Programa de Graduação em Relações Internacionais
Por: Renato Melo • 4/6/2019 • Resenha • 2.173 Palavras (9 Páginas) • 234 Visualizações
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CCBSA – Centro de Ciências Biológicas e Sociais Aplicadas
Programa de Graduação em Relações Internacionais
Disciplina de Segurança Internacional
Prof: Dr. Paulo R. L. Kuhlmann
Aluno: José Renato Melo Veloso
Resenha: BUZAN, B., & WÆVER, O. (2009). Macrosecuritisation and security constellations: Reconsidering scale in securitisation theory. Review of International Studies, 35(2), 253-276.
Resumo e introdução
“The purpose of this article is to revisit the securitisation theory of the Copenhagen school to see how to bring it into focus on these higher order securitisations”. Barry Buzan e Ole Waever, duas referências para os estudos de segurança e para as relações internacionais como um todo – sobretudo pela teoria de Complexos de Segurança –, revisam alguns postulados da Escola de Copenhague, bem como suas próprias teorias, e trazem de volta à luz um conceito pouco difundido e trabalhado mesmo em trabalhos oriundos de Copenhague: constelações de segurança. Sugerindo que Copenhague foca-se majoritariamente no nível intermediário da política mundial, no qual atores (geralmente Estados) constroem relações de amizade e inimizade. Já o artigo que é objeto desta resenha se foca no espaço entre o nível intermediário e o sistêmico, questionando se há mais substância lá que Copenhague acredita haver. Nessa análise, é acrescido ao conceito revisitado uma nova ideia a ser aplicada conjuntamente, intitulada macro-securitização. Esta, segundo os autores, funciona como um meio de captar melhor o que ocorre acima do nível intermediário, que essa captação acrescenta à análise uma visão útil das lógicas políticas subjacentes, facilitando o entendimento dos padrões de securitização histórica e contemporânea. Após a introdução, a segunda seção do artigo revisa os níveis de análise na teoria da securitização. Na terceira seção, os autores fazem uma análise das políticas de macro-securitizações e constelações de segurança. Na quarta, explicam o conceito de macro-securitização através de sua aplicação para analisar episódios e momentos históricos. Enfim, fazem conclusões sobre as necessidades e os ganhos gerados ao se estender securitização dessa maneira que propõem.
“International security is usually presented as a complex mosaic of separate agendas and multiple issues, with each political unit pursuing its own egotistical interests, constructing its own threats, and making temporary aliances as and when necessary. This is the realist view of the self-help consequences of life under anarchy”.
Antes do prosseguimento, Buzan e Waever fazem a ressalva de que seu artigo não tocará o tema do espaço entre o nível intermediário e o que se encontra anterior a ele, o nível individual, que clamam estar sendo coberto pela literatura expandida em segurança humana; e que também não lida com a literatura nova em crescente sobre teoria de securitização. “This literature is mainly about how to refine and improve the application of securitisation theory”.
“Níveis de análise na teoria de securitização” e “As políticas de macro-securitizações e constelações”
Nas seções seguintes, para tratar dos níveis de análise na teoria de securitização, os autores iniciam com um resumo do posicionamento da Escola de Copenhague: o objeto referencial é tradicionalmente o Estado, e em alguns casos, a nação. Para o Estado, sobrevivência significa soberania, e para a nação, identidade. Mas, aplicando a abordagem da securitização, ampliam-se as possibilidades. Inicialmente, atores da securitização podem tentar fazer com que qualquer coisa aja como seu objeto de referência; na prática, há condições facilitadoras que fazem com que alguns tipos de objetos referenciais funcionem melhor que outros. Ações em prol da segurança geralmente seguem os interesses de uma coletividade. O objeto de referência deve ser aquele para o qual se pode sempre dizer algo como “é este que tem que sobreviver, então, devemos fazer isso e aquilo para que impedir que caia”.
Ao que haverão algumas divergências entre esse entendimento e o dos autores, eles clarificam que não objetivam atacar esse pensamento, apenas melhorar a discussão a respeito de alguns pontos que acabam sendo pouco observados ou trabalhados quando se parte dessa base sobre níveis de análise: “It is not our intention in this article to attack the basis of this position. We do want, however, to explore the space between the ‘middle level’, in which individual collectivities engage in independent securitisations with other collectivities, and the universal one, where the absence of an Other makes it difficult to securitize the total collective Self of humankind. We want to suggest there is more of interest to be found there than the existing formulation [of the Copenhagen School and the security analysts in general] suggests”.
De acordo com os autores, com as novas formas de se pensar securitização alcançadas pela melhor consideração desses fatores, há uma possibilidade de melhor empregar o conceito de constelações de segurança que foi designado para fazer uma ligação entre todos os níveis e setores nos quais a securitização ocorre.
Para melhor explorar essa área, é necessário um conceito que cubra securitizações que tratam de objetos referenciais maiores que aqueles no nível intermediário e que incorpore e coordene múltiplas securitizações de níveis menores. Esse conceito é o de macro-securitização. Quanto maior a macro-securitização, maior a hierarquia imposta nas securitizações de nível menor que serão incorporadas a esta. O exemplo mais utilizado por Buzan e Waever é a Guerra Fria. Macro-securitizações, por conseguinte, são estruturas de maior complexidade que as demais por conterem em si diversas outras de vários níveis bem diversos, carregando ainda suas tensões e tendo a vulnerabilidade como principal característica – esta podendo ocorrer tanto pela de-securitização da ameaça de nível macro (ou objeto de referência), como vimos no fim da Guerra Fria, mas ainda por de-securitizações no nível intermediário que alteram por alguma razão sua condição de subordinação com a de maior nível (exemplo: a separação sino-soviética).
Consequentemente como antes, as macro-securitizações geram constelações de segurança por estruturarem e organizarem relações e identidades ao redor da mais poderosa de um determinado período histórico. Ambas estão constantemente interligadas se observadas através de um ângulo mais político. Quando duas macro-securitizações se opõem mutuamente, cada uma crida ser a ameaça-última ao que a outra defende, gera-se uma constelação integrada. Mais uma vez, o exemplo dado é a guerra fria: “this way, the cold war became a constellation containing two momentous macrosecuritisations and a huge network of identities and policies interlinked around these [ . . . ] from the 50’s to the 90’s, both the US and the soviets generated macrosecurisations against each other by promoting their two universalist ideologies in zero-sum competition, thus generating the Cold War constellation”.
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