A Disciplina de Teoria das Relações Internacionais
Por: wellington souza rodrigues • 27/7/2021 • Resenha • 2.765 Palavras (12 Páginas) • 205 Visualizações
Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ
Disciplina de Teoria das Relações Internacionais
RESENHA CRÍTICA:
HOBSBAWN, Erick I. Nações e Nacionalismo desde 1780: programa, mito e realidade. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1990.
Rio de Janeiro,
22 de maio de 2014.
RESENHA
HOBSBAWN, Erick I. Nações e Nacionalismo desde 1780: programa, mito e realidade. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1990.
Historiador marxista, o intelectual britânico Eric John Ernest Hobsbawm ganha destaque em todo o século XX, por desenvolver estudos sobre a construção de tradições dos Estados-nação, tradições essas, inventadas pelas elites nacionais, que servia para justificar a existência de cada nação. Considerado um dos mais importantes historiadores contemporâneos, Hobsbawm, comunista, utilizou-se do método marxista de análise histórica, sempre partindo do conceito de luta de classes.
Filho de judeus, Hobsbawm nasceu em 1917, num Egito ainda sob dominação britânica, mas passou seus os primeiros em Viena e Berlim. Viu em ambos os países as consequências diretas da Primeira Guerra Mundial e tornou-se, desde muito jovem, membro ativo do partido Comunista. Adepto de Marx, em 1933, quando Hitler chega ao poder, Hobsbawm muda-se para Londres e se forma em História na Universidade de Cambridge. Lá, realizar importantes estudos em História Social: trabalhismo, revoluções burguesas, industrialização, luta do proletariado. Dedicou-se, portanto, à interpretação dos séculos XIX e XX. Morreu em 2012, em Londres, de pneumonia, entre outras complicações decorrentes da leucemia.
Baseado no conteúdo da Conferência de Wiles, de 1985, na Universidade de Queen (Belfast), Eric Hobsbawm escreve o livro Nações e Nacionalismo desde de 1780. A leitura dessa obra pode, a princípio, causar certa estranheza, pois trata-se de uma obra de sistematização. Ele faz uma discussão sobre a questão nacional, um tema, para o autor, bastante controverso. A obra foi organizada, portanto, em seis capítulos, e, na introdução, Hobsbawm deixa bem claro seu objeto de estudo – os termos nação e nacionalismo –, analisados em várias épocas, selecionando, para entendê-los, uma lista de autores e obras que considera fundamental sobre o tema. Cita os trabalhos de Hroch, Benedict Anderson, Adam Smith e outros. Nos três primeiros capítulos, destaca conceitos sobre nação, na perspectiva de vários países e autores, que produziram discursos na época, como Walter Bagehot, John Stuart Mill e Ernest Renan; e nos três últimos, volta-se ao nacionalismo e às transformações de ambos os conceitos, que chegam ao apogeu em 1918-1950.
No primeiro capítulo, Hobsbawm utiliza o conceito de nação no sentido moderno, afirmando que a característica básica da nação moderna é a sua modernidade. O termo nação, na realidade, não é tão velho quanto a História, surgiu nos séculos XVIII e XIX, e teve seu período mais iluminado em 1968-1988. Considerando que o governo, antes de 1884, não estava ligado ao conceito de nação, a palavra nação se define por, segundo a Enciclopédia Brasileira Mérito, “uma comunidade de cidadãos de um Estado, vivendo sob o mesmo regime ou governo e tendo uma comunhão de interesses; a coletividade de habitantes de um território com tradições, aspirações e interesses comuns, subordinados a um poder central que se encarrega de manter a unidade do grupo; o povo de um Estado, excluindo o poder governamental”. Há grande dificuldade, porém, em distinguir uma nação de outra. Muitos autores definem nação com visão semelhante à do Dicionário da Academia Espanhola: “[nação é] a coletividade de pessoas que tem a mesmo origem étnica e, em geral, falam a mesma língua e possuem uma tradição comum”; isso, entretanto, não dá ideia de nação. É necessário considerar, primeiro, a nação como sendo um corpo de pessoas suficientemente grande, cujos membros, como passado e cultura comum ou não, consideram-se pertencentes a ela, e depois analisar seus fenômenos em termos econômicos, administrativos, técnicos e políticos. Com o desenvolvimento das províncias e dos termos, o moderno significado de nação passou a abranger um Estado ou corpo político que reconhece um centro supremo de governo comum a seus habitantes. Na realidade, a relação povo-nação passou a representar o interesse comum contra os interesses particulares e o bem comum contra o privilégio.
A nação de Adam Smith, contudo, consistia apenas de uma coleção de indivíduos vivendo em um território do Estado, e o fato de toda essa gente estar morta em cem anos tornava impossível considerar a nação como entidade continuamente existente, apoiado nessa tese por John Stuart Mill e Walter Bagehot. Os liberalistas criticavam o mercantilismo, pois acreditavam que deveria numa separação entre empresa e nação, enquanto o mercantilismo defendia que não havia lugar para a nação ou qualquer coletividade maior do que uma empresa – no mercantilismo, as nações estavam diretamente ligadas às empresas. Nessa época, as nações se avaliavam entre si tanto cultural como economicamente; se não detivessem de grande força e influência, se associavam a outras por proteção, e, se se associavam, deixavam de ser nação, uma vez que era a expansão e a evolução econômica que as determinava como nação.
As nações tornam-se, assim, uma das melhores opções para unidade mundial, uma vez que, se promovem movimentos pela expansão ou unificação nacional, poderá também faze-lo em amplitude global. Isso ainda reforça a incompatibilidade em definir nações baseando-se na etnicidade, língua ou história comum. Há aí uma multinacionalidade, multilingualidade ou multietnicidade.
Para os austro-marxistas, os Estados-Nações seriam agrupamentos heterogêneos, e ocorriam por toda a Europa. Esses agrupamentos, no entanto, não se vinculam ao território, mas sim às pessoas. De acordo com Marx e Engels, a nação representaria, portanto, um estágio de desenvolvimento histórico da sociedade humana, se a partir dela a sociedade podia se organizar. Dessa formas, na prática, havia apenas três critérios que permitiam um povo ser classificado como nação: sua associação histórica ou sua identificação como nação; a existência de uma elite cultural longamente estabelecida e sua capacidade de conquista. A melhor maneira de garantir a nacionalidade, para tornar nação, é pertencer a alguma entidade política. Benedict Anderson: “Até 1945, onde há vestígios, os que falavam dialetos germânicos, e cujas elites usavam a língua da cultura alemã; padronizada e escrita, estavam estabelecidas não em suas regiões principais da Europa central, mas também como classes dirigentes e como os citadinos nos trechos de áreas camponesas por toda a Europa do leste e do sudeste (...) todos eles viam a si mesmos como alemães”.
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