Reflexões Sobre a Introdução ao Direito
Por: Paulo Henrique Andrade Da Cruz Júnior • 11/12/2024 • Resenha • 1.531 Palavras (7 Páginas) • 52 Visualizações
UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA
IPSD65 - Tópicos Especiais em Psicologia IV
SEMESTRE: 2023.1
Discente: Paulo Henrique Andrade da Cruz Júnior
Docentes: Mônica Lima de Jesus, João Gabriel Modesto
Uma medicina mais ameríndia em detrimento ao excesso biomédico
OBJETIVOS
Neste seguinte texto, busco por meio de um gatilho despertado em aula, fazer uma dissecação da medicina tradicional Brasileira, bem como tecer críticas ao atual modelo biomédico que é apresentado no país, que se mostra reducionista e individualista em sua abordagem à saúde. Com o foco predominante no tratamento de sintomas e doenças específicas, ignorando fatores sociais, culturais e ambientais que podem desempenhar um papel significativo no bem-estar humano. Não compactuando com a definição mais abrangente, aderida pela Organização Mundial da Saúde (OMS), em 1946, que concluiu saúde como “um estado de completo bem-estar físico, mental e social, e não apenas como a ausência de doença ou enfermidade”. Em contrapartida, o modelo indígena adota uma perspectiva mais compatível e abrangente, considerando a interconexão entre os indivíduos, suas comunidades e a natureza.
Desde que ingressei nos primeiros componentes de psicologia, algo que sempre me alarmou foi o modelo biomédico e seu extremo que faz com que o Brasil figure entre os dez que mais consomem medicamentos no mundo, segundo dados do Conselho Federal de Farmácia. No contexto contemporâneo, é fulcral questionar e revisar o modelo biomédico, que moldou o senso comum sobre o que é saúde e cuidado. Tendo isso em vista, a medicina indígena surge como uma alternativa, oferecendo uma abordagem holística e profundamente enraizada na natureza, apresentando substancias quase inofensivas perto de remédios invasivos que são disponibilizados pelo modelo atual.
A medicalização excessiva, fruto desse modelo, tem se mostrado prejudicial à população. Dados alarmantes revelam que a crescente dependência de medicamentos tem acarretado efeitos adversos e impactos negativos à saúde. Exemplificando isto, de acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), estima-se que pelo menos 5% das hospitalizações em países desenvolvidos sejam devido a reações adversas a medicamentos, podendo variar à efeitos colaterais graves e danos permanente a alguns órgãos. Urgindo a necessidade, de frear a excessiva medicalização, buscando uma abordagem mais holística e integrada.
O modelo biomédico que foi importado para o Brasil, é totalmente voltado para a “ausência de doença” e na medicalização dos problemas de saúde, uma simplificação do processo que traz inúmeras geratrizes negativas. Minimizando a promoção da saúde e a prevenção de doenças, priorizando o tratamento de sintomas em detrimento das causas que promoveram. Esse modelo também pode contribuir para a fragmentação do cuidado, com uma falta de integração entre os diferentes profissionais de saúde, com uma centralização total na figura do médico. Por fim, pode haver desigualdades no acesso aos serviços de saúde, prejudicando grupos marginalizados e vulneráveis.
Posso utilizar como exemplo dessa desigualdade a própria parcela que é meu objeto de estudo, o acesso à saúde indígena é uma realidade calamitosa. Dados recentes mostram que as comunidades indígenas enfrentam barreiras significativas na obtenção de serviços de saúde adequados. De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), apenas cerca de 40% das comunidades indígenas têm acesso a unidades de saúde. Além disso, a taxa de mortalidade infantil entre os indígenas é cerca de duas vezes maior do que a média nacional.
Essa disparidade reflete a escassez de políticas e recursos adequados, o isolamento geográfico das reservas indígenas e a escassez de profissionais de saúde nas comunidades. A falta de investimentos para promoção de saúde dessas populações contribui para a marginalização e agravamento das desigualdades na saúde indígena. É fundamental que haja um compromisso maior por parte do governo e da sociedade em garantir um acesso equitativo e de qualidade à saúde para todas as comunidades indígenas.
Indo na contramão, do modelo hospitalocêntrico que minimiza a prevenção, a medicina tradicional reconhece a saúde como um equilíbrio delicado entre o corpo, a mente, as emoções e o espírito. É por meio do conhecimento ancestral transmitido por gerações e da utilização de plantas medicinais, rituais e práticas curativas que a medicina indígena nos oferece uma perspectiva transformadora, fazendo a gente reconsiderar nossas concepções convencionais de saúde e a buscar uma abordagem mais integrativa e respeitosa com o nosso corpo e o meio ambiente. A seguir, explorarei as principais características da Medicina Indígena e como ela contrasta com as limitações do modelo biomédico, destacando a importância de abraçar uma perspectiva mais ampla e inclusiva da saúde.
Antes de me estender nisso, é importante salientar a importância do mecanismo de segregação que o sistema promove, impedindo a difusão desses saberes empíricos que originaram nossa nação. Para entender como se constituí essa desvalorização, foi muito importante para minha compreensão me debruçar sobre o conceito de etnogenocídio, que um breve resumo seria, a destruição de elementos culturais de um grupo étnico. Essa violência é perpetuada meio de práticas como a imposição de culturas dominantes, o proibicionismo, a repressão de costumes tradicionais e a desvalorização ou negação dos saberes e práticas culturais de um determinado grupo étnico.
No aspecto da medicina dos povos originários, o racismo não deixa de estar presente, principalmente no meio acadêmico. Os saberes tradicionais, maioria das vezes não é legitimado pelas estruturas universitárias e de saúde institucionais. A falta de políticas e programas governamentais voltados para a valorização e promoção da medicina indígena contribui para sua falta de difusão e acesso. Como exemplo dessa tentativa de marginalizar essa forma de conhecimento, a hegemonia do pensamento eurocêntrico e a ênfase no cientificismo nas universidades tendem a desacreditar de formas de conhecimento não sendo produzidas no padrão ocidental. Tendo isso em vista, Ailton Krenak propõe uma universidade que aceite diversidades de epistemologias, “O tipo de sonho a que eu me refiro é uma instituição, uma instituição que admite sonhadores. Onde as pessoas aprendem diferentes linguagens, se apropriam de recursos para dar conta de si e do seu entorno”.
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