Trechos do livro “Contra Perfeição” de Michael J Sandel comentados
Por: lunies • 3/10/2016 • Trabalho acadêmico • 1.913 Palavras (8 Páginas) • 681 Visualizações
[pic 1] CONTRA PERFEIÇÃO Ética e Cidadania I | RESUMO Trechos do livro “Contra Perfeição” de Michael J Sandel comentados. Gabriella Oliveira Direito 1A – Manhã Mackenzie Rio |
“Será errado ter um filho surdo de propósito? Se sim, o que torna isso errado — a surdez ou o propósito? Suponhamos, a título de argumentação, que a surdez não seja uma deficiência, e sim um traço distinto de identidade. Ainda assim, haveria algo de errado na ideia de os pais escolherem o tipo de filho que desejam ter? Ou será que isso já é o que os pais fazem o tempo inteiro, ao escolherem seu parceiro e, nos dias de hoje, ao se valerem das modernas técnicas de reprodução humana?” (Sandel, 2015, p. 11)
Logo no início de seu livro, Michael J Sandel cita a história de um casal de lésbicas americanas com deficiência auditiva que procuram um doador de espermatozoides cujo seja surdo, a fim de que seu filho venha a nascer com as mesmas circunstancias auditivas que elas: a surdez (e conseguiram, seu filho Gauvin nasceu surdo). Entretanto a história do casal, tomou proporções maiores do que as esperadas e com tamanha especulação sobre a escolha das novas mães, amplas críticas começaram a parecer, principalmente a que as duas teriam infligido uma deficiência em seu próprio filho. Com isso, cheguei ao pensamento de que: Embora tenha sido imposta a criança, antes mesmo de nascer, que ela fosse deficiente pela sua vida toda, ao se valerem das modernidades técnicas, como assim chamadas pelo autor, muitos casais, sejam homossexuais ou não, infligem aos filhos que ainda nem nasceram certas características, assim como o caso dessas duas mães. Então, por que a imposição da surdez em um ser humano causa maior comoção social e da mídia do que uma imposição de Q.I ou características físicas, como olhos azuis e cabelos loiros por exemplo? Eu respondo: Diferentemente de olhos azuis, alto Q.I ou cabelos loiros, que são bem aceitos e vistos como ótimas qualidades na sociedade atual, a surdez não é aceita por todos com a mesma facilidade, muito menos é vista como uma qualidade e sim como uma deficiência que no mundo de hoje pode até te impedir de conseguir atingir certos níveis em uma vida profissional, por exemplo.
Logo, a escolha feita por elas foi baseada na realidade que elas vivem e com isso vem a tona a normalidade da surdez, não como um empecilho mas sim apenas uma característica (como cabelos loiros ou olhos azuis) e, mesmo que incapaz de fazer uma escolha igual a delas, não as julgo como monstros ou como se tivessem tido uma conduta errada, afinal: é apenas uma característica humana. Se a ideia de escolher tipos de filho é bem aceita pela sociedade, mesmo que fora desses padrões característicos, elas estão no direito delas e a idéia da “imposição genética” se desfaz ao se pensar, em modos naturais de fecundação, ninguém é capaz de escolher sua herança genética.
“Embora haja muito o que dizer a esse respeito, não acredito que o principal
problema das terapias de melhoramento e da engenharia genética seja o fato de minarem a importância do esforço e diminuírem o papel do ser humano.1 O problema mais profundo é que elas representam uma espécie de superoperação, uma aspiração prometeica de remodelar a natureza, incluindo a natureza humana, para servir a nossos propósitos e satisfazer nossos desejos. O problema não é o desvio para o mecanismo, e sim o impulso à maestria, ao domínio. E o que esse impulso à maestria desconsidera, e pode até mesmo destruir, é a valorização do caráter de dádiva que existe nas potências e
conquistas humanas.” (Sandel, 2015, p. 27)
Assim como dito pelo autor reconhecer o aspecto de dádiva da vida é reconhecer que nossos talentos e nossas potências não são mérito unicamente nosso; não são sequer completamente nossos, apesar de todos os nossos esforços para desenvolvê-los e exercitá-los. É também reconhecer que nem tudo no mundo está aberto a qualquer tipo de uso que possamos desejar ou imaginar. Fazendo assim, os indivíduos serem capazes de lutar e se esforçar por cada almejo próprio e assim traçar um projeto de vida, em que suas conquistas e a trajetória até elas sejam parte de sua história e legado.
“Algumas pessoas argumentam que na obrigação de um pai de curar um filho doente está implícita a de melhorar um filho saudável, de maximizar seu potencial para que ele alcance o sucesso na vida. Contudo isso somente é verdadeiro se aceitarmos a ideia utilitária de que a saúde não é um bem humano distintivo, e sim apenas um meio de maximizar nossa felicidade e nosso bem-estar. O bioeticista Julian Savulescu argumenta, por exemplo, que “a saúde não tem valor intrínseco”, apenas “valor instrumental”, é um “recurso” que nos permite fazer o que desejamos. Esse tipo de pensamento em relação à saúde rejeita a distinção entre cura e melhoramento. De acordo com Savulescu, os pais não apenas têm o dever de promover a saúde dos filhos como também a “obrigação moral de modificá-los geneticamente”. Os pais deveriam utilizar a tecnologia para manipular a “memória, o temperamento, a paciência, a empatia, o senso de humor, o otimismo” e outras características dos filhos, a fim de lhes dar “a melhor oportunidade de ter uma vida melhor”. ” (Sandel, 2015, p. 39)
Assim como o autor diz, eu concordo que é um erro pensar na saúde em termos exclusivamente instrumentais, como um meio de maximizar alguma outra coisa. A boa saúde, assim como o bom caráter, é um elemento constitutivo do florescimento humano. E mais, procurar e zelar pela saúde dos filhos deve ser o dever de todos os pais. Não por questões de melhoramento e aperfeiçoamento meramente instrumentais, mas por questões de amor e zelo pela vida humana. Até porque a garantia da vida é um direito fundamental e só pode ser concretizada através de condutas negativas do Estado (em que há a proibição de certas ações estatais para garantir a vida, como por exemplo a pena de morte) ou conduta positivas, necessitando assim de certas ações que venham a promover cada indivíduo a cuidar de si e dos próximos, como as campanhas contra à água parada no quintal para evitar uma epidemia de dengue por exemplo e até mesmo campanhas de vacinação, tendo sempre em vista a garantia da boa saúde e do funcionamento do corpo como um todo, sem qualquer interesse a mais.
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