El Corte Inglês Boavista
Por: maria30faup • 27/9/2023 • Trabalho acadêmico • 1.185 Palavras (5 Páginas) • 84 Visualizações
El Corte Inglés na Boavista
No ano de 2000 começou-se a pôr a hipótese de fazer um projeto que trouxesse para a Boavista um novo centro comercial, pertencente ao grupo espanhol El Corte Inglés. No entanto, durante quase duas décadas este projeto não passou de uma mera eventualidade visto que nunca foi discutido nada em concreto. O grupo espanhol mostrou-se interessado em construir no terreno pertencente à antiga estação ferroviária da Boavista, esta que para muitos é vista como uma peça importante de história visto que foi a primeira estação no município do Porto, inaugurada em 1875, que posteriormente entrou em declínio por diversos motivos, sendo alguns desses fatores a distância ao centro da cidade e a abertura da estação de metro da trindade. Em 2001, fechou na sequência da integração das linhas ferroviárias na rede do Metro do Porto.
Quando a câmara municipal do Porto considerou aceitar a proposta de construir mais um edificado para uma grande superfície comercial, surgiram várias manifestações e petições que mostravam o desagrado e incômodo principalmente dos residentes mais antigos da Boavista. Em 2019 foi criada uma petição com mais de 4 milhares de signatários contra a demolição da estação e utilização do terreno para fins comerciais e habitacionais, meses depois também 60 personalidades ligadas ao património ferroviário pediram a classificação da estação, defendendo a importância da sua preservação. Outras petições feitas à priori da aprovação do projeto defendiam a necessidade de mais espaços verdes para esta zona.
A manifestação do desagrado comum não foi ouvida, sendo que em 2020 a Câmara Municipal do Porto aprovou o PIP (pedido de informação prévia) para o avanço do projeto. O Presidente Rui Moreira respondeu aos manifestantes informando que o grupo espanhol já tinha dado entrada de vários milhões e por isso seria impossível para a Câmara Municipal do Porto travar a concretização do projeto por falta de meios. Com a autarquia e o Estado a colocar de lado a hipótese de travar a construção deste projeto de grande peso na cidade do Porto, fica também distante a possibilidade de nascer neste terreno um novo jardim público, alternativa que foi pedida por um grupo de cidadãos residentes de cidade do porto, proposta esta que ainda foi apresentada por Rui Moreira em 2013.
O projeto multifuncional consiste na construção dividida em três lotes, um dos quais será destinado ao novo centro comercial do Porto. Os dois restantes lotes serão vendidos a entidades privadas, "destinando-se a aproveitamento imobiliário e habitação”. O primeiro lote possui uma área total de 20.686 metros quadrados, pelo qual o El Corte Inglés pagará 29.5 milhões de euros, tendo já sido pago mais de metade desse valor. Apesar de ainda não haver um projeto autorizado para esta edificação já são claras algumas das suas consequências, estas terão determinados impactos no dia a dia dos moradores, alguns positivos outros negativos.
Apesar de haver outras condicionantes para o avanço deste projeto, como por exemplo a crise de saúde que afetou o mundo inteiro. O covid parou todos os avanços que estavam a decorrer fazendo com que as cidades se tivessem de adaptar a uma nova forma de viver. No artigo “Building back? Richard Florida outlines his vision for “Post-pandemic city”” Florida analisa como será a evolução das cidades daqui para a frente, pois as necessidades das pessoas já não são as mesmas, muitas trabalham, fazem as compras, entre outras coisas a partir de casa, por isso é preciso adaptar as cidades para tais mudanças. Desta forma os central business districts (CBD’s), que no caso do Porto sendo uma cidade policêntrica são variados e diferentes existindo mais que um como é o exemplo da Boavista, serão frequentados por gerações mais jovens que se deslocam cada vez mais de bicicleta ou a pé, e sendo estas o futuro dos tradicionais escritórios é preciso adaptar o ambiente envolvente para o maior conforto dos mesmos, para isso a criação de espaços exteriores, para trabalho, promover a colaboração, lazer, refeições e comércio, a fim de tornar a cidade num foco aprazível a gerações mais novas. Os CBD’s estão a tornar-se cada vez mais misturados com zonas de habitação, sendo isto uma vantagem, mas também uma obrigação para a adaptação das cidades, “The old CBD is dying and from the ashes another one is built”.[1]
Verificamos que este projeto choca em termos de vantagens e desvantagens, criando assim muitas opiniões controversas do que seria um impacto positivo em diversos fatores, ou um impacto negativo. Podemos apontar aqui o que seria um bom exemplo desses impactos controversos para a sociedade, umas das vantagens da construção deste “aglomerado de betão” seria a atração de moradores para o edifício de habitação que irá ser construído num dos lotes, como consta no projeto desenvolvido para este terreno. No entanto isto é seguido de uma desvantagem, o facto das rendas aumentarem nos lotes habitacionais em seu redor, bem como os custos indiretos dos comércios lá presentes há décadas. O aumento de moradores provocará a gentrificação na zona fazendo com que a população mais envelhecida com pouco poder de compra, se mova para zonas mais afastadas e sem condutas de pertença ao lugar. O aumento das habitações na zona fará com que o movimento pendular dos trabalhadores mude, visto que se calhar já não terão de viver numa cidade dormitório e fazerem viagens que provocam congestionamentos em horários de maior movimento, e viagens de maior tempo de percurso entre a residência e o local de trabalho, sendo que com a existência de um comércio de grande superfície na Boavista trará também maior número de transportes, criando mais linhas, mais abrangentes que terão como foco a chegada ao El Corte Inglês e por consequência à zona da rotunda da Boavista. O centro comercial em si trará mais amenidades para o local e irá provavelmente resultar num inquilino âncora para o comércio envolvente, isto é, empresas que servem como inquilino principal em um shopping centre, prédio de escritórios ou distrito comercial.
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