Resenha - Desenvolvimento Desigual e Combinado

Tema: Desenvolvimento Desigual e Combinado

Na aula de 5/6/19, foi abordado o tema “Desenvolvimento Desigual e Combinado”, tomando como base a seguinte bibliografia básica:

• ROSENBERG, Justin. International Relations in the Prison of Political Science. International Relations, vol.31, n.2, p.127-153, 2016.
• BLANEY, David L. e TICKNER, Arlene B.. International Relations in the Prison of Colonial Modernity. International Relations, vol.31, n.1, p.71-75, 2017.
• CALLINICOS, Alex e ROSENBERG, Justin. Uneven and Combined Development: the Social-Relation Substratum of “the International”? An Exchange of Letters. Cambridge Review of International Affairs, vol.21, n.1, p.77-112, 2008.
• SHILLIAM, Robbie. The Atlantic as a Vector of Uneven Combined Development. Cambridge Review of International Affairs, vol. 22, n.1, p.69-88, 2009.

O ponto-chave para o início dos debates levados a cabo em sala de aula dizem respeito à evolução e ao papel das Relações Internacionais (RIs) no campo do conhecimento, sobretudo no das ciências humanas. Como argumenta Rosenberg (2016), apesar do seu surgimento no importante momento da história mundial logo após a Guerra Fria, quando o objetivo se limitava a investigar as relações militares e diplomáticas vigentes à época do sistema “bipolar”, foi preciso muito tempo para se perceber que a disciplina não havia trazido quaisquer grandes contribuições ou inovações que impactassem o pensamento humano, como o que acontecia com a Literatura, a História, a Geografia e afins, campos tradicionais e bastantes explorados por cientistas mundo afora. Rosenberg explica que a razão para essa precarização da disciplina talvez tenha surgido com a sua condição de subcampo da disciplina de Ciência Política, a qual tem como objetivo entender o sistema político, com seus respectivos processos e instituições.

As Relações Internacionais, ainda sob a visão de Rosenberg, só começaram a ganhar uma identidade de fato quando passaram a olhar o campo da Ciência Política sem a presença de uma autoridade central. Tomando essa premissa como base central de suas investigações, Kenneth Waltz avança ao produzir teorias calçadas no conceito de que o âmbito internacional deve ser tratado de forma distinta do doméstico, o que originou a corrente dominante neorrealista das RIs, que sugere haver um sistema anárquico mundial para justificar o comportamento dos Estados nas suas mais diversas relações.

Outro fator importante discutido em sala diz respeito à origem do termo “desenvolvimento desigual e combinado”, que, segundo Rosenberg, encontra na “multiplicidade societal”, ou seja, no reconhecimento de que o mundo compreende uma multiplicidade de sociedades coexistindo entre si, argumento para explicar o comportamento da humanidade e seus estágios de desenvolvimento. Esse termo ficou consagrado pelas contribuições teóricas de León Trotsky, neomarxista que defendia haver processos atrasados e avançados no desenvolvimento econômico dos países, sobretudo naqueles da periferia, o que justificava a discrepância entre segmentos modernos e retrógados na economia de um mesmo Estado.

Essa teoria viria a contribuir significativamente para que as RIs se consolidassem como campo influenciador das demais disciplinas, pois revelaria, a partir do conceito de Desenvolvimento Desigual e Combinado, as principais causas dos arranjos sociais mundo afora. É importante lembrar que Trotsky desenvolveu a teoria acima ao analisar o contexto da Rússia pré-revolução, concluindo que o atraso na industrialização de um país levaria inevitavelmente à discrepância nos segmentos da economia, pois a lógica seria importar tecnologias industriais altamente avançadas para aplicação imediata, deixando outros setores em atraso de desenvolvimento.