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Resenha Condenados da Terra, Frantz Fanon

Por:   •  29/5/2017  •  Resenha  •  2.414 Palavras (10 Páginas)  •  5.214 Visualizações

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Universidade de Brasília
Instituto de Relações Internacionais
Relações Internacionais da África
Professor Doutor Pio Penna
Camila Belezini Cais 150120737

Resenha de Os condenados da Terra – Frantz Fanon

Frantz Fanon trata em seu livro Os Condenados da Terra do duelo entre colono branco e colonizado negro. Perpassando as situações que ocorrem desde a chegada desse dos europeus no continente africano, até a situação após a descolonização. Seu grande tema é a descolonização, contextualiza o mundo colonial e seu funcionamento, para explorar o processo de expulsão dos colonos. Fanon descreve estes com ódio e defende a violência como único meio possível de expulsá-los. Tem ascendência africana e foi soldado na África do Norte o que explica seus enunciados carregados de sentimento. Estudou filosofia, literatura, talvez daí venha a explicação para suas avaliações marxistas da história e sua crença nas premissas socialistas. Também estudou medicina e se especializou em psiquiatria, agregando análises interessantíssimas sobre a situação da saúde mental dos ex-colonizados, tanto durante o período colonial, como depois da luta pela liberdade.

Para dominar, os ocupantes destroem essa saúde mental. Repetem inúmeras vezes que os negros são animais, sujos, desorganizados, criminosos, inimigos dos valores, são o mal absoluto. Provocam, neles próprios, dúvidas sobre seu caráter, até sentirem culpa, a internalizarem a inferioridade. Passam a admirar os europeus por suas qualidades, por serem diferentes. Estes os fazem trabalhar por pouco, os chamam preguiçosos, os prendem, matam. Fazem questão de provar sua suposta superioridade a todo tempo. Não se referem aos habitantes do território como extensão do seu país, só a terra é. No sentido de que lhe é subordinada. A população é indigente e sua cultura é marca disso, precisa transformar suas crenças e costumes em algo a ser repugnado. Ela necessita ser destruída, substituída pela europeia que talvez os salve. Será uma nação ajoelhada e acuada, até que por motivos internos e internacionais, acorde. Descubra que sua condição, os maus tratos que sofre, o mercado ao qual é condicionado, não é culpa sua, nem de deus. Mas, sim, do colono a quem tanto teme. Será mal tratada até que entenda que seu coração bate igual ao do colono, perca o medo de enfrentá-lo, não trema mais a sua presença.

Embora deixe claro seu ódio à presença dos brancos na África, me pareceu que sua maior crítica era aos próprios negros - aqueles que não fossem da massa, tribal, camponês, a elite. Ele os diferencia em classes como elites intelectuais, econômicas, lumpen-proletariat e as massas. Critica a primeira por não se aproximarem das massas, não as ajudarem a se organizar, não as levar a sério e explorar seu potencial para a revolução política só após anos de humilhação; descreve-os através da visão das massas como vendidos, traidores, individualistas, e é assim que ele, também, acredita que sejam. Essa elite é mimada pelo regime. É distante dos camponeses, é individualista. Só aproxima deles quando já estão fazendo acontecer a revolução. Querem garantir seu protagonismo na decisão no futuro do país, através de negociações com os estrangeiros. Após a descolonização, volta a ignorá-los - a não ser que precise de seu trabalho árduo, aí, então, os explorará tanto quanto os colonos faziam, enxugarão suas capacidades e converteram o lucro somente para os seus. Alimentará a burocracia e a corrupção.

A massa é o oposto dessa elite. Fanon mostra que o futuro do país está nas mãos dela. Conta de maneira aprofundada como todo o ódio da exploração física e mental se acumula em seu corpo, não importando quantas catarses místicas, religiosas, até de lutas contra outras tribos, nunca são suficientes. A “desentoxicação” deve ser feita com o uso da força, mas contra o colono. Quando a oportunidade de se descolonizar surgir, toda essa angústia se transformará em violência - os livrará do sentimento de inferioridade, será o exorcismo do mal da colonização. Só se liberta através da violência, as negociações da elite são corrompidas.  Esta burguesia será um entrave a realização do conflito, o prolongará. Enquanto as massas vão buscar a força para enfrentar aqueles que os disseram que negros e índios só entendem dessa linguagem, as elites querem a negociação. Não querem perder o pouco que tem. Mas a massa não confia nela. O momento da luta para eles é tudo, não importa quanto sangue seja derramado, diferente das elites, não tem nada a perder na vida que levavam. Viver para eles era, simplesmente, não morrer.

Inclusive, atribui essa pobreza, esse destino, ao desenvolvimento que foi impedido de acontecer, pelos colonos. Europeus enriqueceram-se no território africano, explorando suas riquezas e sua força trabalhadora. Protesta contra a maneira com que saem na descolonização, impunes. Não se pode aceitar que sua retirada seja um acerto de contas. Isso é, mais uma vez, inferiorizar os colonizados. Na história, quando os alemães causaram danos a outros europeus, se exigiu que pagassem, pedissem perdão, devolvem-se elementos de sua cultura (telas, esculturas etc). Aos africanos deve-se também pagar pelo que lhes foi retirado, deviam cuidar de restaurar seus psicológicos, seus bolsos. Mas, a história pós-independência em 95% dos casos, não produz mudança imediata e ainda trazem outros problemas.

Isso porque as elites estenderão sua comunicação com a ex-metrópole. O que, embora Fanon caracterize como egoísmo, eu acredito ser justificável como fruto do próprio regime colonial. Ainda que sejam mais capazes de imaginar e entender o sistema colonial como um todo, não quer dizer que o façam. São mais ilustrados que a massa, mas assim o são porque foram educados pela Europa, uma Europa que condena sua existência e destino como inferior, perder o que se tem, gera medo. A elite valoriza é a presença ocidental em suas terras. Ademais, se o autor diz que as elites invejam o colono, a alienação do individualismo ocorre porque a presença desse colono gera mimetismo, vão procurar ter vantagens sob qualquer circunstância quando ocuparem o lugar da metrópole. A posição do livro é que a descolonização deve ser uma substituição de homens por outra “espécie” de homens. Não se pode haver transição. Quando a elite propõe que não haja rompimentos e sim uma comunicação e laços econômicos, ela entrava isso.

 A diferença, em alguns casos, da dominação poderá ser reduzida ao simples fato de o país ter um líder, um presidente que seja recebido pelo presidente do país explorador por causa da posição de adoração da elite pelo estrangeiro. Durante o auge da descolonização, os burgueses atuam como mediadores deles e da massa, ajudam os europeus a não perderem a luta só porque foram expulso. A proximidade que cria com as massas é principalmente para ter algum controle sobre ela. Poder dizer pro estrangeiro que elite e europeus devem se juntar contra esse povo terrorista, que não discute valores e não negocia – diferente deles, que também querem a descolonização, ocupar o lugar dos colonos. Mas, não querem perder as tecnologias, os engenheiros, administradores.

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