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O Brasil e a Educação Adiada

Por:   •  11/6/2022  •  Artigo  •  1.319 Palavras (6 Páginas)  •  61 Visualizações

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Brasil e a educação adiada.

        O título desta “resenha critica” é uma alusão ao capitulo “Uma nação adiada” do livro “Projeto Nacional: o dever da esperança” de Ciro Gomes. Neste capítulo ele relata sobre como o desenvolvimento do Brasil sempre é adiado por algum fator. O que na verdade ocorre desde quando o Brasil foi descoberto e deixado de lado como relatado por Marcos Costa em “A história do Brasil para quem tem pressa”.

        O sentido de associar a educação à nação adiada de Ciro Gomes é trazer a ideia de completa ausência de projetos educacionais que se perpetuem no tempo e que sejam modificados apenas para corrigir as suas falhas e não ser modificado conforme a necessidade do mercado financeiro.

        A educação não se distancia do que ocorreu com o Brasil e isso fica evidente pela dificuldade do acesso a universidades ainda no período colonial. Ana Waleska P. C. Mendonça, em “A universidade no Brasil”, disserta sobre a inexistência de universidades no Brasil no período colonial. Restringindo o acesso do “ensino superior” às universidades de Coimbra e Évora o que favoreceu a elite. Essa restrição teria como principal objetivo manter firme o vinculo de dependência que o Brasil tinha com Portugal.

Ainda segundo Ana Waleska P. C. Mendonça, alguns cursos começaram a ser criados no Brasil a partir de 1808, cerca de trezentos anos depois da colonização do Brasil, esses cursos eram de matérias estratégicas que visavam conservar o vinculo com Portugal.

        Pelo trabalho da autora nota-se que algo parecido com o ensino superior foi implantada no Brasil para servir aos colonizadores e não ter uma disseminação de conhecimento como o iluminismo defendia. O fim do período colonial ocorreu em 1822, dando lugar ao período monárquico e posteriormente ao período republicano que contou com algumas ditaduras. Em todos esses períodos a educação era direcionada para as necessidades que iam surgindo no momento.

        Dilvo I. Ristoff em 1999 inicia seu artigo, “A tríplice Crise da Universidade Brasileira”, mostrando que quanto maior o investimento que o Estado faz em educação mais ele arrecada em impostos futuramente. Ristoff destacou três grandes crises que afetavam a universidade brasileira na época as quais chamou de matadores silenciosos, sendo a primeira a crise financeira. Quando o Brasil se encontra em crise o primeiro corte é a educação. Esses cortes são matadores silenciosos porque suas consequências são, na maioria das vezes, em longo prazo.

        A segunda crise, para Ristoff, é a crise do elitismo. Em 1999 havia no Brasil cerca de dois milhões de universitários, o que é considerado um numero restrito. A população universitária era formada, em sua maioria, pela elite. Na hierarquia para sistemas educacionais, criada por Martin Trow, há três sistemas, no sistema de elite 15% da população em 18 e 24 anos tem acesso ao ensino superior, no sistema de massa esse numero sobe para 40% e sistema universal é quando a porcentagem fica acima dos 40%. O autor relata que nesse sistema o Brasil tem apenas 10% da população nessa faixa.

        A terceira crise é derivada da segunda, quando o ex-ministro da educação do governo Itamar Franco, Murilo Hinguel, adotou algumas medidas para, segundo o autor, democratizar o acesso à educação superior. Entre as medidas estavam a criação de cursos sequenciais, a abertura franca ao comercio educacional e por último a exigência de ampliação de vagas no sistema federal. A terceira crise é então o não saber para que rumo levar a educação superior, não saber sequer qual o objetivo do ensino superior no Brasil.

        Os rumos que a educação do Brasil seguiu a partir desse momento histórico foi, em sua maioria, ditado pelos interesses do capitalismo. O que nos leva ao texto de Lourenço Stelio Rega, “a mercadorização do saber como um produto do neoliberalismo de Milton Friedman e a metáfora da “rã na chaleira””.

        A mercadorização do saber pode ser observada tanto no texto supra quanto no “Universidade em ruínas” de Marilena Chauí. Esses textos demonstram a entrada do neoliberalismo na educação e suas consequências catastróficas. A ideia central de Friedman, segundo Rega, prega um “estado mínimo” onde o estado deve deixar de lado a ideia de promover um estado de bem-estar social e assumir a postura de um estado gestor. A Educação seria inteiramente voltada para as necessidades do mercado e deixa de valorizar o pensamento critico passando a valorizar a eficiência e o custo.

        Ocorre que o ideal neoliberalista, ou até mesmo o clássico liberalismo nunca pregou um estado mínimo, eles pregam o estado mínimo para as pessoas e máximo assistencialista para a indústria e empresas. Para Friedman o Estado não deve prover nem a saúde, o que torna não só a educação uma mercadoria, mas as pessoas, a mão de obra mercadorias completamente substituíveis.

        A ideia de estado mínimo não se sustenta porque para manter a indústria é necessário se utilizar o estado para controlar as politicas, direcionar a educação para o único fim de servir ao mercado e principalmente socorrer a indústria durante as crises economicas. Neste modelo econômico ocorre a institucionalização da educação, e a função do ensino superior não é formar indivíduos pensantes e críticos e sim criar uma massa de atenda e gere lucros para a elite. Saindo de cena o professor e entrando o gestor.

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