O ACONSELHAMENTO PASTORAL EM SITUAÇÕES DE CRISE PESSOAL: BREVE ABORDAGEM A PARTIR DA CLÍNICA PASTORAL, RESILIÊNCIA E ESPIRITUALIDADE CRISTÃ.
Por: Claurete • 29/5/2022 • Trabalho acadêmico • 5.595 Palavras (23 Páginas) • 216 Visualizações
CLAURETE MARISA SAUERESSIG
ACONSELHAMENTO PASTORAL EM SITUAÇÕES DE CRISE PESSOAL: BREVE ABORDAGEM A PARTIR DA CLÍNICA PASTORAL, RESILIÊNCIA E ESPIRITUALIDADE CRISTÃ.
Trabalho apresentado como requisito para a Integralização do Curso de Teologia da Faculdade de Teologia da Escola Superior de Teologia.
Orientador: Lothar Carlos Hoch
São Leopoldo
2015
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO 3
NATUREZA E DINÂMICA DAS CRISES 4
Fases do desenvolvimento da crise 4
Tipos de crise 5
A sintomatologia da crise 6
As chances do pastor e da pastora no acompanhamento de pessoas em crise 7
Formas de intervenção pastoral junto a pessoas em crise 9
Contribuições específicas do estudo da resiliência para o aconselhamento pastoral 12
CONCLUSÃO 14
BIBLIOGRAFIA 17
INTRODUÇÃO
Vivemos numa cultura orientada fortemente para a superficialidade das relações. O estilo de vida de nossos tempos se caracteriza por uma superabundância de contatos e uma pobreza de relacionamentos. Percebe-se que a carência de relacionamentos profundos tem aumentado significativamente o índice de situações de crise pessoal. Como Igreja também temos negligenciado, em grande parte, o olhar atento e sensível às necessidades profundas das pessoas.
A falta de uma presença mais humana e acolhedora da Igreja justamente nos momentos de maior angústia e desespero tem levado sempre mais pessoas a buscarem ofertas alternativas fora dos âmbitos eclesiais para tratar de suas dores. O clamor angustiante de tanta gente necessitada de ajuda e a evasão significativa de fiéis têm despertado a busca de capacitação para o aconselhamento pastoral por um número crescente de ministros e ministras religiosos.
Antes de procurar por alternativas de intervenção, um estudo aprofundado, para entender o que acontece no interior de uma pessoa em crise, mostra-se como pressuposto para quem, em seu ofício, lida constantemente com esse fenômeno. Ainda que lidar com o sofrimento humano se constitua numa questão central e perene para a teologia[1], este é sempre um grande desafio para nós, enquanto pastores e pastoras, pois, relacionar-se com as profundezas de outra pessoa mexe com as nossas próprias dores e limitações humanas. Daí a importância de buscarmos melhor capacitação, pois, como diz Clinebell, “somente quem descobriu nova vida em suas próprias profundezas pode tornar-se uma obstetra espiritual, contribuindo para o nascimento de vida nova em indivíduos e na igreja”.[2]
Bebendo de três fontes, psicologia pastoral, resiliência e espiritualidade cristã, a presente pesquisa busca entender melhor os recursos pessoais, metodológicos e espirituais com os quais podemos contar na nossa tarefa de acompanhar pessoas em situações de crise. Ao compreender mais claramente quais são as chances e limitações do aconselhamento pastoral, poderemos torná-lo mais eficaz em sua proposta de cura e crescimento.
NATUREZA E DINÂMICA DAS CRISES
Crises são momentos vividos por todo e qualquer ser humano. Trata-se de uma experiência humana universal marcada pelo desespero, desânimo, transtorno e desorganização. Segundo Hoch, Maldonado e Clinebell a crise pode ser definida como uma reação interna a um evento que ocasiona uma mudança súbita na vida das pessoas envolvidas dando-lhes a sensação de impotência ou incapacidade de resolver a situação da forma costumeira. Devido à sensação de ameaça e de incerteza à própria sobrevivência física e emocional, a tensão do indivíduo aumenta até exceder a sua capacidade de lidar com a situação.
A crise provoca uma ruptura no interior do sistema de relações e exige a busca de novas formas de funcionamento que estejam melhor adaptadas à nova situação por ela criada. Justamente por isso podemos afirmar que uma crise sempre traz em si uma situação paradoxal: se por um lado ameaça a estabilidade, podendo trazer resultados negativos de deterioração e paralisação frente à vida quando a pessoa não consegue processar a dor, por outro lado, apresenta grande oportunidade para que o sistema mude, gerando resultados positivos de crescimento e de amadurecimento.
Fases do desenvolvimento da crise
Tanto Clinebell como Hoch apresentam quatro fases principais no processo de desenvolvimento de uma crise:
O primeiro é o evento precipitador. Trata-se de um acontecimento que representa perda ou ameaça à vida da pessoa (perda do emprego, doença, morte, divórcio...). Este fato pede da pessoa a mobilização das habituais reações na tentativa de solucionar o problema.
O segundo momento é quando os recursos conhecidos se mostram insuficientes para resolver o problema e a necessidade não satisfeita persiste. Esta percepção causa a sensação de ameaça gerando ansiedade, confusão, culpa e desorganização pessoal. É preciso considerar que a percepção do significado de um determinado acontecimento difere de um indivíduo para outro, dependendo da sua estrutura psíquica e espiritual e das suas experiências anteriores.
O terceiro estágio é o momento em que se busca criativamente por novos recursos na tentativa de dar conta da tensão causada pelo evento aparentemente insolúvel. Nesse estágio o problema pode ser resolvido ou negado por meio de resignação. O objetivo do aconselhamento nesta fase é fortalecer a pessoa para mobilizar seus recursos latentes.
O quarto momento é aonde se chega ao desencadeamento da crise propriamente dita. Quando os “novos recursos” mobilizados também se mostram insuficientes para resolver o problema, a pressão interna das necessidades não satisfeitas aumenta tanto até o ponto de ruptura, onde ocorre uma séria desorganização da personalidade.
Embora toda crise seja estimulada a partir de um fato da vida, não são esses acontecimentos em si unicamente que a desencadeiam, mas a combinação de significados, idéias e sentimentos que cada pessoa ou família tem para lidar com a situação nova naquele momento histórico de sua vida. Por isso, mesmo que alguns acontecimentos sejam universalmente devastadores, não existe uma relação causa e efeito entre um incidente e a crise, tanto que as pessoas reagem de maneiras diferentes diante da mesma situação. Para algumas famílias, por exemplo, a prisão de um de seus membros pode ser um fato extremante devastador, enquanto que para outras não altera em nada a sua vida diária. A reação e a leitura dos eventos externos sempre vão acontecer a partir dos registros internos de cada pessoa ou grupo envolvido.
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