OS RATOS
Por: Bárbara Rocha • 3/5/2018 • Artigo • 2.397 Palavras (10 Páginas) • 131 Visualizações
Ratos, o bullying e a submissão dos silenciosos[1]
Rats, bullying and the submission of silent
Bárbara Vitória Alves Rocha[2]
Isabella Nayara Nunes Ibiapina [3]
Sara Grazielle Gomes Almeida [4]
Rosália Maria Carvalho Mourão [5]
Resumo
Esse presente artigo tem como objetivos apresentar a interferência da literatura no campo jurídico vista na obra Ratos de Gordon Reece, buscando integrar assuntos do cotidiano que tenham ou venham a ter relevância para o estudo ou normatização do direito, como a prática do bullying entre crianças e adolescentes e as consequências para quem o pratica e sofre, o papel dos educadores, pais e da própria sociedade na formação da personalidade de indivíduos para que tenham em mente a importância do respeito ao próximo, visto que o homem por se caracterizar como um ser social necessita de uma boa convivência no seu meio, assim como quais medidas favorecem a atenuação desse fenômeno no âmbito escolar.
Palavras Chaves: Direito e Literatura, Bullying, jovens, escola
Abstract
O direito na literatura permite uma ampla reflexão sobre acontecimentos ficcionais voltados à realidade, buscando integrar e incentivar alunos e estudiosos a desenvolverem maiores possibilidades de argumentação jurídica dentro do campo literário, no qual é rico em situações inerentes à justiça em consonância com a humanização do ser humano. Por tratar de questões relativamente importantes, está sendo gradativamente inserida nas faculdades e universidades do Brasil, como uma disciplina da grade curricular do curso de Direito, segundo afirma Vera Karam, professora da disciplina de Direito e Literatura da Faculdade de Direito da Universidade Federal do Paraná (UFPR) “O aplicador do direito é constantemente demandado a dar respostas a conflitos concretos e diversos, e a literatura justamente abre um espaço de reflexão e de ação mais crítico, porque é mais sensível às especificidades do humano”, portanto visa concluir que o universo jurídico não é limitado, ele aceita concepções de outras áreas, por ser uma ciência que trata especificamente das relações humanas e seus paradigmas.
A literatura, reflete no direito nas suas formas e estéticas de textos, levando em consideração a boa argumentação, onde o profissional se utilizas dessas técnicas para fundamentar suas teses, obter ampla informação e buscar respostas que regularmente são encontradas na ficção de uma obra literária.
Olhando a operacionalidade, a realidade não nos toca, as ficções, sim. Com isso, confundimos as ficções da realidade com a realidade das ficções. Ficamos endurecidos. A literatura pode ser mais do que isso. Faltam grandes narrativas no direito, e a literatura pode humanizá-lo. (STRECK, Lenio, 2013)
A obra Ratos de Gordon Reece desenvolve-se em torno de uma relação entre mãe e filha que sofreram de diversas maneiras por situações corriqueiras, como divórcio, mudança de casa, afastamento do pai e marido, ainda mais, diante de todas essas circunstâncias a filha única do casal se ver inserida numa situação comum, no entanto inaceitável no ambiente escolar, atormentada pela prática do bullying. O autor, que por sua vez, escolheu esse título com intenção de atribuir às personagens as características de ratos, animais indefesos que geralmente escondem-se em tocas, fugindo de tudo aquilo que os amedrontam, seus predadores, os gatos. “Porque a mansa submissão é tudo os que os ratos conhecem (pág 40). ” Em virtude dos trágicos acontecimentos ocorridos às personagens principais, Shelley e sua mãe Elizabeth, passam de vítimas das situações que as impunham fraqueza para assinas a sangue frio. “Todos temos um limite – até mesmo os ratos –, e quando eles são ultrapassados algo se transforma dentro de nós” (pag 74).
Além disso, ela contém diversos elementos que podem e devem ser observados pelas ciências humanas, como o Direito, Sociologia, Psicologia, Pedagogia, ressalvando aqui a importância das obras literárias para estudo no direito. Porém, o tema que destacamos mais relevante para o nosso artigo é a prática do bullying nas escolas, e como suas consequências afetam o meio direta e indiretamente. Visa observar que o bullying é um fenômeno social presente nas escolas, entre crianças e adolescentes, que tem como características comportamentos agressivos das mais variadas formas, e repetidos frequentemente a quem não tem capacidade ou é julgado inferior, por não seguirem um determinado rótulo imposto por aqueles o praticam, esses, portanto, diferenciam-se entre autores e alvos. Além disso, pretende-se abordar como esse fenômeno pode ser evitado nas frequentes ocorrências no âmbito escolar e as formas de tratamentos aos danos psicológicos assim como medidas preventivas, a quem o sofre. No livro Ratos esse tema é trazido pela personagem que por diversas vezes não consegue compreender porque ela foi escolhida a ser o alvo das maldades de suas ex melhores amigas de infância, as denominadas JETS. “Éramos inseparáveis, como uma patotinha, um clube. E até inventamos um nome – as JETS –, um acrônimo com nossas iniciais” (pág 19). É talvez, inimaginável que os comportamentos agressivos partam de pessoas consideradas tão próximas, no entanto é uma situação possível. “Percebendo como elas me olhavam, a expressão em seus rostos, dei-me conta da sensação – na qual eu não estava pronta para acreditar – de que minhas melhores amigas me achavam repulsiva” (pág 19).
O bullying é diversas vezes confundido como uma mera brincadeira entre crianças, por vezes é até passado despercebido por pais e funcionários da escola, porém, não são jogos lúdicos, com intuitos de divertimento dos dois lados, mas sim, agressões que geram diversão apenas a um dos lados, que seriam os autores praticantes e aqueles que obtém diversão assistindo compactuando sem nada fazer a respeito.
Tudo começou lentamente, com comentários irônicos e depreciativos que poderiam ser vistos como brincadeiras, mas que logo perderam qualquer vestígio de bom humor e mostraram ser o que realmente eram: palavras hostis e maldosas, ditas para machucar. (REECE, GORDON, 2001, pág 24)
Saber ao certo, o que gera esse comportamento é uma incógnita, mas existem diversos fatores que contribuem para o desenvolvimento de alvos e autores. Esses grupos que comumente praticam o fenômeno tendem a adotar os mais variados comportamentos agressivos principalmente, no seu âmbito familiar.
Fatores econômicos, sociais e culturais, aspectos inatos de temperamentos e influencias familiares, de amigos, da escola e da comunidade, constituem riscos para a manifestação o bullying e causam impacto na saúde e desenvolvimento de crianças e adolescentes. (LOPES NETO, Aramis A, 2005, 05).
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