inédito, um instinto de conhecimento que é próprio do “cientista”. Esse “criador e mestre que começou a sondar as profundidades da natureza sem fábulas fantasiosas” foi o primeiro a falar sobre a origem e a unidade de todas as coisas sem utilizar mitos e alegorias. Ele foi o primeiro a não mais ver a natureza como uma manifestação dos deuses. Sem dúvida, foi seu instinto de cientista que o levou a pensar que a água, e não os deuses, é o princípio de todas as coisas.

Esse novo “instinto de conhecimento”, presente em Tales, equivale ao “entendimento calculador” do homem da ciência que procura por todos os lados relações de causalidade. Sem esse entendimento científico, não teria nascido o pensamento filosófico. Estaríamos ainda vivendo na lógica do pensamento mítico. O que significa dizer que essa racionalidade científica que mede, calcula, classifica e conceitua é uma característica inerente ao filósofo, seja ele pré-socrático ou socrático.

No entanto, embora a razão seja parte integrante da filosofia, o filósofo da época trágica não se limita do cientista que há nele. Desse modo, a interpretação de Nietzsche aponta para o fato de que a filosofia tem outras virtudes que a ciência não tem. O pensamento filosófico vai além da reflexão científica, pois, enquanto a ciência quer conhecer todas as coisas a qualquer custo, o filósofo só quer conhecer as “grandes coisas”.

A breve e genial frase de Tales: - “a água é origem de todas as coisas” (que Nietzsche traduz como “tudo é água”) – é resultado não de deduções científicas, mas sim de um trabalho de artista que sabe colocar em palavras, isto é, em metáforas, o que lhe vem de modo intuitivo.