A Marginaliz(ação) do Funk
Por: André Lima • 21/8/2019 • Artigo • 3.312 Palavras (14 Páginas) • 189 Visualizações
A MARGINAL(IZ)AÇÃO DO FUNK DIANTE DE UMA SOCIEDADE INTRANSIGENTE[1].
Carlos André Bezerra da Lima Santiago[2]
Richard Douglas Gomes Dos Santos[3]
Resumo
Gênero musical bastante taxado pela sociedade como um sinônimo de desordem social, ignorância, incitação à violência, drogas e sexo. O funk é um estilo musical que advém de outros estilos, que por sua vez passam por classificações que são atribuídas a determinadas regiões, assim como a carioca e a paulista, por exemplo. Trazendo consigo a característica de letras fortes e contundentes em relação a sua composição e forma de exposição. Esse gênero musical trás consigo a marca de ser um estilo polêmico, mas que ao mesmo tempo serve como um canal de exposição das mazelas vividas por um setor da sociedade que é marginalizado.
Palavras-Chaves: Sociedade; Funk; Marginalização; Preconceito e Comunicação.
Abstract
Musical genre quite taxed by society as a synonym of social disorder, ignorance and incitement to violence, drugs and sex. The funk is a musical style that comes from other musical styles and that in turn pass through classifications that are synthesized to certain regions, as well as the carioca and paulista, always with strong points in relation to its composition and form of exposition, this musical genre carries with it the mark of a controversial style, but at the same time serving as a channel for spreading the ills experienced by a marginalized people.
Key-words: Society; Funk; Marginalization; Prejudice and Communication.
Introdução
Favelas dos grandes centros do Brasil são o local onde se concentram os Mc’s[4], sejam de sucesso ou não, mas tendo voz e sendo ouvidos pela grande massa, essas comunidades por sua vez são dominadas por facções e pelo crime organizado, e o funk por estar inserido nessa região, não escapa disso, funcionando como um porta voz das facções para vangloriar feitos e provocar facções rivais. Mas esse é apenas um dos “estilos” dentro do funk.
Ostentação, superação, frustrações, crimes, lazer, amor, tudo isso são temas inseridos nas letras de funk. Dessa forma, os Mc’s mostram sua voz, sua cara e sua realidade através da música, da melodia e do ritmo. O funk tem uma função social muito importante pois movimenta a economia das periferias e proporciona visibilidade as comunidades, dessa forma tira um pouco o foco da criminalidade existente nas periferias, assim proporcionando a essas pessoas opções de descontração e alegria, muitas vezes em meio a pobreza e a miséria na qual vivem.
O funk é um gênero musical que vem durante anos buscando o seu espaço em meio à cultura que está inserida na sociedade, e apesar de ser conhecido como “música de periferia”, ano após ano esse rótulo vem sendo desconstruído, fazendo com que o argumento de que o funk é a música de apenas um povo - os pobres – seja desconstruído. Como tantas outras coisas, esse estilo musical não escapou do processo de elitização, e é com nomes consagrados desse meio musical que ele vem ganhando seu espaço de maneira avassaladora, construindo sua trajetória já chegou a se tornar trilha sonora de novelas, filmes e videoclipes, que atingem a marca de milhões de acessos e visualizações na web. E isso nos faz pensar que no início da sua propagação pelo Brasil, era quase impossível esse gênero musical ter tamanho alcance, fosse por conta do preconceito ou das associações pejorativas que eram feitas e que perduram até os dias de hoje.
O termo funk não faz jus ao tradicional funk norte americano lançado em 1967 por James Brown. No entanto, não devemos negar a influência da música afro-estadunidense na origem do funk do Rio, tendo em vista que “o ritmo contagiante terminou sendo incorporado e recriado por cantores e compositores negros brasileiros como Genival Cassiano, Toni Tornado, [...] Tim Maia” (ALBUQUERQUE, FRAGA FILHO, 2007)
A construção do funk no Brasil foi e é um processo que sempre estará se moldando conforme as necessidades do mercado, ainda há quem condene esse estilo musical, apontando-o como um lixo social, mas há também aqueles que o defendem e mostram seus ideais de como ele foi e continua sendo importante na vida de inúmeras pessoas, deixando pra trás o pensamento de ser apenas uma válvula de escape na vida daqueles que querem “descolar uns trocados” aos finais de semana, animando festas e bailes funk. A generalização dos termos pejorativos ditos sobre as comunidades acabam atingindo também quem ali vive, “falam que as favelas do Rio têm facção. Quem tem facção é o crime organizado, não são as favelas. A favela sorri, a favela chora, fica tensa. Na favela é todo mundo junto.” (LEONARDO, mc. Entrevista Produção Cultural no Brasil. 2011). Isto faz com que haja um péssima olhar da sociedade sobre todos os moradores que ali residem, de maneira sórdida, menosprezando e desprezando todo e qualquer beneficio oferecido por aquela localidade.
Funk: Da composição à adjetivação de valores.
Diferente do que se vê em outras composições de gêneros musicais, o funk é uma via de mão dupla, que serve tanto como um meio de divulgação das problemáticas vividas entre os povos das periferias, quanto um grito de liberdade para ressaltar o modo que a vida é levada dentro dos becos e vielas das favelas. Já diz a composição dos Mc’s Cidinho e Doca de 1994, cujo titulo é “Rap da Felicidade”:
Minha cara autoridade, eu já não sei o que fazer
Com tanta violência eu sinto medo de viver
Pois moro na favela e sou muito desrespeitado
A tristeza e alegria aqui caminham lado a lado
Eu faço uma oração para uma santa protetora
Mas sou interrompido à tiros de metralhadora
Enquanto os ricos moram numa casa grande e bela
O pobre é humilhado, esculachado na favela
Já não aguento mais essa onda de violência
Só peço a autoridade um pouco mais de competência
Eu só quero é ser feliz
Andar tranquilamente na favela onde eu nasci, é
E poder me orgulhar
E ter a consciência que o pobre tem seu lugar.[5]
Pode-se constatar claramente na letra desta canção, o quanto o funk surge como um som que ecoa aos quatros cantos, mostrando o que a favela quer falar, e o que os morros gritam e gemem diante da tamanha segregação. Cada funkeiro[6] tem uma história de vida, há os que optam por viver desse meio, que é o funk, fazendo dele um pilar para a estruturação de uma vida menos segregada, usando disso, começam a descrever sua vida, acontecimentos que viveram ou vivem, e até sonhos que almejam alcançar, mas há também aqueles que aproveitam da vida no funk para denotar sua satisfação nos prazeres libidinosos e ilícitos, trazendo em suas canções apologia e incitação às práticas censuradas pela sociedade, por isso pode se dizer que há inúmeros estilos dentro desse gênero tão multifacetado que é o funk. Aqui são mostrados alguns exemplos: funk pop, funk carioca, funk paulista “ostentação”, funk consciente, funk melody e funk proibidão[7], dentre tantos outros que ao longo dos anos foram sendo denominados a cada região que chegavam.
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