Epistemologia do Turismo: Escolas Teóricas e Proposta Crítica

UEA – UNIVERSIDADE DO ESTADO DO AMAZONAS

ESCOLA SUPERIOR DE ARTES E TURISMO

CURSO DE TURISMO

ALUNO: RICARDO SALES

RESENHA DO TEXTO

NETTO, Alexandre Panosso; NECHAR, Marcelino Castillo. Epistemologia do turismo: escolas teóricas e proposta crítica. Revista Brasileira de Pesquisa em Turismo, v. 8, n. 1, p. 120-144, 2014.

Os autores apresentam a importância da epistemologia em turismo por dois motivos principais: primeiro, ela permite uma revisão sistemática do que é considerado conhecimento legítimo em turismo, o que é fundamental para o avanço da área; segundo, a epistemologia ajuda a definir as fronteiras dos estudos turísticos, que ainda não são totalmente claras. Além disso, foi destacado que a prática da epistemologia em turismo é fundamental para evitar que os estudiosos sejam influenciados por ideias hegemônicas e conservadoras, que buscam manter a ordem e o progresso atuais do turismo, sem questioná-los. A reflexão crítica promovida pela epistemologia permite revelar e descobrir as desigualdades, os problemas humanos e ambientais que fazem parte da estrutura funcional do turismo e do conhecimento produzido sobre ele.

A epistemologia é frequentemente chamada de gnosiologia, filosofia do conhecimento, crítica do conhecimento ou teoria do conhecimento, dependendo do idioma e da região. No entanto, os autores mostram que existe alguma variação nos termos usados em diferentes idiomas, com o termo "epistemologia" sendo mais comumente usado em alemão, espanhol, inglês, francês e português. Os autores também discutem a relação entre epistemologia e filosofia da ciência, sugerindo que a epistemologia se concentra mais na origem, estrutura, métodos e validação do conhecimento, enquanto a filosofia da ciência está mais preocupada com a natureza da ciência como uma disciplina. Uma outra questão abordada é de se a epistemologia é ou não uma disciplina filosófica, destacando a perspectiva de Abbagnano, que argumenta que a epistemologia é mais um modo de tratar um problema filosófico específico do que uma disciplina filosófica em si. No geral, o texto oferece uma visão útil da epistemologia e suas relações com outras áreas de estudo.

A tendência analítica da epistemologia apresentada tem como princípio a filosofia empirista e positivista. Segundo essa tendência, o conhecimento só é possível a partir da experiência com o que é imediatamente dado. Essa tendência utiliza a análise lógica da linguagem como método filosófico. O texto apresenta de forma clara e objetiva a tendência analítica da epistemologia e sua relação com a filosofia empirista e positivista. Além disso, destaca a importância das ideias de Karl Popper para a renovação dessa tendência, especialmente a proposta de falseabilidade como critério de demarcação nas ciências. Discute-se a tendência analítica da epistemologia, que se baseia no empirismo e no positivismo, e usa a análise lógica da linguagem como método filosófico. A partir disso, os autores introduzem a crítica de que essa tendência é simplista, pois se concentra apenas na linguagem e na lógica, ignorando o fato de que a ciência é feita por seres humanos que também influenciam a produção do conhecimento. A partir dessa crítica, a história e a subjetividade dos cientistas voltam a ser consideradas, o que influencia o desenvolvimento da ciência.

O texto ainda explica o positivismo como uma corrente epistemológica que analisa o turismo com uma abordagem métrica clássica, que requer dados claros, metodologias estabelecidas e objetos de estudo definidos. O positivismo propõe a existência de um método que oferece segurança e certeza na investigação, excluindo a historicidade da ciência e considerando a história apenas como um conjunto de fatos sem importância científica. No entanto, destaca-se críticas ao positivismo, que o acusam de identificar a racionalidade com um conjunto de algoritmos, dispensando o investigador da tarefa e do compromisso de tomar decisões.

Também foi abordado a visão marxista aplicada ao turismo, que entende que a atividade é impulsionada pelos fatores econômicos de produção e gera mais-valia para os empresários, apontando que o turismo é uma forma de imperialismo e colonialismo, em que os turistas têm condições financeiras e de tempo livre privilegiadas em relação às comunidades locais que os recebem. Autores como Krippendorf, Nash, Young e Cohen já denunciaram os problemas causados pelo turismo nos destinos e a visão marxista contribui para uma visão crítica da atividade, embora muitas vezes seja considerada radical.

O texto apresenta um desafio na caracterização das escolas epistemológicas atuais do turismo devido à diversidade de abordagens dos autores mais conceituados. A opção dos autores foi focar nas escolas mais destacadas e atuais no meio acadêmico. Eles enfatizaram a formação de comunidades acadêmicas em turismo, que não apenas envolve a criação de grupos de pesquisadores em torno de um tema, mas também a definição de pressupostos e procedimentos compartilhados que fundamentam o conhecimento dessas comunidades. Essa análise é importante porque mostra que o campo do turismo é complexo e abrange várias abordagens teóricas e metodológicas diferentes. O reconhecimento da formação de comunidades acadêmicas em torno de determinados temas e procedimentos também destaca a importância da colaboração e do compartilhamento de conhecimentos no campo do turismo. No entanto, é importante ressaltar que a escolha de quais escolas epistemológicas serão analisadas pode levar a uma visão limitada do campo do turismo. Além disso, a existência de comunidades acadêmicas que compartilham os mesmos pressupostos e procedimentos pode levar a uma falta de diversidade de perspectivas e abordagens no campo.