Tortura
Resenha: Tortura. Pesquise 862.000+ trabalhos acadêmicosPor: carlos.angelini • 9/9/2014 • Resenha • 2.544 Palavras (11 Páginas) • 197 Visualizações
der de um dos movimentos mais importantes da história do futebol brasileiro, a ‘Democracia Corintiana', o ex-lateral esquerdo Wladimir, jogador com maior número de partidas com a camisa do Corinthians, está desiludido. Desiludido com o país - "no estado em que se configuram as coisas, eu diria que há um retrocesso" -, com a persistência do racismo - "Pelé mesmo foi um que não acreditava que existisse racismo aqui" - e com o futebol.
SAIBA MAIS
Corinthians contesta declarações de Wladimir e lembra que homenageou ídolos da Democracia
Paulão (dir.) disputa bola com Riveros durante clássico entre Grêmio e Inter
Racismo leva Grêmio de novo ao tribunal nesta semana
Site CBF Erro Renda
Para CBF, jogo do Brasileirão tem renda de R$ 204 milhões
Corinthians Edu Gaspar Mario Gobbi treino
Edu pede paciência na busca por reforços para o Corinthians
Nem mesmo o movimento Bom Senso empolga Wladimir. "Faltou conteúdo pro movimento. Eles estavam buscando melhor condição de trabalho, mas para uma elite."
'Democracia Corintiana', diz o ídolo alvinegro, hoje é sinônimo de algo bastante diferente do que ele, Sócratés e Casagrande pregavam na década de 1980, no Parque São Jorge, com o fim da concentração entre os atletas e igualdade de importância entre roupeiros, jogadores e cartolas.
"O ex-presidente do Corinthians, o Andrés - Sanchez -, chegou a declarar que a democracia era o que ele impôs e não o que a gente viveu, porque ele levou uma moçada pra uma balada, jogadores do Corinthians, numa excursão que eles fizeram e ele disse que aquilo sim era democracia, não aquela que existiu. Somos persona non grata no Corinthians por conta desse movimento, eu, Sócrates e Casagrande."
Desiludido, mas não derrotado, Wladimir, hoje membro ativo do Sindicato dos Treinadores do Estado de São Paulo e assessor da prefeitura de São Sebastião, no Litoral Paulista, não perdeu a capacidade de questionar e de refletir sobre a realidade que o cerca.
Leia a entrevista na íntegra:
ESPN.com.br: Mudou algo em relação à politização do jogador de futebol da sua época para hoje?
Wladimir: Infelizmente, a politização no futebol continua no nível do povo brasileiro. O povo brasileiro, eu diria a grande maioria, não tem consciência politica, não tem noção, ideia do que representa votar em candidatos em quem você acredite que encaminharão as demandas e as necessidades da população como um todo.
ESPN.com.br: O mesmo vale para o jogador negro quanto à consciência de sua origem?
Tem ícones no Brasil que não sofreram preconceito e não têm noção exata do que é ser discriminado. Isso não é culpa deles, é simplesmente pela falta de experiência e vivência dessa situação. Eu sofri vários casos de racismo.
ESPN.com.br: Aqui no Brasil?
No Brasil, isso tá diretamente ligado à forma como o negro chegou no Brasil, em condição subalterna, em condição de escravo e isso permaneceu ao longo de varias gerações. As pessoas não perceberam que o negro evolui, que o negro passou a ater condições iguais a todo mundo, embora tenha vivido um bom tempo sem essa possibilidade. Por isso sou a favor das cotas raciais, por conta desse período em que o negro não teve acesso à informação, educação. É uma divida que o país tem com a comunidade negra.
ESPN.com.br: Quando você fala do racismo com que sofreu durante a carreira, foram casos como o protagonizado recentemente pelo goleiro Aranha?
Jogador do Santos, Aranha foi xingado de ‘macaco' por torcedores do Grêmio durante partida em Porto Alegre, pela Copa do Brasil
Não, esse tipo de coisa no Brasil não acontecia e não aconteceu na minha época. A gente sentia isso num momento de enfrentamento, de disputa, ai que as pessoas acabam exacerbando isso, dentro de campo, fora. Isso é muito comum num momento de disputa, nesse momento as pessoas diziam, ‘só podia ser preto mesmo', esse tipo de frase ouvi algumas vezes. Mas é também um momento de quase irracionalidade das pessoas, elas estão nervosas, não estão no seu estado normal de consciência.
ESPN.com.br: Mas isso não vale para o caso do Aranha também?
É...É um caso típico disso, manifestação preconceituosa a partir de um confronto e a pessoa para agredir acaba manifestando esse sentimento racista.
Exclusão do Grêmio foi correta? Qual é a maior série de vitórias do Flamengo? Pato ou Jadson?
ESPN.com.br: E você achou que foi justo o Grêmio ter sido expulso da Copa do Brasil após as ofensas ao Aranha?
Achei que foi uma postura enérgica, e se você não tiver uma postura enérgica nesse tipo de coisa, fica por isso mesmo. É o que eu falei, quando você não tem consciência da coisa, você não enfrenta. Essa foi uma forma de punir e contestar severamente um comportamento. As pessoas têm que ter domínio do seu comportamento. É a mesma coisa que o cara quando está nervoso pegar e dar um tiro no outro numa briga de trânsito, ‘ah, seu filho da...e ‘pum', mata', no minuto seguinte, ele se arrependeu. Você vai alegar que estava nervoso? Você justifica, mas já matou o cara.
ESPN.com.br: Esse episódio, na sua opinião, mostra que o racismo está se tornando mais frequente ou que as reações estão sendo mais fortes, pelo Grêmio ter sido duramente punido e pelo jogador ter se manifestado como se manifestou?
Isso é manifestação pura de uma sociedade que não reconhece o racismo e o preconceito. Aqui no Brasil, o racismo é velado, é uma pseudodemocracia racial, e infelizmente, a gente só agride uma manifestação quando tem consciência dela. Pelo fato de ser velado o preconceito no Brasil, as pessoas não se posicionam. Muitos negros acham que no Brasil não existe racismo. O Pelé mesmo foi um deles que não acreditava que existisse racismo aqui, até porque, com 17 anos era campeão do mundo.
ESPN
thumb Wladimir 60 anos
Wladimir disputou mais de 800 jogos pelo Corinthians
ESPN.com.br:
...