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A tolice da inteligência brasileira

Por:   •  4/5/2018  •  Dissertação  •  1.487 Palavras (6 Páginas)  •  246 Visualizações

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SOUZA, Jessé. A tolice da inteligência brasileira: Ou como o país se deixa manipular pela elite: As manifestações de junho e a cegueira política das classes. Capitulo 2. São Paulo: LeYa, 2015, 239-252p.

RESENHA CRÍTICA

Ana Paula Queiroz dos Santos

A tolice da inteligência brasileira: ou como o país se deixa manipular pela elite é uma obra de Jessé de Souza, professor, pesquisador, sociólogo e ex-presidente do Instituto de Pesquisa Econômica (IPEA). Nela, o autor elabora uma síntese para a compreensão da dinâmica social, atualmente no Brasil.

O culturalismo conservador, nos impede de ter uma percepção lógica da política brasileira. Sendo assim, para Jessé Souza a luta de classes vai além do que prega o marxismo ortodoxo¬ (que do ponto de vista historiográfico tudo é explicado pelo fator econômico).

Dessa forma, o autor exemplifica tomando por base metodológica as manifestações de junho de 2013, conhecida como “primavera brasileira”, em que foram constituídos dois personagens imaginários na trama real: o “vilão” e o “mocinho" figurados respectivamente entre “ Estado e sociedade.” Portanto, temas como mobilidade urbana, melhorias na educação e saúde, como também os preços das passagens dos transportes públicos foram os ápices dos protestos. Mas o que esse movimento popular desrespeita ao conservadorismo cultural da elite brasileira?

Para essa resposta é preciso entender os principais componentes desse enredo, daí entra a classe média. A primavera brasileira começou basicamente com a classe trabalhadora subalterna e estudantes, mas só conseguiu dimensão nacional quando a classe média se propôs a ser o personagem principal do movimento.

Entretanto, Jessé de Souza, faz questão de sintetizar o que é a classe média para então entender o seu papel no movimento. Semelhantemente aos países de primeiro mundo, a classe média constitui-se do capital cultural, norteando sua percepção na meritocracia, ou seja, tudo é conquistado de acordo o esforço. Grosso modo, culturalmente ocorre a fundamentação escolar voltado à profissionalização.

No Brasil, conforme o autor, existe uma singularidade quanto à classe média. Enquanto no continente europeu as conquistas sociais foram promovidas pelas classes subalternas, aqui a classe média “respira” como uma agente provocadora de mudança. Daí o seu protagonismo na primavera brasileira: como lutar por conquistas sociais distantes de suas realidades, sendo que devido ao capitalismo impregnado em nossas raízes geramos o individualismo em detrimento do coletivo? Ou seja, segundo a teoria durkheimiana, ocorre uma diminuição da solidariedade mecânica em detrimento da solidariedade orgânica (ARON, 2002).²

“Uma mentira repetida mil vezes torna-se verdade” segundo Joseph Goebbels. Não levando em consideração sua abstração física do seu tempo, essa afirmação é uma verdadeira realidade para explicar fatos do presente. É dessa maneira que a dominação social perpetua-se, isto é, assim como a classe média justifica seus privilégios através da meritocracia, também a sociedade contemporânea barganhada pela elite dominadora cria “mitos” como à do “vilão” e a do “mocinho” para fundamentar sua soberania.

Sendo assim, a mentira idealizada para o conservadorismo cultural elitista é a atribuição exclusivamente culposa ao Estado para os problemas sociais. A articulação idealizada é possível a partir de um engajamento de intelectuais, que difundem no imaginário social. Desse modo, Jessé de Souza cita as obras de Raymundo Faoro (Os donos do poder) e Sergio Buarque em que a demonização do estado é feita “indiretamente” por eles, ou seja, o mercado possui seus méritos, grandezas e equidade, enquanto o Estado é apresentado ou descrito como um mau-necessário.

Portanto, o Estado foi criado para defender os interesses do mercado. Pensar no Estado como sendo livre, autônomo e independente é tolice. Mercado e Estado constituem uma aliança, ou seja, este (o Estado) depende das receitas fiscais, enquanto àquele (burguesia) necessita da Justiça criada pela estatal para repressão de quem não cumprir os contratos válidos (mercado em si).

À vista disso, Karl Marx em 1848 na obra O Manifesto Comunista³ descreve “o Estado é o comitê executivo da burguesia”. Consequentemente, para Jessé de Souza, a vontade das classes dominadoras é que tudo fique à deriva do lucro. Com isso, a política do liberalismo é fomentada a fim de que Estado ganhe financeiramente. Por isso, cria-se o “mito” do mercado com suas virtudes e a demonização da Estatal, pois é mais conveniente para um Estado neoliberal que se estude na escola privada, em detrimento do público. Isso reflete diretamente no PIB (Produto interno Bruto), por essa razão que se defende o enxugamento da malha pública ficando a população voltada ao setor privado.

No entanto, a partir desse pensamento neoliberal os problemas sociais acabam sendo justificados de forma economicista, deixando de lado os aspectos sociais e políticos, conforme explicitado por Souza, (2009, p.16):

“(...) A crença fundamental do economicismo é a percepção da sociedade como sendo composta por um conjunto de homo economicus, ou seja, agentes racionais que calculam suas chances relativas na luta social por recursos escassos, com as mesmas disposições de comportamento e a mesmas capacidades de disciplina, autocontrole e auto responsabilidade.”

A classe média que foi às ruas na primavera brasileira em busca de melhorias oriundas das camadas populares, na verdade serviu de escudo para as classes dominadoras. A idealização de um Estado corrupto ajuda também manter seus privilégios, pois a mesma explora parte da classe dos excluídos, a fim de terem tempo para absorção de conhecimento contribuindo então para a reprodução da miséria. Como pode ser revolucionária ou pousar para

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