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Resumo Texto Roberto DaMatta

Por:   •  14/3/2017  •  Resenha  •  4.309 Palavras (18 Páginas)  •  570 Visualizações

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"SABE COM QUEM ESTÁ FALANDO? UM ENSAIO SOBRE A DISTINÇÃO ENTRE

INDIVÍDUO E PESSOA NO BRASIL”

        O texto tem por objetivo a interpretação sociológica o ritual brasileiro do "sabe com quem está falando?". Essa forma é tão usual entre os brasileiros, porém não é motivo de orgulho para ninguém, devido sua carga adversa, pois também é considerada uma demonstração de preconceito.

        O "sabe com quem está falando?", parece estar implantado no coração cultural do brasileiro, devido seu conhecimento extensivo dos meio de comunicação em geral, porém ela não tem um momento certo em que é pronunciada, surgindo, então, dois traços importantes:

  1. Um dos aspectos da expressão é que quase sempre esse recurso é visto como ilegítimo ou escuso, ou seja, muitos traços da cultura brasileira são ensinados na família, porém o uso desta expressão é muita vezes proibida, porém aqueles que proíbem são os mesmos que a usam no dia seguinte. Considera-se esta expressão como parte do "mundo real", para ser utilizado na rua, não sendo aceito no seio da família.
  2. Outro traço  do "sabe com quem está falando" é que a mesma é considerada como parte indesejável da cultura brasileira, haja vista ser utilizada em situações de conflito, situações em que o povo brasileiro não se sente confortável. Não que na sociedade brasileira não ocorra crises, ao contrário, ha muito, porém "entre a existência da crise e o seu reconhecimento existe um vasto caminho a ser percorrido.

Existem formações sociais que em tempos de crime logo buscam meios de resolver seus conflitos, e outras não se admite a crise. No Brasil a crise é considerada quase um fim do mundo, como uma fraqueza.

        Não é o intuito tomar uma das posições como a correta, e sim interpretar o "sabe com quem está falando?" como um rito de autoridade, uma característica reveladora da vida social do brasileiro.

        Este traço pode não ser divulgado à estrangeiros e dentro da família, pois quase sempre é apresentada em um cenário de crise, e, como já dito anteriormente, o povo brasileiro é desfavorável a conflitos. Sabe-se que a participação ativa em um conflito é característica de uma sociedade onde impera o igualitarismo individualista que, segundo o autor, quase sempre se choca de modo violento com o esqueleto hierarquizante de nossa sociedade.

        Acredita-se que o "sabe com quem está falando?" delata a aversão do povo brasileiro ao conflito, traço de um povo extremamente preocupado com a hierarquia, com a autoridade, assim o uso da expressão causa vergonha, já que aponta irregularidades em um sistema que devia mover-se em perfeita harmonia, dominado pela totalidade.

        Assim, o autor procura, com o estudo realizado, descobrir uma espécie de paradoxo, buscar em uma sociedade voltada para o universal e o cordial, a descoberta do particular e do hierarquizado. E a descoberta ocorre em "condições peculiares": mesma havendo regras que negam o uso do "sabe com quem está falando", na prática seu uso é incitado.

TEORIA E PRÁTICA DO "SABE COM QUEM ESTÁ FALANDO?".

        Em um estudo realizado, os pesquisados afirmavam que haveria muitos momentos  em que a expressão em voga poderia ser utilizada, e ainda, alguns informantes afirmaram que se poderia especificar momentos em que a mesma seria alegórica, como quando a pessoa quer "sentir-se importante" ou mesmo para "mostrar a posição social". Isso aponta que seu uso está socialmente estabelecido, não sendo um mero modismo, os algo passageiro.

        De acordo com o autor a consciência de posição social dos pesquisados é tamanha que não restam dúvidas de que tos estão atualizando, em níveis diversos, os famosos ditados "um lugar para cada coida e cada coisa em seu lugar", "cada macaco no seu galho". Demonstrando, assim, uma grande inquietação com a posição social, e uma ampla consciência das regras no tocante à manutenção, perda ou ameaça dessa posição.

        O uso "sabe com quem está falando?" pode apresentar variações. De pronto acredita-se que a expressão seria utilizada em sua forma vertical, de cima para baixo. Então, quando perguntado para empregadas domésticas, serventes ou crianças sobre o uso do "sabe com quem está falando?", essas pessoas indicaram nem saber do que estava se tratando, diziam não conhecer a expressão.

        Tornando o estudo mais complexo, em muitos casos o "sabe com quem está falando" era utilizado por um "subalterno" contra outra pessoa qualquer, ou seja, tomando para si, como uma capa protetora, a projeção social do seu chefe. Como exemplos pode-se citar o motorista do Ministro, a empregada do General, etc.

        Explicita o autor que o poder desses usos e a familiaridade com essa forma de identificação social revelam seu impacto e a sua frequência no cenário brasileiro. Tanto que o povo já desenvolveu mecanismos para repelir, sancionar tal comportamento.

        Acredita-se que as pessoas que se utilizam do "sabe com quem está falando?", o fazem com intuito de se colocarem acima, diferenciarem-se das outras pessoas, estabelecendo, dessa forma, uma relação hierarquizada.

        Pode-se afirmar que o uso dessa expressão não é específico de uma única categoria, e sim pode ser utilizada por filhos, esposas, empregados. Assim, fica  demonstrado que a mesma é utilizada como forma de projeção social, na qual alguém que é "inferior" se utiliza da posição de seu "superior" para inferiorizar alguém, que na maioria da vezes seria considerado um igual.

        O "sabe com quem está falando?" chama atenção para o domínio das relações pessoais desvinculada de camadas ou posições econômicas, contrastando com o domínio das relações impessoais geradas pelas leis e regulamentos diversos. Todos podem fazer uso do "sabe com quem está falando?" ("o superior"), e também qualquer um está sujeito a ser "vítima" do seu uso ("o inferior"). Salienta-se que "a fórmula "sabe com quem está falando" é, assim, uma função da dimensão hierarquizadora e da patronagem que permeia nossas relações diferenciais e permite, em consequência, o estabelecimento de elos personalizados em atividades basicamente impessoais.

        A forma do "sabe com quem está falando?" pode ser substituída por um de seus equivalentes como: "Quem você pensa que é?", "Onde você pensa que está?", dentre tantas outras. Pode-se notar que todas essas expressões estão na forma interrogativa, evidentemente não cordial, que pode lembrar um inquérito. Há duas questões que se pode levantar sobre o assunto mencionado, a primeira é que o brasileiro não gosta de não saber algo, revelando sua possível ignorância frente a um determinado assunto, e ainda dentro deste mesmo pensamento, o brasileiro, desde sua infância, é ensinado a não fazer muitas perguntas, pois isso pode ser considerado indelicado ou um traço agressivo.

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