Cristãos Homoafetivo
Artigos Científicos: Cristãos Homoafetivo. Pesquise 862.000+ trabalhos acadêmicosPor: Ricardoldepaula • 16/10/2013 • 8.210 Palavras (33 Páginas) • 501 Visualizações
CRISTÃOS HOMOAFETIVOS
O SURGIMENTO DE UMA TEOLOGIA HOMOAFETIVA
Pedro Augusto Tozin Zuccoli*
Ricardo Lino de Paula
Resumo
Este artigo expõe a tensão existente na relação entre Igreja e Homoafetividade. Mostra que dentro de denominações cristãs há posturas conflitantes ao se lidar com a homossexualidade. O artigo traz a visão de igrejas tradicionais sobre a homossexualidade e as principais reinterpretações feitas por teólogos homoafetivos dos textos que usualmente são usados para condenar a homossexualidade. Os princípios teológicos contidos na teologia homoafetiva são expostos, mas há que se registrar que esta teologia ainda está em construção, não podendo, desta forma, ainda ser sistematizada. A Teoria Queer, em seu princípio de desconstrução da heteronormatividade, e aí se inclui o casamento de modelo tradicional, é a base fundamental da Teologia Homoafetiva contemporânea.
Palavras-chave: Homossexualidade; Reinterpretação; Legitimação; Cristianismo; Teologia homoafetiva.
Introdução
O que nos chamou a atenção e despertou nosso interesse pela escolha deste tema para este artigo foram os surgimentos do que chamamos de comunidades inclusivas, que aceitam pessoas assumidamente homossexuais inclusive no ministério pastoral. Queríamos entender de que forma caminham juntas homoafetividade, igreja e fé cristã. O artigo está dividido em três seções. Na primeira seção, A homossexualidade segunda as igrejas tradicionais, tratamos do conceito religioso sobre a homossexualidade e do Graduandos em Teologia pela Faculdade de Teologia da Universidade Metodista de São Paulo, matrículas 165717 e 167610, respectivamente. Trabalho de Conclusão de Curso com vistas à obtenção de grau de Bacharel em Teologia, sob a orientação do Prof. Dr. Cláudio de Oliveira Ribeiro – Maio de 2012.
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posicionamento de igrejas em relação à mesma. Na segunda seção, A reinterpretação de alguns textos bíblicos, abordamos as releituras dos textos considerados condenatórios da homossexualidade feitas por estudiosos defensores da homoafetividade. Na terceira e última seção, Uma teologia homoafetiva, tratamos do surgimento da que é, ou pretende ser, a teologia homoafetiva, também chamada teologia queer.
1. A homossexualidade segundo as igrejas tradicionais
No âmbito religioso, nosso foco são os conceitos e as posturas sobre a homossexualidade nas igrejas cristãs tradicionais, em geral pautados nos textos bíblicos. Se a interpretação dos textos usados para definir os conceitos é ultrapassada, fora da realidade atual ou simplesmente fundamentalista1 não cabe neste artigo este tipo de análise. Na segunda seção traremos as reinterpretações destes mesmos textos feitas por pessoas que defendem outro ponto de vista.
Para as igrejas cristãs tradicionais, em geral, a homossexualidade2 é uma prática condenada pela Bíblia e, por isso, também pela igreja. Comecemos com a postura da Igreja Anglicana sobre a homossexualidade. Ao nível mundial, da Comunhão Anglicana, os bispos, reunidos, em 1998, na Conferência de Lambeth, afirmaram “a incompatibilidade entre a prática homossexual e o ensino das Sagradas Escrituras”. Muito embora haja muitas divisões na Igreja Anglicana com relação à homossexualidade, como por exemplo, na Igreja Anglicana dos Estados Unidos, que em 2003 nomeou Vicky Imogene Gene Robinson como o primeiro bispo homossexual da igreja americana, na Diocese Episcopal de New Hampshire. Este fato teve desdobramentos em toda a Igreja Anglicana no mundo. Tivemos a notícia da renúncia do arcebispo de Canterbury Rowan
1 FUNDAMENTALISMO: O Fundamentalismo baseia-se na ênfase da Bíblia como sendo autoritativa, não só em matérias de fé, mas na regência da sociedade e na interpretação da ciência. A leitura fundamentalista da Bíblia é um entendimento literalista do texto bíblico, que considera sua forma final como a expressão verbatim da Palavra de Deus e a vê como clara, simples e sem ambiguidade. Normalmente recusa-se a usar o método histórico-crítico ou qualquer outro suposto método científico de interpretação e não leva em conta as origens históricas da Bíblia, nem o desenvolvimento de seu texto ou suas diversas formas literárias.
2 HOMOSSEXUALIDADE: Homossexualidade, também chamada de homossexualismo (do grego antigo ὁμός (homos), igual + latim sexus = sexo), refere-se ao atributo, característica ou qualidade de um ser, humano ou não, que sente atração física, estética e/ou emocional por outro ser do mesmo sexo.
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Williams3, anunciada oficialmente dia 16-03-2012. Segundo a BBC, Williams irá renunciar no fim de 2012. Segundo a BBC, que cita como fonte o jornal The Times, “o arcebispo de Canterbury Rowan Williams está pronto para renunciar depois da longa batalha dos últimos anos com a ala liberal da Igreja Anglicana sobre a questão da homossexualidade”. Ainda segundo a BBC, citando o jornal The Times como fonte, pessoas próximas a Williams afirmam que a sua decisão esta relacionada à perspectiva de uma provável derrota sobre o Pacto da Comunhão Anglicana, articulado para proporcionar uma posição comum depois da ordenação de um bispo homossexual, Gene Robinson, pela Igreja Episcopal norte-americana.
No Brasil, também houve desdobramentos, a Igreja Anglicana de Recife, então dirigida por D. Edward Robinson Cavalcanti (In Memoriam), bispo da Diocese Anglicana do Recife, viu-se, ele e a Igreja Anglicana de Recife, desligados da IEAB em carta assinada pelo então bispo Primaz Orlando Santos de Oliveira. Isto se deu pelo fato de D. Robinson Cavalcanti optar por seguir as diretrizes da Conferência de Lambeth ao invés da orientação da Igreja Episcopal dos Estados Unidos. Orientação esta que o bispo Primaz Orlando Santos de Oliveira impunha à Igreja Anglicana no Brasil, seguindo a linha norte-americana. Sobre uma leitura bíblica fundamentalista sobre a homossexualidade, em entrevista, D. Robinson citou:
O Cristianismo se baseia em fundamentos, em doutrinas credais e confessionais mantidas pela Tradição ao longo dos séculos, como o “Consenso dos Fiéis”. Defender fundamentos não é ser “fundamentalista” (bitolado, fanático). Há lugar para contextualização na Bíblia, mas não naqueles aspectos claros, que tanto os judeus, quanto os cristãos afirmam por 5.000 anos. “E criou macho e fêmea” é uma cláusula pétrea da ética sexual bíblica. Dizer o contrário é negação ou heresia. Os homossexuais devem ser amados,
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