A CRISE DO BALANÇO DE PAGAMENTOS E A DESVALORIZAÇÃO CAMBIAL
Por: dfcastel • 15/5/2018 • Trabalho acadêmico • 1.850 Palavras (8 Páginas) • 375 Visualizações
1. A CRISE DO BALANÇO DE PAGAMENTOS E A DESVALORIZAÇÃO CAMBIAL
Nossa análise se inicia no ano de 1994, onde podemos destacar, com o auxílio das entrevistas,
efeitos das políticas monetárias e cambiais da época.
Inicialmente cabe lembrar que a economia passava, desde os anos 1990, por uma maior
abertura comercial. Esta abertura foi clara durante o primeiro governo FHC, onde no decorrer
da execução do Plano Real ocorre uma maior desnacionalização dos setores bancário, elétrico,
de telecomunicação, entre outros.
Retornando às políticas previamente citadas, no âmbito cambial a solução vinda com o Plano
Real foi uma política estabilizatória, com o advento da âncora cambial. Esta buscava manter a
paridade Real-Dólar 1 para 1, ou com pequenas variações. É interessante destacar a visão de
um de nossos entrevistados sobre este ponto. Marcos Moukin, que trabalhava na época como
cirurgião dentista, destaca a influência negativa desta paridade tendo em vista a cidade onde
morava. A cidade em questão é Americana, um pólo têxtil no estado de SP, que com esta
paridade cambial e com o auxílio da abertura comercial, a cidade sofreu com a entrada de
tecidos coreanos e chineses. Aqui podemos observar os efeitos que uma variação nos produtos
treadeables pode causar em produtos non-tradeables, como os serviços oferecidos por Marcos.
O entrevistado destaca que no ano de 1996 foi necessário buscar emprego em outras regiões,
já que a venda se seu serviço estava afetada pela queda no rendimento da cidade com as
demissões na indústria têxtil local. Podemos ver claramente os efeitos da política cambial em
variáveis como emprego e renda. Destacamos também o fator da desindustrialização,
discutida por muitos economistas, onde esta entrada maior de produtos estrangeiros ajudou a
gerar um “gargalo” na oferta nacional destes bens.
Daremos foco também à política monetária vinda em conjunto ao Plano Real. Política esta
baseada em altíssimas taxas de juros. Esta taxa seria utilizada para diversos fins, entre eles
estavam uma maior atração de capitais externos (mesmo em um momento delicado para isso),
controle da inflação de demanda e, como consequência, permitir a manutenção da política
cambial.
Destacaremos também as situações relacionadas ao contexto internacional. Este será abordado
mais detalhadamente a frente, porém deixamos exposto que este era desfavorável para países
em desenvolvimento na época. Esta característica foi destacada por um dos entrevistados, o
Prof. Dr. Elton Eustáquio Casagrande. O professor destaca a influência das crises no México
em 1995, na Rússia e nos países asiáticos em 1997, no cenário de confiança da época.
Outro ponto que destacaremos no artigo e que foi lembrado pelo professor é quanto ao acordo
com o FMI em 1998. O entrevistado destaca que esta ida foi crucial para “fechar a conta” do
balanço de pagamentos e poder manter os gastos necessários para continuidade das políticas
do Plano Real. O professor vê neste ponto também uma ótica monetária da crise (através dos
balanços de pagamentos e de capitais), diferindo de crises como a de 2008 onde vemos um
predomínio da ótica financeira.
1.1. O CONTEXTO POLÍTICO E O ACORDO COM O FMI
As eleições presidenciais de 1998 foram marcadas por diversos desafios políticos e
econômicos. No que tange aos aspectos econômicos, um quadro extremamente adverso nas
contas externas levou o país a negociar um acordo com o FMI (Fundo Monetário
Internacional).
Havia um forte esgotamento da postura ativa do resto do mundo em continuar a financiar
déficits em conta corrente da magnitude de US$ 30 bilhões. Além disso, tal situação estava
gerando uma fuga de capitais, pois surgia o temor de uma desvalorização que romperia com a
âncora cambial vigente desde o Plano Real. (GIAMBIAGI, 2011).
Um estímulo à troca de reais por dólares foi uma consequência das expectativas desfavoráveis
quanto à moeda nacional. O governo foi ficando sem alternativas, haja vista que havia
divergências quanto à desvalorização, bem como era nítida a rejeição de diversos setores em
relação às possíveis contrapartidas exigidas pelo FMI.
1.2. AS DIVERGÊNCIAS QUANTO AOS EFEITOS DAS POLÍTICAS
MACROECONÔMICAS
O novo modelo de política econômica, estruturado após a introdução do Plano Real, exigia
um grande esforço por parte da política monetária e cambial em garantir uma paridade Dólar-
Real, como caminho para combater um processo de inflação que perdurava na economia
Brasileira, principalmente após os anos 80.
A reforma monetária se sustentava em um cenário de abertura comercial e financeira e de uma
“herança positiva” do governo Collor, em relação aos índices econômicos,
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