Sistema Constitucional Norte Americano
Por: dalex188 • 26/5/2016 • Projeto de pesquisa • 4.904 Palavras (20 Páginas) • 643 Visualizações
O SISTEMA CONSTITUCIONAL DOS EUA
O estudo do Direito constitucional norte-americano justifica-se fundamentalmente por causa do significado da sua experiência e por causa das aquisições e dos elementos novos que dela emergiram
- 1º Fenómeno descolonizador;
- 1ª Revolução vitoriosa que se revela também anticolonial
- 1º Grande Estado de tipo europeu formado fora da Europa
- 1º Estado federal da história;
- 1º Grande Estado republicano baseado na separação da Igreja e do Estado;
- 1ª e mais duradoura Constituição escrita, de base legal (modelada pela jurisprudência, em conexão com o controlo da constitucionalidade)
- 1º Sistema de governo presidencialista
Evolução histórica dos EUA:
- No séc. XVI dá-se a ocupação da faixa atlântica norte-americana por parte da Inglaterra.
Os colonos que foram para o “Novo Mundo” não eram um grupo homogéneo, pertencendo a uma variedade de diferentes grupos sociais e religiosos, que instalaram-se em diferentes partes da costa leste dos Estados Unidos. Os primeiros colonos eram “fugidos” a perseguições e guerras religiosas (que assolaram a Europa de 1525 a 1648). Este facto marca um certo puritanismo na política americana; por exemplo, é difícil e quase impensável um presidente ser agnóstico.[1]
- No séc. XVII já existiam colónias agrupadas:
- 8 royal colonies: administradas directamente pela Coroa
- 3 property colonies: administradas pelos donatários
- 2 corporate colonies: colónias livres, que não tinham um senhor, um monarca ou um líder. Estas, assim sendo, tinham mais liberdade e começaram a redigir textos fundamentais (embrião de constituições)
- Começaram a ser aprovados no parlamento inglês algumas leis:
- Sugar Act (1764) – significou o aumento das taxas sobre o açúcar
- Stamp Act (1765) - esta lei recaía sobre todos os documentos legais, licenças, contractos, periódicos, panfletos e cartas, e fazia chegar às colónias o sistema tributário inglês, aqui utilizado para fazer face aos custos da manutenção da defesa militar das colónias.
Ambas violavam o princípio de “no taxation without representation”. Apesar de terem sido aprovados pelo parlamento inglês, não tinham sido aprovados pelos colonos. Esta violação contribuiu para a revolta.
- Em 1773 dá-se um momento-chave, o Boston Tea Party, uma acção de protesto executada pelos colonos ingleses na América contra o governo britânico, no qual se lançaram três navios carregados de chá pertencentes à Companhia Britânica das Índias Orientais atirando-os às águas do Porto de Boston. Os elevados impostos aplicados em 1767 ao chá que chegava ao território americano foram o pretexto para o início da rebelião.
- Em 1774 é aprovado os “Actos Intoleráveis”, um conjunto de leis que imponham aos colonos obrigatoriedade de dar alojamento a tropas em movimento (era muito frequente as tropas andarem na rua e terem necessidade de alojamento). Este era um encargo demasiado repugnante para quem era sujeito.
- No mesmo ano, reúne-se o primeiro Congresso Continental, em Filadélfia, onde se elabora um conjunto de direitos das colónias. O nome do congresso transmite a ideia que há um continente, que existia um oceano a separar a “terra-mãe”
- Em 1775, como a primeira experiência foi positiva, reúne-se o segundo Congresso Continental, novamente em Filadélfia, numa época já de “guerra aberta” com a Inglaterra (1775-1781)
- Em 1776, o Congresso Continental convida cada uma das colónias autónomas a elaborar as suas próprias constituições.
Há sempre um momento de viragem. Na GB, foi a abertura do Magnum Consilium aos burgos.
- Em 4 de Julho de 1776 dá-se a Declaração de Independência, agora “Estados livres e soberanos”
- Em 1777 dá-se a criação de uma Confederação
Confederação | Federação |
Liga de amizade entre Estados. Não é um mero tratado bilateral, mas sim um conjunto de tratados de amizade. | Para além da liga de amizade, esses Estados decidem criar uma instituição superior, delegando poder na mesma (mas só aquilo que é delegado é que é tratado a nível federal; o restante é tratado a nível estadual). Há, assim, uma estrutura de coordenação acima dos Estados. Aqui, ao contrário da confederação, não é um tratado mas sim uma constituição que determina a distribuição orgânica de competências entre a federação e os Estados membros. |
[2]
- Em 1782 dá-se a paz com a Inglaterra.
- Como a experiência da confederação foi positiva, convidaram mais 5 Estados que, em 1786, começam a formar um “núcleo duro” de um Estado federal. Havia interesse em rumar para uma federação.[3]
[pic 1]
Em 1787, a Confederação de Filadélfia aprova a Constituição[4], que funda a federação.[5]
“Nós, o povo dos Estados Unidos, em ordem a formar uma mais perfeita união, estabelecer a justiça, assegurar a tranquilidade interna, prover à defesa comum, promover o bem geral, conservar para a nossa posteridade os benefícios da liberdade, decretamos e confirmamos esta Constituição para os Estados Unidos da América.” Preâmbulo da Constituição de 1787
O Direito Constitucional dos EUA brota do sistema jurídico inglês e do pensamento político do século XVIII, postos perante as condições peculiares da América do Norte.[pic 2]
- A Constituição tem, assim, influência:[6]
- (1) De Locke: ideia de propriedade privada, uma emanação da ideia de liberdade
- (2) De Montesquieu: ideia de separação de poderes
- Dos “Founding Fathers”: entre eles, Benjamin Franklin, George Washington, John Adams, Thomas Jefferson, Hamilton, entre outros: a sua preocupação foi sobretudo que os poderes políticos não oprimissem ou limitassem a liberdade dos cidadãos e que, esses mesmos poderes, colocados a funcionar, permitissem governar com eficácia o novo Estado.
- Das Constituições outorgadas pela Coroa às treze colónias
- Dos grandes princípios de Direito público: como o de “no taxation without representation” (cujo desrespeito desencadearia a revolta)
- Do commonlaw, com o importantíssimo papel do juiz (grande parte das disposições que formam o constitucionalismo norte-americano estão ainda contidas em leis ordinárias, em precedentes estabelecidos pelo executivo, em decisões judiciais e em costumes, bem como nas Constituições dos Estados Federados.
- (1) Está presente a ideia de liberdade individual, religiosa[7], de expressão, de porte de armas. Muitas destas ideias devem-se ao facto de muitos dos colonos terem sido perseguidos pelas suas convicções (a vários níveis). A ideia de porte de armas está relacionado ao facto de se terem que defender dos índios e o facto de se manter inalterado está, também, ligado a uma identidade securitária, de cada um garantir a sua própria defesa.
Existem dois direitos fundamentais, embora os autores da Constituição não tenham feito uma enunciação dos direitos e liberdades individuais [Direitos e liberdades clássicos][8]:
- Direito a um processo devido, justo e equitativo (“due processo of law”)
- Princípio de igualdade perante a lei: as leis devem proteger igualmente os cidadãos[9]
- (2) A Constituição assenta na separação orgânica, tão rígida quanto possível, do poder legislativo, do poder executivo e do poder judicial.
Constituição norte-americana | |
Artigo 1º | Todos os poderes legislativos são entregues ao Congresso, composto pelo Senado e pela Câmara dos Representantes |
Artigo 2º | O poder executivo será entregue a um presidente dos EUA ou da União |
Artigo 3º | O poder judicial será entregue aos tribunais, sendo o Supremo Tribunal Federal o mais importante |
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