Capitulo 4 de desenvolvimento e subdesenvolvimento - celso fortado
Por: Aleaguia • 21/10/2015 • Resenha • 2.004 Palavras (9 Páginas) • 2.064 Visualizações
Em sua obra intitulada desenvolvimento e subdesenvolvimento, mais especificamente no capitulo quatro, o Celso Furtado busca identificar os elementos de uma teoria do subdesenvolvimento. O autor explica que a teoria do desenvolvimento sob a perspectiva ocidental é limitada pelo fato de concentrar-se nas variáveis externas de uma determinada estrutura econômica, e desconsiderar a dimensão histórica. Segundo Furtado, distintos sistemas econômicos coexistentes em um dado momento histórico, não podem estar limitados por um modelo abstrato de desenvolvimento. Esse modelo abstrato ao qual ele se refere é a revolução industrial. Ele compara a importância da revolução industrial no século XVIII às grandes descobertas como a roda e o fogo, exatamente pelo tamanho do impacto ocorrido na economia mundial da época.
Em momento anterior a Revolução industrial, o aumento que resultava da produtividade contribuía especificamente para a concentração do capital pela classe dirigente comercial. A classe comercial é que impulsionava o desenvolvimento. A acumulação de capital não resultava em desenvolvimento tecnológico da produção. O desenvolvimento era pensado em termos de ampliação das unidades produtivas com novas frentes de trabalho e a eliminação da concorrência.
As transformações advindas com a industrialização da economia se originaram em primeiro lugar no interior do sistema econômico com o avanço tecnológico. Houve uma conexão clara entre a formação do capital e o avanço da ciência e tecnologia.
Havia uma diferença substancial de ajustamento entre a economia pré-industrial e a industrial no que diz respeito ao lucro. Na economia pré-industrial o lucro era obtido dentro do próprio sistema, na economia industrial o lucro estava relacionado ao intercambio externo. O lucro industrial estava diretamente relacionado à venda do produto, ou seja, só existia quando o produto chegasse ao seu consumidor final. Enquanto que o lucro antes do advento da industrialização, poderia ser auferido no excedente de produção, no estoque de moedas e na redução das compras, caso o comerciante não vendesse e o estoque aumentasse. Antes de haver qualquer lucro com a venda do produto já existem os gastos com os fatores de produção. Como já houve despesas com os fatores de produção, caso o produtor não venda e aumente seus estoques terá que abaixar o preço da mercadoria se não quiser arcar com os prejuízos.
Em meio a grande concorrência devido a elasticidade de preços, o empresário industrial precisava oferecer suas mercadorias a um preço inferior para se manter no mercado. Para isso, o empresário necessitava diminuir custos, e dessa necessidade surge a interação dos processos de produção e a ciência experimental para alcançar tal objetivo.
Com o desenvolvimento primordialmente baseado na diminuição dos custos de produção e principalmente na oferta, a velha estrutura de base artesanal foi destruída. Não haveria como essa antiga estrutura prevalecer com os preços praticados no mercado. A concorrência se tornará desigual. A renda era menor que as ofertas de produtos, porem o aumento da produção mantinha a lucratividade. Isso ocorria, pelo fato de haver um constante aumento da mão de obra, evitando assim a transferência de maior parcela do lucro aos consumidores através de um possível aumento de salários. Com o aumento da produtividade e do consumo e consequentemente dos lucros por parte dos empresários, houve maior procura por bens de capitais. Aumentaram-se consideravelmente os investimentos no setor de bens de capitais, por causa da alta rentabilidade por consequência da lentidão no aumento da produtividade física nesse setor. Se a produtividade no setor de bens e serviços não aumentava, a concorrência era menos acirrada e não havia porque diminuir os preços nesse seguimento.
Devido ao aumento da produtividade no setor de bens e serviços, houve uma transferência de mão de obra para o setor de bens de capital, que por sua vez resultou em mais consumidores em busca de bens de consumo. É possível concluir que, a oferta de bens de consumo gerou também a demanda por eles, intermediada pelo crescimento nos investimentos no setor de bens de capitais, que precisou cooptar mão de obra que por sua vez demandará por mais bens e serviços.
Segundo Furtado, na segunda metade do século XVIII os custos de produção se configurava como o problema mais importante no campo econômico. Os processos técnicos estavam adiantados viabilizando o crescimento econômico através do incremento da produção. Porém, as condições econômicas continuavam a ser o carro chefe do desenvolvimento, direcionando o aparato tecnológico de acordo com a decisão dos industriais.
Na primeira fase do desenvolvimento, a mão de obra não especializada recebia um salário de sobrevivência, devido a desarticulação do artesanato e o aumento da mão de obra em áreas urbanas. Definitivamente o que se percebe é que as inovações tecnológicas estavam intrinsecamente ligadas as questões econômicas, permitindo a redução no custo unitário das mercadorias por meio do aumento do processo produtivo. Porém, para que esse processo se intensificasse era necessário que houvesse o aumento da produção de bens de capital, que foi considerado por Furtado o real limitador do processo de desenvolvimento industrial. Não havia no setor de bens de capital, a preocupação de reduzir o custo da produção como houve no setor de bens e serviços.
A produção de bens de capitais determinava o ritmo de crescimento econômico. A participação da indústria de bens de capital na produção global é diretamente proporcional a participação dos lucros por parte dos industriais na renda total. A produção de bens de consumo e de bens de capitais são complementares. A redução relativa de um setor, implica no aumento relativo do outro setor, baseado na transição da mão de obra de um setor produtivo para o outro, que por sua vez resulta na relação entre a oferta e a demanda. No final da primeira fase do desenvolvimento a mão de obra assalariada diminuiu e consequentemente aumentou seu poder de barganha. Nesse período principalmente a Inglaterra, precisou exportar bens de capital para manter esse setor. Se não houvesse feito isso, teria de transferir sua mão de obra para o setor de bens de consumo, o que ocasionaria uma redistribuição da renda em benefício da classe trabalhadora, desaceleração do crescimento e queda do lucro. Se a Inglaterra continuasse nesse ciclo a morte seria inevitável. Foi preciso então liberar sua economia e expandi-la para sua própria sobrevivência.
Se na primeira fase do desenvolvimento das economias industriais o fator mais importante foi o incremento técnico do processo produtivo, devido a elasticidade na mão de obra, na segunda fase essa elasticidade havia sido reduzida e a ênfase recai sobre o desequilíbrio entre a capacidade de produção de bens de capital e sua absorção. Mais oferta de bens de capital e menos trabalho, resultaria em uma forte pressão para uma redistribuição de renda entre os trabalhadores, queda dos lucros e como consequência desemprego temporário. A solução seria aumentar a elasticidade da mão de obra, ou reduzir a produção de bens de capital redistribuindo a renda a favor dos grupos assalariados. As economias capitalistas solucionaram esse impasse exportando bens de capitais, e isso marcou a transição da primeira fase para a segunda fase do desenvolvimento.
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