Crise de 29 Ponto de Vista Libertário
Por: Paulo Moreira • 9/3/2019 • Tese • 2.189 Palavras (9 Páginas) • 120 Visualizações
A depressão já esquecida
No ano de 1921, houve uma profunda depressão na economia americana. O desemprego saltou de 5 para quase 12%. A economia se contraiu em incríveis 17% e os preços desabaram mais de 10%.
O que fez o governo americano à época, liderado pelo presidente Warren G. Harding?
De um lado, ele permitiu que os salários caíssem livremente, de modo a acompanharem os preços em queda. Isso fez com que os custos de produção das empresas rapidamente se estabilizassem. Harding, ao contrário dos presidentes de hoje, em momento algum disse que a queda dos salários seria ruim para a economia.
De outro, ele cortou profundamente os gastos do governo (em incríveis 50%), diminuiu o imposto de renda para todas as classes sociais e, de quebra, ainda reduziu a dívida do governo americano em 33%.
Por sua vez, o Federal Reserve, o Banco Central americano, nenhuma iniciativa tomou para contrabalançar a crise. Quando ele reduziu os juros de 6% para 5%, a depressão já havia acabado.
A liberdade de ajuste de preços e salários, em conjunto com a redução do fardo do estado sobre a economia privada, fez com que aquela profunda depressão de 1921 estivesse já totalmente superada em 1923.
Hoje, são raros os livros de história que sequer a mencionam. É como se ela não houvesse existido. O fato de o governo americano nada ter feito para contrabalançá-la, e por isso mesmo ela ter sido rapidamente solucionada pelo livre mercado, certamente é algo que abala a crença dos intervencionistas. Por isso mesmo sua diligência em escondê-la. Pode-se dizer que a depressão de 1921 foi a última na qual um governo não se intrometeu. Por isso mesmo, foi também a mais rápida.
Para quebrar esse silêncio, o economista James Grant, um dos mais respeitados economistas dos EUA e do mundo, escreveu um livro inteiro dedicado a esse assunto.
A robusta recuperação da economia americana em 1923 deu início aquele período de prosperidade que se tornou conhecido como "os loucos anos 20".
Mas aí a história foi diferente.
Os "loucos anos 20"
Durante o resto da década 1920, o Banco Central americano reverteu sua postura até então conservadora e adotou uma política monetária muito mais expansionista: em 1920, os juros estavam em 6% ao ano. Ao final de 1927, eles já haviam caído para 3,5%. Uma redução de 42%.
Essa política monetária expansionista foi a principal responsável por sustentar a febre especulativa dos "loucos anos 20". A contínua criação de dinheiro pelo Federal Reserve permitia que os bancos concedessem, de forma contínua e aparentemente sem limites, empréstimos fartos e baratos para especuladores, os quais utilizavam esse dinheiro barato para comprar ações e, em seguida, revendê-las a preços muito maiores. A expansão monetária feita pelo Fed garantia que os preços das ações subissem continuamente.
Vale ressaltar que é impossível preços de ativos subirem continuamente sem que esteja havendo uma grande expansão monetária, que dê sustentação a esse processo de alta nos preços. Sem expansão monetária é impossível preços subirem eternamente. E quem controla o processo de expansão monetária de um país é o seu Banco Central.
E assim foram os loucos anos 1920.
Até que, em fevereiro de 1928, o Fed, assustado com toda aquela febre especulativa, reverteu sua postura e, contrariamente às expectativas, começou a subir os juros. E o fez por três vezes seguidas. Em um período de 5 meses, ele elevou os juros de 3,50% para 5%. Pode parecer pouco, mas esse aumento de 43% em 5 meses bastou para interromper toda a farra especulativa.
Com o crédito mais caro, os especuladores começaram a ter dificuldades em auferir lucros em suas ações. Pegar dinheiro emprestado para comprar ações (um processo conhecido como "alavancagem") tornou-se 43% mais caro em 5 meses. Com menos empréstimos sendo tomados, a quantidade de dinheiro na economia parou de aumentar. Com essa interrupção no crescimento da quantidade de dinheiro na economia, a própria atividade especulativa perdeu a potência. Os preços das ações pararam de subir.
Uma correção na bolsa de valores era inevitável.
O empurrão
E essa correção veio, mas de uma maneira inusitada.
No dia 29 de outubro de 1929, já com praticamente toda a atividade especulativa paralisada, a bolsa de valores americana desabou 12% em um único dia. Esse fenômeno, que ficou conhecido como a "terça-feira negra", é do conhecimento de todos. Mas o que não é muito bem conhecido é o que realmente precipitou essa correção tão súbita e tão substantiva.
Sim, a política monetária do Fed, que subitamente reverteu quase uma década de expansão monetária e dinheiro barato, criou as bases para que essa correção ocorresse, mas houve um outro detalhe: a história já revelou que, naquele dia 29 de outubro, correu a notícia de que o então presidente Herbert Hoover iria implantar a Tarifa Smoot-Hawley, que elevaria as tarifas de importação de mais de 20 mil produtos a níveis jamais vistos na história. Alem de encarecer substantivamente as importações, isso geraria uma guerra comercial e representaria um golpe fatal ao livre comércio.
Imediatamente os preços das ações das empresas desabaram.
Sobre essa tarifa, Thomas Lamont, alto executivo do J.P. Morgan, disse que "Eu quase me prostrei de joelhos perante Hoover para implorar que ele vetasse a asinina tarifa Smoot-Hawley". Já o presidente da GM européia, Graeme K. Howard, enviou um telegrama a Washington alertando que a aprovação da Smoot-Hawley levaria "à mais severa depressão jamais vivenciada pelo mundo".
Os mercados nunca precificam o presente; eles sempre miram o futuro. Os preços presentes são apenas os preços futuros descontados. Uma legislação criada para reduzir o comércio global inevitavelmente afetaria os mercados e os preços das ações das empresas. Com um comércio global muito mais restringido, os lucros das empresas exportadoras e importadoras seriam severamente afetados. A Bolsa de Valores apenas antecipou essa queda.
Uma queda na Bolsa gera uma depressão de 15 anos?
Até aqui a narrativa é bastante convencional. Quedas abruptas e inesperadas na Bolsa de Valores estão longe de ser um fato atípico. Isso já havia acontecido em 1920. E voltaria a acontecer novamente em 1987, uma queda, aliás, muito maior, de 22%.
Por que nenhuma dessas duas quedas gerou uma grande depressão? Por que apenas a queda de 1929 teve esse potencial?
Essa é a pergunta que tem de ser respondida.
Para isso, entra em cena Herbert Hoover.
Pesquisas históricas conduzidas sem paixões ideológicas e sem panfletagens políticas revelam o básico: Herbert Hoover sempre fora um político incessantemente intervencionista.
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