Sentido da Política Interna e Externa
Por: Rebeca Borges • 5/9/2024 • Dissertação • 1.190 Palavras (5 Páginas) • 50 Visualizações
A princípio, o ser humano sempre buscou sentido e lógica para tudo aquilo que é executado e vivido, desde crenças nas explicações mitológicas gregas para tudo aquilo inexplicável ou sobre as questões inerentes a vida e ao cotidiano á convicção na narrativa de constante perseguição mundial pelo capital para justificar o bem-estar social e individual. Para o homem, espécie tão demasiadamente desprovida de habilidades físicas e biológicas vantajosas no hostil reino animal, a estratégia de sobrevivência, explicitamente replicada, em todas as épocas, foi, a partir da organização em sociedade, o uso da força braçal e do conhecimento empírico e técnico para vencer as intemperes ambientais e dominar os demais animais. Já para superar e se destacar dentro da própria espécie, observa-se a apropriação da razão para persuadir, segundo algum interesse, algum outro indivíduo ou grupo, a fim de se estabelecer dentro da ordem e permanecer junto aos seus descendentes. Ou seja, conquistado o estabelecimento da transformação da opressão pela seleção natural da natureza selvagem em um ambiente com um funcionamento autossuficiente e que suporte e forneça recursos às amplas pluralidades e diferenças humanas, resta ao ser humano a preocupação com seus próprios dilemas individuais e coletivos. Sob esse viés, é evidente e inquestionável que, para muito além da implantação de avanços científicos-tecnológicos para a promoção da vida, é próprio da natureza humana encontrar e contrair sentidos ou ressignificar narrativas perante a sociedade, para que, só assim, possa ser atingido o sucesso biológico da espécie.
Nesse contexto, tal realidade é transposta para o cenário internacional. Nesse ínterim, todas as parcerias, relações, e trocas comerciais são baseadas em algum sentido. Porém, nota-se ainda, o pressuposto da inexistência da naturalidade da espontaneidade e da bondade gratuita mútua entre nações, sendo a época e os interesses vigentes a maior orientação para todo e qualquer sentido imposto na política externa.
Outrossim, compreendido e convencionado a subordinação do "sentido" perante os interesses e o período corrente, cabe assimilar também a condição privilegiada e de elevação atingida por países que conseguem consolidar alguma base lógica duradoura em sua política externa, sobretudo aquelas mais integradas e conectadas mundialmente e direcionadas para o longo prazo. Isto é, até mesmo para exercer a natureza humana dos sentidos e da razão das ações, é necessária uma consistente organização social nacional que tenha como produto um Estado Nação forte e ligado para além do governo vigente, mas fortificado e baseado no bem comum para aquele país passada as décadas.
Nesse sentido, convém ressaltar também o meio para se alcançar um Estado Forte. Segundo Acemoglu e Robinson, 2012 “Instituições fortes são a base de um estado forte. Elas garantem a aplicação da lei, a proteção dos direitos de propriedade e a prestação de serviços públicos essenciais, criando um ambiente estável e previsível para o desenvolvimento econômico e social”. Portanto, não há Estado Forte com instituições fracas, ou seja, Poder Judiciário, Executivo e Legislativo dependentes ou subordinados a qualquer outro agente, interesse pessoal, grupo social ou demanda estrangeira.
No caso brasileiro, avaliando a partir de 1822 com a Proclamação da Independência de Portugal, houve a instituição da monarquia com um imperador português, sendo esta a primeira fraude e paradigma criado e vivido na história nacional. Nesse cenário, o Brasil, assim como qualquer ex-colônia latina ou africana que passou a ser independente, inicia-se sua trajetória com políticas primitivas em relação ao que era executado nos demais países no período, ou seja, por tratar-se anteriormente de apenas um território de extração de matérias primas para abastecimento da metrópole, há um “atraso” notável na política externa brasileira. Portanto, enquanto uma grande parte dos demais países avançavam e evoluíam sua política externa para o fortalecimento do status quo (restauração, segundo o Congresso de Viena, da ordem monárquica após as Guerras Napoleônicas) e estabeleciam influência na América Latina a partir da Doutrina Monroe (EUA), o Brasil necessitava ainda instituir, intensamente, políticas iniciais, voltadas para o fortalecimento e reconhecimento da jovem nação, como a proteção e delimitação do território e do poder recém estabelecido inicialmente por Dom Pedro I, sendo a Revolta da Armada, em 1893, a Revolução Federalista, iniciada no Rio Grande do Sul, que atingiu Santa Catarina e Paraná, no mesmo ano, e Canudos, em 1897 os principais dilemas territoriais, sociais e regionais internos vividos nos próximos anos pós independência.
Primeiramente, uma figura de destaque nos primeiros anos pós independência certamente foi José Bonifácio, responsável pela tentativa inicial da promoção inicial do reconhecimento externo no novo país. Segundo o livro: “A Diplomacia na construção do Brasil”, de Rubens Ricupero, Bonifácio almejava que, em parceria com os outros governos da América Espanhola, pudesse haver uma oposição e uma defensiva conjunta contra as imposições europeias, sobretudo da Espanha e da Rússia, para a elevação brasileira de ex-colônia para império independente. Porém, ocorreu o que José certamente não esperava: a instabilidade interna compromete a execução dessa demanda inicial de política externa desenvolvida pela recém-criada por ele: Secretaria de Estado dos Negócios Estrangeiros. Ademais, após a crise causada pelo golpe do Imperador contra a Assembleia Constituinte, José Bonifácio foi preso e exilado por um longo tempo, sendo inevitavelmente impedido de praticar qualquer política ou plano na política externa. Portanto, é justamente nesse momento que pode-se observar o estabelecimento de um dos primeiros sentidos entre a política interna e política externa brasileira: a subordinação de qualquer decisão mais autônoma e independente no campo das Relações Internacionais perante a instabilidade natural dentro de um jovem governo, elevando e imperando, dessa maneira, os interesses das elites locais vigentes e do governo sobre qualquer outra posição estratégica que um diplomata possa desenvolver.
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