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A essência de uma subárea: os 60 anos da análise de política externa

Por:   •  31/5/2016  •  Abstract  •  4.789 Palavras (20 Páginas)  •  502 Visualizações

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A essência de uma subárea: os 60 anos da análise de política externa – Texto 1

  • Introdução
  • 1954 – Publicação de Richard Snyder, HW Bruck e Burton Spin inaugura o campo da Análise de Política Externa.
  • Ênfase nas ações dos indivíduos que exercem impacto na formulação da política externa e na negociação internacional e com o diálogo com disciplinas como a Ciência Política e a Sociologia na busca de instrumentos para a investigação dessas ações.
  • APE: permite explicar as decisões e os comportamentos estatais específicos.
  • Múltiplas variáveis em diferentes níveis de análise e de informações detalhadas sobre os atores e as instituições.
  • APE vai além da descrição e da postulação de generalizações: expande para uma explicação completa do comportamento do Estado, que é influenciado por seres humanos.

  • Os primeiros anos
  • Contexto de criação: behaviorista.
  • Declínio da reflexão especulativa e filosófica.
  • A publicação que marcou o início do campo inovou ao permitir maior enfoque no comportamento dos envolvidos no processo de formulação e na execução da política externa.
  • Interesse nacional pode ser definido em termos das percepções subjetivas dos tomadores de decisão.
  • Fatores externos + fatores internos + elementos do contexto social = situação percebida pelos tomadores de decisão
  • Obra paradigmática: primeira aplicação sistemática de uma estrutura de processo de tomada de decisão às RI.
  • Deram ênfase na questão da formação de decisão da PE em vez de destacar os resultados da PE em si.
  • Formulação tratada como comportamento organizacional: variáveis como esferas de competência dos atores envolvidos, comunicações e fluxos de informação, bem como as motivações dos jogadores eram centrais.
  • Estado como unidade significativa da ação política, sem tratá-lo como abstrato.
  • “A situação era definida pelos atores em termos da forma como tais atores se relacionavam aos outros atores, dos objetivos possíveis, dos meios possíveis e dos termos em que meios e fins eram formados em estratégias de ação sujeitas aos fatores relevantes da situação. A definição da situação era construída em torno da ação projetada bem como das razões da ação.” -> Percepção, escolha e expectativa.
  • Reconhecem processos empíricos inter-relacionados: interação estatal no nível governamental, interação intersocial no nível não governamental e interação intrassocial tanto no nível governamental como no não governamental.
  • Começaram a trabalhar na distinção entre ambiente operacional e ambiente psicológico.
  • Essa perspectiva substituiu o Estado por formuladores de decisão oficiais, que tomam decisões calculadas em nome do Estado.
  • Autores não pareciam preocupados com o produto, mas com a produção da decisão, de forma que a política era concebida como uma série de procedimentos independentes da substância da mensagem que carregam ou das decisões tomadas.
  • Rosenau: afirmou que Snyder, Bruck e Sapin ignoraram o ambiente operacional, de forma a ser impossível medir o nível de conformidade entre as percepções das elites e a realidade, além de não desenvolverem categorias de tipos de decisão e apontarem um número enorme de variáveis, muitas das quais não poderiam ser pesquisadas.
  • Não era suficiente apontar que a PE era determinada por fatores internos e externos. É necessário que se observe a interação entre essas duas dimensões, assim como indicar as condições onde um prevalece sobre o outro.
  • Rosenau queria uma teoria geral e testável de política externa, que mediasse princípios gerais e a complexidade da realidade.
  • Autores da política externa comparada: acreditavam que seria possível chegar a uma teoria geral de política externa, uma vez que os comportamentos de política externa de todas as nações eram comparáveis e os modelos desses comportamentos eram determinados por certos fatores como tamanho, riqueza e abertura política.
  • Rosenau, nesse contexto, desenvolveu uma pré-teoria de política externa que pretendia oferecer base para comparação no exame do comportamento externo de vários Estados em várias situações.
  • Avaliava-se a potência relativa de variáveis particulares governamentais, sociais e sistêmicas, e apontar qual conjunto de variáveis contribuía mais para o comportamento externo do Estado, como ficariam arranjadas numa ordenação e como se trataria cada conjunto em relação ao outro.
  • Nessa distribuição, levava-se em conta o tamanho do Estado, o perfil de sua economia e natureza do sistema político.
  • Michael Brecher, Blema Steinberg e Janice Stein: desenvolveram um sistema de política externa, que contava com ambiente ou enquadramento, grupo de atores, estruturas por meio das quais se iniciam decisões e se responde a desafios e processos que sustentam ou alteram o fluxo de demandas e produtos do sistema como um todo.
  • As decisões alimentavam o sistema num fluxo contínuo de demandas por políticas, processo político e produtos políticos.
  • Tais autores estabeleciam um ordenamento das variáveis relevantes e conferiam um peso a elas.
  • Outros buscavam teorias de médio alcance: desagregavam a noção de Estado monolítico, que havia dominado a análise realista tradicional e muito da behaviorista.
  • Ganharam destaque com o declínio da política externa comparada – década de 70.
  • Os teóricos de médio alcance desafiavam a reivindicação realista de que os Estados poderiam ser tratados como atores unitários, sem referências às suas estruturas internas e às mudanças dentro deles.
  • Esses analistas propunham-se a examinar a composição do processo de formulação da política externa em termos da fragmentação e da rivalidade burocrática intraestatal, defendiam que a política externa poderia ser melhor entendida pelo exame do impacto de processos sociopolíticos dentro da estrutura da formulação da decisão e, em geral, operavam com diferentes combinações de variáveis em níveis distintos, de Estado a Estado e de questão a questão.
  • A partir disso surgiram inovações na conceituação, no desenvolvimento de teorias em vários níveis de análise e na experimentação metodológica.
  • Irving Janis: focou a dinâmica da formulação das decisões de política externa em pequenos grupos e argumentou que a motivação para a manutenção do consenso no grupo e a aceitação pessoal pelo grupo podem levar à deterioração da qualidade da formulação da decisão.
  • Graham Allison e Morton Halperin: desenvolveram como a formulação da política externa pode ser captada a partir da investigação de organizações e burocracias.
  • Allison apontou que, no fim da década de 1960 e no início da década de 1970, os analistas pensavam sobre problemas de políticas militar e externa em termos de modelos conceituais implícitos, que tinham consequências significativas para o conteúdo de seu pensamento.
  • Modelo I – Modelo da Política Racional;
  • Modelo II – Modelo do Processo Organizacional;
  • Modelo III – Modelo da Política Burocrática.
  • Modelo I: unidade básica de análise: ação governamental concebida como uma escolha racional do Estado.
  • Estados: vistos como atores racionais e unitários, que têm um conjunto de objetivos específicos coerente com a função utilidade e de opções percebidas e uma estimativa única das consequências que seguem cada alternativa.
  • Eles escolhem as ações que maximizarão seus objetivos em resposta ao problema estratégico com que se deparam, e tais decisões são vistas como escolhas únicas entre resultados alternativos em vez de um grande número de seleções parciais e dinâmicas.
  • Racionalidade: entendida como uma escolha coerente e maximizadora de valor dentro de restrições específicas, de forma que os atores agem movidos por interesse, escolhem cursos de ação que maximizem seus ganhos e buscam promover interesses em condições de escassez material.
  • CRÍTICA: Jonathan Bendor e Thomas H. Hammond sinalizam que ele tem dois componentes essenciais: um tem base na teoria da decisão – que enfoca os atributos dos tomadores de decisão – e outro na teoria de jogos – que dá destaque à interação estratégica.
  • Porém, o componente da teoria de decisão é muito simples, e o modelo negligencia as interações estratégicas, as bases da teoria de jogos.
  • Allison omite ou trata de forma superficial ou ambígua várias propriedades importantes da teoria da decisão. Dentre elas, cabe destacar a possibilidade de que o ator tenha vários objetivos. Modelo ambíguo, pois, em alguns momentos, sugere que os atores tenham apenas um objetivo e em outros, levanta a possibilidade de que o ator racional tenha vários.
  • O modelo é orientado para cálculos realizados em um único período, ignorando os efeitos que as opções podem trazer à longo prazo. Além disso, ignora a incerteza produzida por fatores externos ao jogo.
  • Quanto à negligência da teoria de jogos, destaca-se que Allison não examina explicitamente, segundo Bendor & Hammond , como os Estados podem reagir às jogadas dos outros e que sua análise é desenvolvida puramente em termos da escolha maximizadora de valor de um tomador de decisão isolado. Porém, as escolhas feitas são realizadas em um ambiente estratégico, de forma que os resultados dependem do comportamento dos demais com os quais interagem.
  • Modelo II: unidade básica de análise: ação governamental como produto organizacional.
  • Os atores não são Estados monolíticos, mas ministérios, departamentos e agências que têm problemas divididos e poder fracionado, bem como responsabilidade por áreas temáticas específicas.
  • Nesse modelo, o comportamento estatal num caso particular é a realização de rotinas pré-estabelecidas das organizações.
  • Com base em procedimentos-padrão de operação para um desempenho confiável, elas realizam tarefas como a preparação de orçamento e a produção de relatórios. Como tais procedimentos são padrões, os programas – conjunto de procedimentos ensaiados para a produção de ações específicas – e os repertórios – lista de programas organizacionais relevantes ao tipo de atividade – não mudam rápida e facilmente.
  • Nesse sentido, a flexibilidade organizacional é limitada, e as novas atividades tipicamente consistem de adaptações marginais das existentes
  • CRÍTICA Bendor & Hammond afirmam que as organizações podem ser mais flexíveis do que os indivíduos que as compõem.
  • A divisão de trabalho permite que os formuladores de decisão se tornem especialistas em seus domínios e, assim, possam reduzir sua margem de erro. As subunidades ou as equipes podem trabalhar independentemente na realização de uma mesma tarefa a fim de ampliar a probabilidade de que seja realizada num determinado prazo.
  • Isso comprova que, ao contrário do que o Modelo II parece sugerir, as organizações não são entidades relaxadas e dominadas por uma única forma de pensamento.
  • Modelo III: examina as decisões do Estado pela negociação, conduzida em circuitos regularizados, entre indivíduos localizados hierarquicamente na política burocrática.
  • Em tal perspectiva, o Estado não é concebido como um ator monolítico ou uma soma de organizações, mas como uma pluralidade de indivíduos que atentam para os múltiplos assuntos e problemas internos e externos.
  • A unidade básica é definida como a “linha de conduta como consequência política”. Essa linha de conduta é “consequência”, tendo em vista que as posições estatais são resultados do compromisso e da coligação entre elementos inseridos na política burocrática. Também é “política”, já que a atividade resultante é a negociação.
  • A decisão não é examinada como uma escolha de um ator unitário, mas como um resultado de jogos de barganha simultâneos e sobrepostos.
  • Ela é investigada em termos da barganha entre jogadores que estão em cargos na burocracia estatal e que têm poder variado sobre questões particulares e objetivos separáveis em subjogos diversos.
  • O aparato do governo configura-se como uma arena complexa para o jogo, em que são levadas em consideração as preferências de indivíduos que participam do processo político e a forma como o poder está distribuído entre eles. As escolhas dos jogadores, as resultantes de jogos, as opções abandonadas e os mal-entendidos definem a ação estatal.
  • Além disso, as posições que cada jogador ocupa nos principais canais de ação política estabelecem o que ele pode e deve fazer, bem como as suas vantagens e desvantagens e as suas obrigações. De acordo com a máxima desse modelo, “a opinião depende da posição burocrática”, indicando a relevância das instituições políticas e do papel que os indivíduos ocupam em hierarquias na definição de seus pontos de vista, asserções e julgamentos.
  • Cada indivíduo deve identificar opções para preservar sua margem de manobra olhando para baixo; preservar o compromisso dos outros indivíduos e os atrair para sua coalizão olhando para o lado; e garantir aos superiores que sua posição é a melhor olhando para cima.
  • O Modelo da Política Burocrática permite, assim, desestabilizar a ideia de que sempre exista consenso entre formuladores de decisão dentro das organizações estatais.
  • CRÍTICA: Segundo Bendor & Hammond, a literatura sobre política burocrática é mais discursiva e menos teórica, um problema reconhecido inclusive por Allison. Além disso, tal modelo apresenta inadequações na construção da natureza do processo de formulação da decisão.
  • Com premissas e suposições ambíguas, é nítida a dificuldade de se determinar quando a barganha caracteriza a formulação da decisão e quem terá que barganhar com quem sobre o quê. Além disso, mesmo que haja uma distribuição interna de poder, é possível que tais atores não tenham objetivos conflituosos.
  • Para eles, como o presidente escolhe a maioria dos jogadores mais importantes e define grande parte das regras do jogo, muitos deles podem não apenas compartilhar seus valores e posições, mas ter objetivos e preferências semelhantes na condução dos assuntos internacionais.
  • Nesse caso, a barganha intensa apresentada por Allison não ocorre, e a situação lembra a ação de um ator unitário, mesmo havendo divisão doméstica de poder.
  • Quando o conflito e a competição realmente existem, eles podem ser resultados não apenas de objetivos divergentes definidos por posições burocráticas, mas revelar a existência de crenças distintas.
  • Segundo os autores, Allison verifica que diferenças podem, de fato, refletir desacordos mais amplos sobre valores fundamentais, mas sua análise acaba concentrando-se em fatores burocráticos e leva à tendência a ignorar os valores dos participantes no processo de política externa.
  • Mesmo marginalizando elementos importantes para a explicação, o modelo é, ainda assim, excessivamente complexo, o que acaba por gerar outro problema: ao operar com muitas suposições, variáveis e relações, torna-se quase impossível determinar o papel e o impacto de cada uma.
  • O impacto da hierarquia no processo de formulação da decisão é ignorado por Allison. Diferentes estruturas podem produzir distintos resultados políticos, de forma que a própria hierarquia deveria ser vista como variável.

  • O estudo das características individuais:
  • Alguns autores dedicaram-se a aprofundar os ambientes psicológico e social do processo de tomada da decisão a partir da ideia de que a mente dos formuladores de decisão continha informação e modelos complexos e relacionados – como crenças, atitudes, valores, experiências, emoções, estilo e memória – e a cultura, a história e a economia definiam o contexto social em que eles operavam.
  • Sprout e Sprout proporam a distinção entre os ambientes operacional e psicológico em que operam os tomadores de decisão, argumentando que os fatores materiais somente influenciam as atitudes e as decisões que compõem a política externa na medida em que são percebidos e considerados pelo aparato ideacional dos formuladores de decisão no processo de formação dessa política.
  • Brecher: propôs que o ambiente operacional somente influencia as decisões de política externa depois de filtrado pelas ideias, imagens e prismas de atitude dos formuladores de decisão.
  • Carlsnaes: descobriu a separação entre a dimensão situacional de condições objetivas e materiais e a dimensão de disposição e intenção, que remete a ideias, valores e motivações dos atores.
  • Ao explorar os aspectos psicológicos dos tomadores de decisão, os cognitivistas foram um dos primeiros teóricos a enfatizar a relevância dos fatores ideacionais na política externa.
  • Tetlock e McGuire Jr: Tomadores de decisão são vistos como processadores de informação com capacidade limitada, que recorrem a estratégias simplificadoras para lidar com complexidade, incerteza e trocas com o mundo que os confronta.
  • A política externa não se refere ao mundo externo per se, mas à imagem simplificada do mundo externo construído nas mentes daqueles que elaboram decisões políticas, em um contexto de suas ideias e representações subjetivas da realidade
  • As principais abordagens cognitivas nas décadas de 1950 e 1960 colocavam o indivíduo duo como um “buscador de consistência” motivado a reduzir discrepâncias entre crenças e manter sistemas coerentes de ideias internamente consistentes. Já os teóricos da cognição social e dos esquemas inseridos no contexto da “revolução cognitiva” iniciada na década de 1970 concebiam tal indivíduo como um cognitive miser, supondo que os sistemas de crenças individuais eram mais fragmentados internamente.
  • Robert Jervis: revolução cognitiva.
  • Ressaltava que as percepções do mundo e dos outros atores podem divergir da realidade em modelos que podem ser detectados e por razões que podemos entender.
  • Apontava para a investigação dos mecanismos psicológicos que influenciam o processo de formulação da decisão ao considerar a influência de percepções e falsas percepções sobre preferências por determinadas escolhas políticas.
  • A análise proposta pelo autor debruça-se sobre os mecanismos que filtram a informação incorporada por agentes formuladores de decisão.
  • A pesquisa representacional e a pesquisa procedimental nos estudos cognitivos tiveram importância fundamental na consolidação e na ampliação da discussão acerca dos fatores ideacionais nos principais debates teóricos.
  • CRÍTICA: Essa abordagem se foca nos aspectos psicológicos que dificultam a realização de uma escolha racional.
  • Os atributos socioculturais que precedem o momento em que se inicia o processo de deliberação “são minimizados ou aparecem como um adendo ao eixo explicativo”.
  • Tais estudos concebem que as informações sobre o ambiente operacional desses atores são assimiladas e processadas de acordo com ideias preexistentes em seu quadro cognitivo, sem que se debrucem sobre o processo de construção sociocultural desses atores.
  • Diferenças culturais aumentam a probabilidade de percepções erradas e de falhas de comunicação, porém as pessoas compartilham predisposições cognitivas básicas.
  • O Estudo das características nacionais e sociais
  • Kalevi Holsti: inova ao discutir o papel das imagens nacionais que sistematizam as ideias e as percepções sob a forma de guias de comportamento, viabilizando o estabelecimento de objetivos e a ordenação de preferências.
  • Robert Putnam: desenvolve a noção de “jogos de dois níveis”.
  • Forças nacionais buscam seus interesses no nível doméstico exercendo pressão sobre o Executivo para que adote medidas favoráveis, e ele procura fortalecer seu poder de barganha desenvolvendo coalizões entre elas. Na dimensão internacional, ele visa a atender aos interesses domésticos e a minimizar os impactos negativos dos desenvolvimentos externos.
  • Nível I – barganha entre os negociadores na dimensão internacional;
  • Nível II – discussões, na esfera doméstica, acerca do consentimento para ratificação do ato internacional.
  • Win-set: o conjunto dos acordos possíveis no Nível I que poderiam ser aceitos no II.
  • Win-set possui diferentes “tamanhos”: é estabelecido, primeiramente, pela distribuição de poder, escolhas políticas e coalizões possíveis no Nível II, as instituições políticas do Nível II e as estratégias dos negociadores do Nível I.
  • Moravcsik: vai além de Putnam – reforça as bases para uma teoria que permitiria examinar a interação entre os níveis internacional e doméstico.
  • Dentre os elementos essenciais que deveriam ser considerados, Moravcsik afirma que os líderes podem adotar estratégias para redefinir o win-set doméstico, manipulando instituições, informação e modelos de ligação entre áreas temáticas.
  • Em geral, quanto maior for o controle sobre esses instrumentos e menor for o custo de exercê-lo, maior é a sua habilidade de definir o acordo final.
  • Ao limitarem o win-set – tying hands–, os líderes podem induzir o outro lado na barganha internacional a ceder a um ponto mais próximo às suas preferências; ao ampliarem – cutting slack –, visam a acomodar um acordo internacional que seria rejeitado de outra forma.
  • As preferências dos líderes podem refletir o interesse deles em fortalecer sua posição doméstica, buscando atender ao interesse dos grupos internos predominantes; um esforço de mobilização de uma resposta ótima aos desenvolvimentos internacionais, independentemente dos fatores domésticos; ou suas posições políticas individuais sobre as questões.
  • Helen Milner: explica a probabilidade e os termos da cooperação internacional a partir da consideração de três variáveis independentes: a estrutura de preferências políticas dos jogadores visando à maximização de ganhos, a distribuição de poder de decisão pelas instituições políticas domésticas e a distribuição da informação.
  • Quanto maiores forem as diferenças entre as preferências dos atores, quanto mais igualmente a informação estiver distribuída e quanto mais as instituições dispersarem poder, mais poliárquica é a situação doméstica.
  • Quanto mais dividido for o governo, menos provável é a cooperação, maior é a probabilidade de falha na ratificação, e maior é a influência que o Legislativo tende a exercer sobre os termos do ato internacional, caso tal acordo seja aceito, em particular quanto a atos que envolvam votação formal para a ratificação.
  • Quanto maior for a assimetria de informação e menos prováveis forem os endossantes informados, mais provável é a falha na ratificação.
  • Lester Milbrath: destaca que atores auxiliares transmitem e interpretam as mensagens que vêm dos membros do governo e são dirigidas ao corpo político, bem como transmitem e interpretam mensagens na outra direção.
  • O tomador de decisão tem poder para decidir quem ele vai ouvir, e o escopo e localização daqueles envolvidos numa decisão de política externa variam de acordo com o problema em questão, bem como a tarefa dos grupos de interesse que esperam exercer influência sobre o processo de formulação da decisão.
  • Menor questão: maior probabilidade de influência do grupo e vice-versa.
  • Ole Holsti: aponta que o homem comum está muito engajado em suas próprias coisas básicas para ter tempo e inclinação para satisfazer o estereótipo do cidadão engajado e informado.
  • Opinião pública é altamente volátil e oferece fundações ambíguas para uma política externa saudável, é carente de estrutura e coerência e tem impacto limitado sobre a condução da política externa.
  • A oposição das massas no conjunto é caracterizada por certa estabilidade, e isso não é menos verdade na política externa do que em questões domésticas. Quando a atitude muda, tal mudança não é aleatória nem removida do real estado dos assuntos mundiais.
  • As decisões de política externa podem ser tomadas em antecipação às reações do público e às probabilidades de sucesso.
  • O papel dos fatores ideacionais
  • Fatores ideacionais: elementos não materiais – cultura, regras sociais etc.
  • Primeira abordagem: Judith Goldstein e Robert Keohane.
  • Enfatizaram que as ideias – entendidas como crenças mantidas pelos indivíduos – influenciam a política quando oferecem ideias que ampliam a clareza dos atores sobre objetivos ou a relação entre meios e fins, afetam resultados de situações estratégicas em que não há um único equilíbrio ou generalizam padrões de comportamento ao estarem incorporadas em instituições.
  • 3 tipos de ideias:
  • Visões de mundo, que afetam a vida social de múltiplas formas ao longo do tempo, como as religiões e a concepção vestfaliana de soberania;
  • Princípios, que remetem a ideias normativas que especificam critérios para distinção entre certo e errado;
  • Crenças causais, que se referem a relações de causa e efeito que derivam da autoridade do consenso entre elites reconhecidas, como cientistas ou líderes espirituais, por exemplo.
  • Crítica de Wendt: ideias predominantemente como variáveis intervenientes entre poder/interesse e resultados políticos, de forma que poder e interesse ainda são os elementos explicativos mais importantes, e a ênfase é dada nos efeitos dessas ideias, não nas suas fontes ou no seu processo de constituição.
  • Ronald Jepperson, Alexander Wendt e Peter Katzenstein: sua abordagem permite a investigação de fatores subestimados pelo mainstream na definição da política externa: o contexto cultural e institucional da política e a construção da identidade do Estado e outros atores políticos.
  • Sinalizam que os elementos culturais ou institucionais do ambiente dos Estados (normas, valores, regras e modelos que definem quais entidades e atores existem em um sistema e como operam e se relacionam) afetam os interesses de segurança nacional e as suas políticas externas.
  • Argumentam que elementos ideacionais dos ambientes internos ou externos constituem identidades, aqui entendidas como construções variadas da condição de nação – nationhood, ou seja, ideologias que variam de nação para nação sobre a distinção coletiva – e da condição de Estado – statehood, que remete à variação na forma como a soberania estatal é desenvolvida domesticamente e projetada internacionalmente.
  • Reconhecem que mudanças na identidade estatal constroem interesses de segurança nacional e as políticas externas dos Estados e que as configurações da identidade estatal afetam as estruturas normativas interestatais, como os regimes ou as comunidades de segurança.
  • Nesse processo, as políticas externas adotadas pelos Estados também reproduzem e reconstroem a estrutura cultural e institucional.
  • Steve Smith: critica abordagens construtivistas moderadas. Essas perspectivas ressaltam que o ideacional constitui o material, mas, em certos momentos, parecem conceber elementos pré-sociais e exploram que o material pode ter poder causal independente.
  • Tanto Smith como Vendulka Kubálková defendem que o mundo social no qual atores – independentemente de quem sejam – operam é governado pela linguagem e pelas regras.
  • Assim, construtivismo regra orientado poderia ser uma melhor alternativa para o estudo de política externa, pois enfoca indivíduos, sociedade e regras que os ligam, e a análise de política externa aparece nessa interface.
  • Práticas pós-estruturalistas: mostram que a preservação da integridade soberana do Estado foi possível a partir do estabelecimento de hierarquias em circunstâncias espaço-temporalmente específicas.
  • Sujeito moderno: centro interpretativo soberano, uma “realidade maior e privilegiada” ou uma “presença não problematizada”,
  • “Outro”: concebido em referência a tal centro, compreendido como uma negação dessa identidade e objetificado em um processo de produção do exterior pelo sujeito.
  • Fronteiras artificiais produzidas pela soberania criaram obstáculos entre interno e externo, identidade e diferença, e agiram como mecanismo de exclusão. Diferenças claras entre Eu e Outro.
  • Estado moderno ->  receptáculo da soberania.
  • A reprodução dessa soberania é necessária para a legitimidade da própria comunidade moderna.
  • Cynthia Weber aponta que não há um Estado soberano “natural”: não há uma fundação “natural” da soberania;
  • A política externa – em especial aquela voltada para práticas de intervenção – permite “escrever o Estado”, criando práticas discursivas que legitimem o poder e a soberania e consolidando ideias que segregam a diferença presente fora dele.
  • Michael Shapiro: colabora demonstrando que a soberania não é um conceito estável por não possuir uma significação ontológica preestabelecida.
  • Roxanne Lynn Doty: destaca a natureza produtiva do poder, o qual opera constituindo modos particulares de subjetividade e disposições interpretativas.
  • David Campbell: política externa x Política Externa.
  • “política externa”: uma performance política produtora de fronteiras.
  • Política Externa: ligada à reprodução da identidade e à contenção dos desafios a ela.
  • Considerações finais:
  • Com o declínio da política externa comparada, a APE tendeu a adotar perspectivas analíticas de médio alcance. Porém, a comparação pode ser feita por meio de estudos de caso.
  • Teorias passadas sobre a natureza e o conteúdo dos papeis como a de Holsti, as condições sob as quais eles afetam a política externa e as fontes dos papeis poderiam ajudar a dirigir a pesquisa futura sobre identidade.
  • O entendimento trazido pelos analistas de política externa sobre os processos de decisão individuais pode formar a base para discussões produtivas com especialistas engajados na análise da interação estratégica e interessados na aproximação do estudo das Relações Internacionais de uma perspectiva construtivista.
  • Alguns analistas de política externa podem ligar a qualidade do processo de formulação de decisão com a qualidade do resultado internacional numa forma sistemática. Nessa interação, os analistas conseguiriam identificar e especificar como e quando suas teorias são mais relevantes.

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