Resenha - Raizes do Brasil
Por: marcella.ere • 5/7/2016 • Resenha • 1.603 Palavras (7 Páginas) • 1.079 Visualizações
RESENHA – RAIZES DO BRASIL
Sergio Buarque de Holanda, Paulista, historiador e jornalista, publicou a obra Raízes do Brasil em 1936, onde ele busca explicar os novos tempos a partir do entendimento e da analise das origens da sociedade Brasileira.
Raízes do Brasil trata, essencialmente, da transição do modo rural para o urbano que se delineava nas primeiras décadas do século XX. Vale ressaltar que o livro foi escrito diante de um cenário de centralização administrativa que alterou o lugar dos grupos de poder local e regional, principalmente depois da Revolta de 1930. Sua obra teve grande importância na formação de uma geração, segundo Antônio Candido, e compõe os grandes clássicos da literatura nacional. O autor fundamenta a sua obra em sete momentos, ou capítulos, fundamentais, sobre os quais discorrerei em seguida.
Fronteiras da Europa, o primeiro capítulo da obra, traz uma analise sobre a localização geográfica dos países Ibéricos e sua aptidão para as grandes navegações. Para os países Ibéricos, segundo o autor, cada homem tinha que depender de si próprio. Eles não possuíam uma hierarquia feudal enraizada, por isso a burguesia mercantil se desenvolveu primeiro nesses países. Somado a isso, havia o chamado relaxamento organizacional, muito presente na história de Portugal. Para Sérgio Buarque, a aparente anarquia ibérica era muito mais correta, muito mais justa que a hierarquia feudal, pois não tinha muitos privilégios. Ele flagra na nobreza portuguesa uma certa flexibilidade, e aponta para varias características ibéricas na construção cultural brasileira.
Em Trabalho e Aventura, o autor defende que os portugueses eram os mais aptos para a missão no Novo Mundo. Em sua tese, Sérgio Buarque fala que existem dois tipos de homens; um com olhar mais amplo, o aventureiro, e outro com olhar mais restrito, o trabalhador. O português foi o povo que melhor se adaptou na América justamente por seu espirito aventureiro, mas isso só funcionou com o respaldo da economia escravista colonial, baseada no comercio do escravo negro. Como o fator "terra" era abundante na colônia, não havia preocupação em cuidar do solo, o que acarretou em sua deterioração. O autor acredita que os portugueses se aproveitaram de muitas técnicas indígenas de produção, o que criou um certo vinculo inicial que distanciou os índios da escravidão.
Para Sérgio Buarque, os portugueses já eram mestiços antes dos descobrimentos, pois já conheciam a escravidão africana no seu país. O autor fala da importância da mão de obra escrava e critica os colonos holandeses que não procuraram se fixar no Brasil, pois, segundo o autor, tais colonos trouxeram para o Brasil um aspecto que não se adequou aqui, a formação do seu caráter urbano, quase liberal, incompatível com o momento histórico. Ele termina o capitulo ressaltando qualidades portuguesas que permitiram o êxito da colonização, como a língua e a religião, e demonstrando como a mestiçagem foi fundamental para a construção da nova nação.
No capitulo Herança Cultural, o autor analisa a marca da vida rural na formação social brasileira, a relação rural-urbano, que marca em vários níveis a fisionomia do Brasil. A estrutura da sociedade colonial era rural, ou seja os senhores rurais detinham o poder. Dentro desse contexto, a abolição da escravatura aparece como um grande marco na nossa história. O autor ressalta que entre 1851 e 1855, observou-se um notável desenvolvimento urbano, graças à construção das estradas de ferro, e que tal desenvolvimento esteve muito ligado à supressão do tráfico negreiro. Muitos senhores rurais eram contra esta supressão, o que resultou numa continuidade do tráfico, mesmo depois de abolido legalmente. Buarque de Holanda fala que houve um aproveitamento do capital oriundo do tráfico para abrir outro Banco do Brasil. Fala também um pouco das especulações em cima do tráfico e da abertura deste Banco.
Para o autor, havia uma incompatibilidade entre as visões do mundo tradicional e o mundo moderno, o que resultou em muitos conflitos. Exemplo disso foi o malogro comercial sofrido por Mauá. O Brasil não tinha a menor estrutura econômica, política ou social para desenvolver a indústria e o comércio. Segundo a concepção do autor, a vida da cidade se desenvolveu de forma anormal e prematura.
Em Semeador e o Ladrilhador, o autor aborda a temática das cidades como instrumentos de dominação. Ele vai marcar as diferenças entre as colônias portuguesas e espanholas. Enquanto a colonização portuguesa se concentrou predominantemente na costa litorânea, a colonização espanhola preferiu adentrar para as terras do interior e para os planaltos. As bandeiras normalmente acabavam se transformando em roças, à exceção da descoberta do ouro, pois com tal descoberta a metrópole tentou evitar a migração para o interior da colônia. Mesmo sendo mais liberais que os espanhóis, os portugueses mantinham firme o pacto colonial, proibindo a produção de muitas manufaturas na colônia. Também falou da falta de planejamento e infraestrutura portuguesa na construção das cidades. Falou também um pouco da história política de Portugal que, segundo o autor, vincula-se à vontade que a maior parte da população tinha em se tornar nobre, e tal desejo pode ser facilmente constatado no Brasil, mostrando que o papel da Igreja aqui era o de “simples braço de poder secular, em um departamento da administração leiga”.
Nas notas do capítulo, o autor trabalhou com a questão da vida intelectual tanto na América espanhola como na portuguesa, mostrando que na primeira ela era mais desenvolvida. Tratou da língua geral de São Paulo, que durante muitos séculos foi a língua dos índios, devido à forte presença da índia como matriarca da família. Falou da aversão às virtudes econômicas, principalmente do comércio. E por fim, da natureza e da arte coloniais.
No quinto capitulo, O Homem Cordial, Sérgio Buarque diz que o Estado não foi uma continuidade da família. Comparou tal confusão com a história de Sófocles, sobre Antígona e seu irmão Creonte, sobre um confronto entre Estado e família. Houve muita dificuldade na transição para o trabalho industrial no Brasil, onde muitos valores rurais e coloniais persistiram. Para o autor, as relações familiares (da família patriarcal, rural e colonial), eram ruins para a formação de homens responsáveis. Até hoje vemos a dificuldade entre os homens detentores de posições públicas conseguirem distinguir entre o público e o privado.
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