O Processo de Racionalização do Campo Religioso
Por: Rafael Almeida • 10/7/2023 • Artigo • 4.963 Palavras (20 Páginas) • 56 Visualizações
O processo de racionalização do campo religioso na sociologia da religião de Max Weber
Rafael de Almeida Silva[1]
Resumo
Essa investigação busca discutir o processo de racionalização do campo religioso, usando como fundamentação teórica a sociologia da religião de Max Weber. A primeira seção discorre brevemente sobre a leitura racional (sociológica) do campo religioso em Weber e sobre os primórdios da racionalização do campo, referente ao plano mágico. A segunda seção aborda os papéis de três agentes que demarcam posição importante no campo: O mago, sacerdote e o profeta. A terceira e ultima seção discute o processo de racionalização do campo e a formação das congregações.
Palavras-Chave – Sociologia da Religião, Racionalização, Campo Religioso
Abstract
This research discusses the process of rationalization of the religious field, using as theoretical sociology of religion of Max Weber. The first section discusses briefly about the rational reading (sociological) in the religious field and Weber on the beginnings of the rationalization of the field, referring to the magic plan. The second section discusses the roles of three agents that demarcate important position in the field: The mage, priest and prophet. The third and last section discusses the process of rationalization of the field and the formation of congregations.
Keywords - Sociology of Religion, Rationalization, Religious Field
1 – Introdução
A presente investigação faz uma discussão sobre o processo de racionalização do campo religioso, tendo como base teórica a sociologia da religião em Weber.
Ao longo da discussão, Weber estabelece um fio condutor, no sentido de analisar o campo religioso através de um processo de racionalização do mesmo. Em sua análise propõe uma dupla racionalização, a primeira refere-se à sua abordagem do campo religioso, que o faz de maneira racional, uma leitura sociológica, a segunda se trata de sua análise do campo, concluindo que existiu um processo de racionalização do campo à medida que os elementos mágicos se afastaram, dando lugar aos elementos éticos e morais, e também à medida que as teologias foram se adaptando e se comunicando com o contexto político e econômico. A racionalidade está presente na análise sob esses dois aspectos.
A primeira seção faz um breve esclarecimento a respeito da proposta e dos elementos que o autor explora em seu estudo, e sobre a racionalização da magia. Para o teórico os mecanismos mágicos são racionais no sentido de que são utilizados para responder a necessidades do cotidiano, sendo inevitável a separação completa do mundo mágico do mundo prático, cotidiano.
A segunda seção estabelece a distinção de três papéis importantes exercidos no campo: O profeta, sacerdote e mago. O profeta seria aquele agente que possui o poder carismático, que anuncia os mandamentos, estabelece um novo paradigma no campo. O sacerdote seria o responsável pela inserção das profecias no contexto que lhe envolve, uma espécie de transmissão racionalizada (portanto transmutada) dos mandamentos, estaria o mesmo também inserido em uma congregação, sendo então, produto de uma prévia racionalização. O mago seria o opositor do sacerdote, agente autônomo, que traz consigo as habilidades mágicas de coação cósmica, estabelece uma relação de utilidade para com os leigos.
E terceira e ultima seção discute o processo de formação das congregações e racionalização do campo religioso. O próprio processo de formação dessas congregações já consiste uma espécie de racionalização, na medida em que são estabelecidas relações com a campo político e econômico nesse processo, e também de modo que a busca por legitimidade dentro do campo condiciona essas congregações a se adequar de certa maneira ao plano “intramundano” (prático). É a partir desse processo que também passa a existir uma racionalização no sentido de afastamento dos mecanismos mágicos ou supra-sensíveis, substituindo-os por normas éticas e morais. O processo de racionalização como um todo atinge sua plena forma com o protestantismo ascético.
2 – A Sociologia da Religião e a racionalização da magia
As ações mágicas ou religiosas, ainda que não condicionadas por estímulos estritamente racionais, orientam-se pelas experiências reais do cotidiano, existindo assim certo atrelamento dos elementos mágicos com as ações racionais. Nesse sentido, Weber ao fazer a discussão acerca da sociologia da religião, propõe um entendimento não teológico do campo religioso, não uma leitura interna, mas uma leitura sociológica, portanto racional, que busca compreender o surgimento e desenvolvimento das religiões não através de seu teor místico, mas através de uma lógica racionalista, de modo que a religião está inserida em um contexto, e nesse sentido, se comunica com os diversos campos da atividade humana, seja política, econômica, jurídica, etc. É pertinente ressaltar que o intuito do sociólogo não é propor uma subordinação dos mecanismos condicionantes da religião a algum outro campo da atividade humana, seja econômico, político ou qualquer que seja, mas sim uma comunicação, uma relação retroativa, de modo que o campo religioso age e sofre a ação dos diversos campos.
Mesmo nos rituais mágicos é possível observar certo grau de racionalização. Não é qualquer meio simbólico que pode ser utilizado como mecanismo para se atingir o objetivo mágico, mas sim aqueles sagrados, legítimos. Essa representação simbólica que projeta para o mundo paralelo (externo ao mundo real), também estabelece certa comunicação com o mundo real em suas significações. Na religião romana esse é um processo bastante presente, de modo que os deuses estabeleciam uma relação bastante especializada em relação às atividades do cotidiano, tendo suas significações lastreadas nessas práticas.
“Mas, sem dúvida, as divindades ctônicas que dominam as colheitas costumam ter um caráter mais local e popular do que as outras. E a preponderância dos deuses celestes personificados, que residem nas nuvens e nas montanhas, em relação às divindades terrestres, está com muita freqüência condicionada pelo desenvolvimento de uma cultura de cavaleiros e tende a fazer ascender e residir no céu também as atividades originalmente terrestres.” (WEBER 1998: 286)
Esse tipo de atrelamento ocorre também em relação à representatividade das profissões. O deus dos escribas, no antigo Egito, é sinal da ascensão da burocratização. No século XIX, o exército chinês impôs a canonização de seu deus da guerra: um indício da profissionalização da concepção militar (WEBER 1998).
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