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As Práticas de análises de textos quanto a aspectos de sua construção.

Por:   •  5/3/2023  •  Bibliografia  •  4.950 Palavras (20 Páginas)  •  74 Visualizações

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CAPÍTULO 7  - Práticas de análises de textos quanto a aspectos de sua construção.

  • As atividades de análise de textos, na perspectiva dos recursos e dos aspectos que são relevantes para sua construção;
  • É importante frisar que seria impossível dar conta de todos os recursos. Na verdade, esses são quase inumeráveis;  
  • Conceder prioridade àqueles que assumem, em cada texto escolhido para análise, uma função mais saliente, no sentido de fazer subir as paredes de sua sustentação;
  • Apesar de nos fixarmos em pontos locais da sustentação, não podemos perder de vista a totalidade do texto, sua unidade semântica e pragmática; ou seja, não vamos perder de vista a atividade de linguagem que ocorre sob a mediação do texto que analisamos;
  • Desta forma, não separamos, assim, o linguístico - quer na sua dimensão gramatical quer na sua dimensão lexical - dos outros constituintes do ato verbal. Temos em mente que, pela linguagem, o fundamental é a interação que se produz entre dois ou mais interlocutores, numa situação social de mútua cooperação, para que a expressão de um sentido e de uma intenção aconteça com sucesso.

A seguir, tomamos outra vez como base de nossa análise a fábula de Rubem Alves, detendo-nos agora em questões de sua construção.

7.1 Análise da fábula "Os urubus e os sabiás".

"Tudo aconteceu numa terra distante, no tempo em que os bichos falavam... Os urubus, aves por natureza becadas, mas sem grandes dotes para o canto, decidiram que, mesmo contra a natureza eles haveriam de se tornar grandes cantores. E para isto fundaram escolas e importaram professores, gargarejaram dó-ré-mi-fá, mandaram imprimir diplomas, e fizeram competições entre si, para ver quais deles seriam os mais importantes e teriam a permissão para mandar nos outros. Foi assim que eles organizaram concursos e se deram nomes pomposos, e o sonho de cada urubuzinho, instrutor em início de carreira, era se tornar um respeitável urubu titular, a quem todos chamam de Vossa Excelência. Tudo ia muito bem até que a doce tranquilidade da hierarquia dos urubus foi estremecida. A floresta foi invadida por bandos de pintassilgos tagarelas, que brincavam com os canários e faziam serenatas para os sabiás... Os velhos urubus entortaram o bico, o rancor encrespou a testa , e eles convocaram pintassilgos, sabiás e canários para um inquérito.


Onde estão os documentos dos seus concursos? E as pobres aves se olharam perplexas, porque nunca haviam imaginado que tais coisas houvessem. Não haviam passado por escolas de canto, porque o canto nascera com elas. E nunca apresentaram um diploma para provar que sabiam cantar, mas cantavam simplesmente...

Não, assim não pode ser. Cantar sem a titulação devida é um desrespeito à ordem.

E os urubus, em uníssono, expulsaram da floresta os passarinhos que cantavam sem alvarás…


MORAL: Em terra de urubus diplomados não se houve canto de sabiá." 

(Rubem Alves. Estórias de quem gosta de escrever.

Cortez Editora: São Paulo. 1984, pp. 61-62).

Diante da evidente dificuldade de se esgotar a totalidade dos elementos analisáveis, vamos fixar-nos naqueles que mais diretamente estilo vinculados à sua coesão e à sua coerência.

  • A seleção vocabular como recurso da coesão do texto "Os urubus e os sabiás"

(a) Observemos a concentração de itens lexicais vinculados aos mundos em que o texto nos coloca:

  • o mundo do acontecimento narrado;
  • o mundo da ficção;  
  • o mundo das aves;
  • o mundo da música;
  • o mundo da atuação pedagógica;
  • o mundo da intransigência e da arrogância da burocracia.

(b) Como se pode observar a seleção vocabular feita para o texto já funciona como um dos recursos ele sua coesão e de sua coerência, pois cada núcleo e itens é convergente e sustenta uma perspectiva de continuidade. Além disso, os vários núcleos se interagem;

(c) Se o que pretendemos é entender cada vez mais como se dá a construção de um texto, podemos concluir que uma exploração vocabular dessa ordem e mais relevante do que simplesmente apresentar o significado de uma palavra supostamente desconhecidas, ou exercitar, em frases, a sua substituição por outras sinônimas ou antônimas;

d) Convém observar ainda que não é unidade lexical isolada que garante a coerência do texto, mas a convergência de contextos em que um determinado objeto de referência se apresenta;  

(e) Só em análises dessa natureza, volto à dizer, se pode entender como o léxico constitui um recurso da construção do texto. Um recurso não apenas em relação aos sentidos expressos, mas, sobretudo, na direção das relações criadas, para que se garanta a totalidade em vias de ser conseguida;

(f) Podemos perceber ainda o quanto uma análise dessa natureza mobiliza nosso conhecimento de mundo ou traz à tona os esquemas culturais — e seus valores simbólicos — que predominam em nossa realidade;

(g) Uma análise assim como esta é consistente ainda pelo rato de se apoiar no texto, nos sinais de sua superfície — que são as palavras que o constituem e as relações por elas expressas.

  • Quanto à natureza dos nexos coesivos

Nexos de equivalência, nexos de contiguidade, nexos de associação e nexos de conexão ou sequenciação.

O que importa não é reconhecer um fato gramatical, simplesmente; o que importa é avaliar o concurso desse fato gramatical para a construção da coesão e da coerência do texto.

(a) Os nexos de equivalência — no âmbito da referenciação – ocorreram cada vez que o mesmo objeto de discurso voltou a ser referido. Por exemplo:

  • urubus – eles;
  • urubus – si (fizeram competições entre si);  
  • urubus – urubus;
  • urubus – os velhos urubus;
  • pintassilgos, canários e sábias – as pobres aves;
  • pintassilgos, canários e sabias – os passarinhos;
  • as pobres aves – elas;
  • O recurso à elipse também pode implicar um nexo de equivalência referencial, uma que é possível resgatar, na procura pelo sujeito de cada verbo, a retomada à referência anterior.

(b) Os nexos de contiguidade ocorreram quando a mesma classe de objetos foi referida, mas não o mesmo membro dessa classe. Por exemplo, entre a referência “urubus” e a outra “ cada urubuzinho” não há equivalência referencial:  trata-se de duas unidades diferentes do mesmo conjunto de objetos;

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