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Questao Coimbra

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Por:   •  19/9/2013  •  9.064 Palavras (37 Páginas)  •  764 Visualizações

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Questão Coimbrã foi o primeiro sinal de renovação ideológica do século XIX entre os defensores do statu quo, desatualizados em relação à cultura europeia, e um grupo de jovens escritores estudantes em Coimbra, que tinham assimilado as ideias novas.

Castilho tornara-se um padrinho oficial dos escritores mais novos, tais como Ernesto Biester, Tomás Ribeiro ou Manuel Joaquim Pinheiro Chagas. Dispunha de influência e relações que lhe permitiam facilitar a vida literária a muitos estreantes, serviço que estes lhe pagavam em elogios.

Em redor de Castilho formou-se assim um grupo em que o academismo e o formalismo vazio das produções literárias correspondia à hipocrisia das relações humanas, e em que todo o realismo desaparecia, grupo que Antero de Quental chamaria de «escola de elogio mútuo». Em 1865, solicitado a apadrinhar com um posfácio o Poema da Mocidade de Pinheiro Chagas, Castilho aproveitou a ocasião para, sob a forma de uma Carta ao Editor António Maria Pereira, censurar um grupo de jovens de Coimbra, que acusava de exibicionismo, de obscuridade propositada e de tratarem temas que nada tinham a ver com a poesia, acusava-os de ter também falta de bom senso e de bom gosto. Os escritores mencionados eram Teófilo Braga, autor dos poemas Visão dos Tempos e Tempestades Sonoras; Antero de Quental, que então publicara as Odes Modernas, e um escritor em prosa, Vieira de Castro, o único que Castilho distinguia.

Antero de Quental respondeu com uma Carta com o título "Bom senso e bom gosto" a Castilho, que saiu em folheto. Nela defendia a independência dos jovens escritores; apontava a gravidade da missão dos poetas da época de grandes transformações em curso e a necessidade de eles serem os arautos dos grandes problemas ideológicos da atualidade, e metia a ridículo a futilidade e insignificância da poesia de Castilho.

Ao mesmo tempo, Teófilo Braga solidarizava-se com Antero no folheto Teocracias Literárias(eBook), no qual afirmava que Castilho devia a celebridade à circunstância de ser cego. Pouco depois Antero desenvolvia as ideias já expostas na Carta a Castilho no folheto A Dignidade das Letras e Literaturas Oficiais, evidenciando a necessidade de criar uma literatura que estivesse à altura de tratar os temas mais importantes da actualidade. Seguiram-se intervenções de uma parte e de outra, em que o problema levantado por Antero ficou esquecido. Provocou grande celeuma o tom irreverente com que Antero se dirigiu aos cabelos brancos do velho escritor, e a referência de Teófilo à cegueira dele.

Foi isto o que mais impressionou Ramalho Ortigão, que num opúsculo intitulado A Literatura de Hoje, 1866, censurava aos rapazes as suas inconveniências, ao mesmo tempo que afirmava não saber o que realmente estava em discussão. Este opúsculo deu lugar a um duelo do autor com Antero. Mas outro escrito, este de Camilo Castelo Branco, favorável a Castilho — Vaidades Irritadas e Irritantes — não suscitou reacções. Na realidade nada foi acrescentado aos dois folhetos de Antero durante os longos meses que a polémica durou ainda. Eça de Queiroz, em O Crime do Padre Amaro, de forma implícita, toma parte dos jovens literários.

http://pt.wikipedia.org/wiki/Quest%C3%A3o_Coimbr%C3%A3

Nos primeiros anos do terceiro quartel do séc. XIX, após a longa crise da implantação do liberalismo em Portugal e sua adaptação à estrutura histórica do país, o Romantismo português propriamente dito já tinha dado quanto dele se podia esperar. Depois da morte de Garrett (v.) – intuição superior, descobridora de todos os elementos essenciais do génio lusitano –, a insurgência inerente ao movimento romântico personificara-se em Herculano (v.), cuja obra foi «a primeira tentativa de uma história crítica de Portugal». Mas a rebeldia por ele representada desapareceu com a sua retirada para Vale de Lobos. Ficara, pois, Castilho (v.), em redor do qual se agruparam em Lisboa as hostes ultra-românticas.

Castilho, porém, era exactamente o contrário dum rebelde. Grande purista, mestre do idioma, dotado de escassa imaginação criadora, nunca fora realmente romântico, embora seja em regra mencionado como terceiro mentor do movimento. Formado na dissolução do neoclassicismo arcádico, que nunca abandonou, encarnava uma peculiar adaptação das formas externas do Romantismo a um espírito pseudo-clássico. Fórmula esta que chegara nessa altura a entronizar-se como gosto oficial do constitucionalismo. Era ele, pois, o obstáculo com que havia de tropeçar a nova rebeldia da geração intelectual que por volta de 1865 se estava formando em Coimbra. Esta geração já desde 1861 vinha dando provas do seu pendor para a rebeldia à disciplina universitária com ruidos os tumultos, irreverências e revoltas – que indicavam claramente a inconformidade da juventude académica com os valores oficiais da sociedade em que vivia. A chamada «Questão de Coimbra» ou do «Bom senso e Bom gosto» foi a primeira manifestação importante dessa mocidade, conhecida hoje nos manuais pelos nomes de «Geração», «Escola» ou «Dissidência de Coimbra» e também «Geração de 70», e que, com a adição de novos elementos afins, havia de realizar novas demonstrações dos seus intuitos reformistas na vida pública nacional. Com a famosa «Questão Coimbrã» se pode dizer que se inicia o espírito contemporâneo nas letras portuguesas. Com ela entram em conflito aberto o novo espírito cientifico europeu e o velho sentimentalismo, domesticado e retoricizado, do Ultra-Romantismo vernáculo. O novo lirismo que aparecia, social, humanitário e crítico, não se alçava apenas contra a tirania do gosto literário vigente, exercida por Castilho – que esses rapazes alcunharam de «árcade póstumo» - mas também, e de modo mais vasto, contra todos os conceitos políticos, históricos e filosóficos que ele e os seus satélites literários simbolizavam.

A duas personalidades muito diferentes coube a chefia visível do fermento coimbrão de revolta: Antero de Quental (v.), o «Príncipe da Mocidade», que já se dera a conhecer como poeta com várias obras (Sonetos, 1861, Beatrice, 1863, Fiat Lux, 1863, e Odes Modernas, 1865) em que tentava harmonizar uma inspiração sinceramente romântica com o espírito científico, e Teófilo Braga (v.), que também tinha aparecido no mundo das letras com dois poemas cíclicos de padrão huguesco (Visão dos Tempos e Tempestades Sonoras, 1864). O motivo da «Questão» foi aparentemente trivial. Nesse ano de 1865, Pinheiro Chagas (v.), um dos jovens corifeus da roda lisboeta do cego patriarca literário, publicara o Poema da Mocidade, ingénua biografia lírica em quatro cantos, típica do saudosismo ultra-romântico. Castilho, na célebre carta-posfácio dirigida

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