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MICROECONOMIA DO AUTOMÓVEL SOB A PERSPECTIVA DO DESENVOLVIMENTO URBANO

Por:   •  17/10/2019  •  Ensaio  •  2.778 Palavras (12 Páginas)  •  195 Visualizações

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INSTITUTO DE ECONOMIA/UNICAMP
PROGRAMA DE DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO

Sillas Castro Coelho – RA 229808
Microeconomia – Profs. Ana Lúcia e Marco Rocha

MICROECONOMIA DO AUTOMÓVEL SOB A PERSPECTIVA DO DESENVOLVIMENTO URBANO

  1. RESUMO E OBJETIVO

Mobilidade urbana é um agente extremamente importante para a estruturação da cidade e seu desenvolvimento. Atualmente, esse fator caracteriza-se como uma estrutura heterogênea na qual os mais pobres têm acesso as piores condições de mobilidade, quando os mais ricos se apropriam das melhores. Esse fenômeno decorre principalmente da histórica insuficiência de oferta de transporte público - cujos principais usuários são os mais pobres - diante da complexa demanda. Destacam-se também o conflito de classes em curso na cidade e a atuação de promotores imobiliários, que subordinam planejamentos e políticas urbanísticas aos seus interesses em detrimento das carências das periferias. Paralelamente, os avanços na cadeia global de valor da indústria automobilística proporcionam maior exploração dos mercados subdesenvolvidos como o nosso, aumentando a oferta de carros em nossas cidades. Ademais, novos paradigmas tecnológicos dessa indústria implicam em efeitos para a cidade que não podem ser ignorados. Apesar do desafio, esse texto tem como objetivo ensaiar sobre as relações que se colocam nesse contexto.

Palavras-chave: Transporte público urbano; periferia; cadeia global de valor do automóvel; paradigma tecnológico; carro autônomo.


  1. INTRODUÇÃO

Estudos sobre o espaço intra-urbano têm argumentado que o grau de mobilidade dos seres humanos é primordial para os processos de estruturação, reestruturação e segregação socioespacial nas cidades. Isso porque a capacidade dos indivíduos de se deslocar determina como se dão as diferentes localizações e como elas se inter-relacionam. Outra consideração importante sobre a mobilidade nas cidades se refere ao fato de que ela se constitui como a principal das vantagens do espaço intra-urbano, se caracterizando como objeto de um conflito de classes que disputa as vantagens do espaço. Por essa razão, verificações sobre a crise da mobilidade nas metrópoles brasileiras indicam que os principais prejudicados pelas más condições de deslocamento são as classes de baixa renda, que historicamente habitam as periferias longínquas.

Tal crise é estrutural e causada, principalmente, pela histórica ausência de políticas efetivas atuando no sentido de proporcionar meios de transporte público de alta capacidade em resposta proporcional à alta demanda da cidade. Soma-se a esses fatores a implicância da indústria automobilística sobre o mercado brasileiro através da reorganização da cadeia global de valor da indústria automobilística e de novos paradigmas tecnológicos do setor.

O trabalho buscará ensaiar a relação existente entre o desenvolvimento da cidade e as implicâncias da indústria do automóvel à luz da bibliografia estudada em nosso curso. O desenvolvimento a seguir organiza-se da seguinte forma: na primeira parte se oferece uma breve revisão bibliográfica afim de explicar o funcionamento da cidade e oferecer uma perspectiva de análise embasada principalmente nos autores Flávio Villaça e Milton Santos. Na segunda parte, se discute as transformações da cadeia global de valor do automóvel a partir da bibliografia do curso, com destaque para Chesnais, Prahalad e Hamel. A terceira parte do trabalho discutirá o novo paradigma tecnológico do automóvel – os carros autônomos – estabelecendo relações com Utterback, Prahalad e Hamel e Dosi. Por fim, nas considerações finais, o trabalho oferece breves comentários sobre a cadeia global de valor da indústria automobilística e seu novo paradigma tecnológico à luz da perspectiva de estruturação das cidades. Por se tratar de um ensaio, tais comentários terão caráter mais provocativo do que conclusivo, indicando inclusive sugestão para pesquisa futura.

  1. DESENVOLVIMENTO

3.1- Perspectiva Desenvolvimento Urbano

Em Villaça (2001), o espaço intra-urbano (cidade) é uma estrutura composta por elementos que se relacionam entre si de maneira que alterações em elementos ou em alguma das relações promovam mudanças no sistema como um todo, reestruturando-o. Reforçando essa ideia de estrutura da cidade, o estudo da urbanização brasileira afirma que a organização interna dos municípios no Brasil é dotada de fatores interdependentes que se causam mutuamente (SANTOS, 2005). Os elementos constituintes da estrutura municipal não devem ser abordados somente como simples objetos do mobiliário urbano ou espaços físicos, mas como "localizações”: espaços dotados de ações (consumo, produção, etc.) e de relações para com as outras localizações (VILLAÇA, 2001). É possível afirmar que esse conceito de localização se inspira na ideia de sítio social, engendrada por Milton Santos, que propõe que os lugares dentro da cidade adotam funções sociais de acordo com as exigências do desenvolvimento da cidade (SANTOS, 2005). São exemplos de elementos da estrutura intra-urbana os centros comerciais e os distritos residenciais, os sistemas de transportes e saneamento, etc.

Considerando que as cidades são compostas por elementos e fatores interdependentes, incluindo suas localizações (ou sítios sociais) que são dotadas de funções sociais, ações de consumo e produção, e relações para com as demais localizações e elementos, Villaça (2001) sugere contundente elucidação sobre o desenvolvimento municipal - que pode ser considerada uma das ideias mais importantes de seu estudo. O autor defende que as grandes transformações socioeconômicas nacionais e internacionais são transpostas ao espaço intra-urbano através dos conflitos de classe existentes em torno das vantagens e desvantagens do espaço da cidade e através da dominação politica e econômica. O conflito de classes supracitado é reforçado por Santos quando este identifica na cidade a disputa entre atividades ou pessoas por determinada localização (SANTOS, 2005). Tais disputas de classes e dominações políticas e econômicas são manifestadas por meio do processo de segregação espacial, forte indicativo da heterogeneidade estrutural intra-urbana.

A relação entre a mobilidade do ser humano no espaço intra-urbano e o desenvolvimento econômico da cidade pode ser traçada destacando o papel estruturador da mobilidade e sua capacidade de criar localizações e sítios sociais no espaço da cidade e de interferir em suas relações (VILLAÇA, 2001). Se anteriormente dissemos que as localizações - elementos da estrutura intra-urbana - se relacionam e se causam mutuamente reestruturando todo o espaço da cidade, pontuamos agora que é através da mobilidade que grande parte dessas relações toma forma.

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