O CANIBALISMO ESTATAL PRESENTE NO SEGREDO DO SOYLENT GREEN: REFLEXOS ATEMPORAIS
Por: Laura Mallmann Marcht • 7/12/2016 • Artigo • 4.271 Palavras (18 Páginas) • 509 Visualizações
O CANIBALISMO ESTATAL PRESENTE NO SEGREDO DO SOYLENT GREEN: REFLEXOS ATEMPORAIS
Laura Mallmann Marcht[1]
Bruna Fernanda Bronzatti²
Direitos Humanos, Meio Ambiente e Novos Direitos
RESUMO
O presente trabalho visa discutir e analisar as características presentes no filme de Richard Fleischer, “Soylent Green” ou “No Mundo de 2020”. Objetiva destacar sua atemporalidade, com base nas denúncias de violação de direitos humanos, crise da democracia política e as consequências do efeito estufa retratados na obra. O trabalho visa também apontar os novos direitos que se apresentam ao decorrer da película, bem como contextualizar ao cenário político atual.
Palavras-chave: Democracia; Direitos Humanos; Efeito Estufa; Soylent Green; Sustentabilidade;
1 INTRODUÇÃO
“É verdade que apostar é uma coisa e vencer é outra. Mas também é verdade que quem aposta o faz porque tem confiança na vitória. É claro, não basta a confiança para vencer. Mas se não se tem a menor confiança, a partida está perdida antes de começar” (BOBBIO, 2004, p. 211-212).
Muitas foram as obras e películas que buscaram retratar ou prenunciar as consequências das ações desmedidas do homem num futuro próximo. Em 1973, os cineastas já tinham a preocupação de denunciar as prováveis respostas da natureza ao esgotamento dos recursos naturais por parte da sociedade já industrializada. Nesse sentido, “Soylent Green” ou “No Mundo de 2020” dirigido por Richard Fleischer e produzido por Walter Seltzer e Russel Thacher tem por escopo uma forte crítica à sociedade que se delineava frente à destruição do meio ambiente e a evidente omissão por parte do Estado e do povo em relação às práticas insustentáveis.
O ano é 2022, o local é Nova York, a superpopulação é de 40 milhões de habitantes. O mundo está em crise, não há democracia, a água está envenenada, o mundo sofre com pobreza, fome, pessoas sem-teto dormindo em escadas (empilhadas) e ondas insuportáveis de calor causados pelo efeito estufa. Poucos são aqueles que possuem riqueza para alimentar-se de frutas, verduras ou carne (algo já praticamente extinto à época). A questão se torna pertinente quando a evidente omissão por parte do Estado, bem como dos cidadãos, resulta em um efeito estufa agravado de tal forma que o mundo se transforma.
O presente trabalho objetiva destacar a atemporalidade da obra, por se mostrar revolucionário à época, demonstra as consequências do descaso com o meio ambiente e a falsa ideia de progresso da civilização. Retrata forte preocupação com a sustentabilidade, a busca pela racionalidade para com os recursos naturais, demonstrando a necessidade de conservação do ecossistema.
Há também forte denúncia à violação de direitos humanos, da crise da democracia política e das consequências do efeito estufa. Expõe, mesmo que brevemente, como ocorre a evolução dos direitos humanos, de que modo se constroem e como é possível que aumente sua aplicabilidade no direito contemporâneo.
Visa apontar, contextualizando historicamente, os novos direitos que se apresentam ao decorrer da película. Para além, é necessário compreender como esses novos direitos podem ajudar na resolução de conflitos. É citada a importância desses novos direitos e como eles podem servir de recurso às discussões do cenário atual. Assim, o trabalho tem por objetivo principal, analisar as denúncias de “Soylent Green” e contextualizá-las a fim de demonstrar a importância dos direitos humanos e dos novos direitos, sem excluir os direitos antecessores, como os individuais e sociais.
2 “NO MUNDO DE 2020” OU NO MUNDO DE 2015?
O ano é 2022, o local é Nova York, a superpopulação é de 40 milhões de habitantes. O mundo está em crise, não há democracia, a água está envenenada, o mundo sofre com pobreza, fome, pessoas sem-teto dormindo em escadas (empilhadas) e ondas insuportáveis de calor causados pelo efeito estufa. Para suportar essas adversidades, é necessário criar Soylents e outros meios afins.
O Soylent é um concentrado energético criado para substituir as refeições, uma vez que são muitas as pessoas e poucos os recursos naturais para mantê-las saciadas. Há Soylents amarelos e vermelhos, mas o que realmente é agradável a todos é o Soylent Green, feito de plânctons retirados do oceano, segundo o que diz o governador.
A trama tem início no assassinato misterioso de William R. Simonson, possuidor de grande patrimônio, inclusive de Shirl, “mobília” que faz parte de seu apartamento. No dia de seu assassinato, Shirl juntamente com o guarda Tab, vão ao encontro de um comerciante para comprarem mantimentos. Nesse pequeno lapso de tempo, Simonson não parece surpreso com a invasão de um sujeito e é assassinado. O detetive Thorn então é chamado ao ofício e começa a investigar o caso.
O investigador não poderia prever o que viria a seguir. Ele traz do apartamento de Simonson vários mantimentos (incluindo uma porção de carne) e bebidas que antes nunca havia visto. Junto com esses mantimentos, traz a seu parceiro Sol Roth, um livro intitulado “Relatório da investigação oceanográfica do Soylent”. Sol é professor e grande curioso das ciências. Contudo, jamais imaginaria encontrar o segredo de Soylent Green naquele documento.
E é exatamente o segredo a grande motivação para o assassinato – o que já era uma desconfiança presente em Thorn – só ainda não havia resolvido o mistério. O detetive investiga o padre que ouviu a confissão do milionário buscando por respostas e este parece não querer responder a suas indagações por estar devastado pela verdade. O governo pede ao delegado que dê o caso por encerrado, mas este se recusa. Sol, ao estudar o relatório saqueado por Thorn, vai ao “intercâmbio de livros” (semelhante a uma biblioteca) para desvendar o mistério do tablete verde.
Logo após descobrir o que está por trás do alimento, Sol, já esgotado daquela funesta realidade, vai a um centro de recolhimento que incentiva as pessoas a morrerem de forma agradável. São vinte minutos de experimentação do mundo como era quando possuidor de recursos, das melhores músicas e outras coisas que são específicas ao último desejo do ser. Thorn, ao descobrir que seu parceiro está partindo, vai ao seu encontro e presencia a cerimônia. O parceiro alerta o detetive que o mesmo procure provas do segredo.
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