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Resenha Crítica Do Livro "A Civilização Do Espetáculo"

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Por:   •  15/2/2015  •  9.991 Palavras (40 Páginas)  •  508 Visualizações

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T.S. Eliot é novamente trazido à colação, dando destaque ao cristianismo no ocidente:

“Nossas artes desenvolveram-se dentro do cristianismo, as leis até há pouco enraizavam-se nele, e foi sobre o pano de fundo do cristianismo que se desenvolveu o pensamento europeu. Um europeu pode não crer que a fé cristã seja verdadeira, mas, mesmo assim, o que diz, aquilo em que acredita e o que faz provêm da fonte do legado cristão, e seu sentido depende dele. Só uma cultura cristã poderia ter produzido Voltaire ou Nietzche. Não acredito que a cultura da Europa sobrevivesse ao desaparecimento da fé cristã” (p. 14).

Pulula na contemporaneidade aquilo que pode ser realmente e de forma profunda chamado de “contra-cultura”, não num sentido de crítica producente, mas como exatamente o inverso da cultura, como um sinônimo da incultura que se dá ares de sapiência. Nessa incultura se disseminam informações equivocadas ou mesmo deliberadamente falseadas com relação, por exemplo, à história da Igreja Católica e da Ciência. Se oculta o fato de que no ocidente o clima da cristandade e o monoteísmo foram fatores essenciais para o desenvolvimento das ciências, razão pela qual nesse campo o oriente caminhou bem mais lentamente. Olvida-se (intencionalmente ou não) o contributo da Igreja Católica para as artes, os grandes nomes da ciência e da filosofia que eram sacerdotes ou crentes. Dessa forma um estado de ignorância soberba se difunde sob o véu de uma falsa erudição em que besteiras propagadas aos quatro ventos são tomadas como verdades absolutas, causando estranheza e susto quando são desmentidas. Certamente a melhor obra para aprofundar esse aspecto e desvencilhar-se de mentiras e meias verdades é o livro de Thomas E. Woods Jr., “O que a civilização ocidental deve à Igreja Católica”.

Umas das provas de que a retirada da Religião do palco cultural e social é deletéria e até sanguinolenta, constituindo um grande golpe naquilo que se pode chamar de cultura, foi o resultado de toda uma postura iconoclasta com relação ao monoteísmo judaico – cristão produzido pelos filósofos do Iluminismo. Eles estavam convencidos de que

“com uma cultura laica e secularizada desapareceriam a violência e as matanças trazidas pelo fanatismo religioso, pelas práticas inquisitoriais e pelas guerras de religião. Mas a morte de Deus não significou o advento do paraíso na Terra e sim do inferno, já descrito no pesadelo dantesco da Commedia ou nos palácios e câmaras de prazer e tortura do marquês de Sade. O mundo, livre de Deus, foi sendo ao poucos dominado pelo diabo, pelo espírito do mal, pela crueldade e pela destruição, que atingirá seu paradigma com as carnificinas das conflagrações mundiais, os fornos crematórios nazistas e o Gulag soviético. Com este cataclismo acabou-se a cultura e começou a era da pós – cultura” (p. 17).

Justa, portanto, a constatação de Charles Dickens em seu “Um Conto de Duas Cidades”:

“Liberdade, Igualdade, Fraternidade ou Morte; a última, muito mais fácil de conceder do que as outras, ó Guillotine”!

O movimento iluminista que pregava uma fé tremenda na razão atuava com fulcro em um componente altamente irracional segundo o qual “nenhuma instituição existente poderia ser aceita, apenas pelo fato de ser existente” (Roger Scruton – Modern Culture – No original: “No existing institution should be accepted, therefore, just because it is existing”). E isso somente poderia levar ao banho de sangue irracional em que acabou redundando a Revolução Francesa por exemplo.

Não obstante, deve-se ter em conta que a só existência de uma alta cultura, seja no indivíduo, seja no seio de uma coletividade não é antídoto para a violência e a barbárie. Ela geralmente contribui para uma sociedade melhor, mas não impede desvirtuamentos nem é incompossível com desvios até mesmo patológicos:

“Em um indivíduo, assim como na sociedade, chegam às vezes a coexistir alta cultura, sensibilidade, inteligência e fanatismo de torturador assassino”. Heidegger não deixou de colaborar com o Nazismo e o próprio Hitler era, segundo consta, um bom admirador da música e das artes plásticas (p. 18).

Mas, seriam somente os fatores da diluição do conceito de cultura e da derrocada da família e da religião os motivos da deterioração cultural contemporânea?

Claro que não. A questão é muito mais complexa e passa necessariamente pelo novo dinamismo e pelos novos hábitos e costumes propiciados pela tecnologia que, ao mesmo tempo em que permite que eu digite mais eficaz e rapidamente este texto, pode ser prejudicial à saúde cultural.

Com fulcro em George Steiner e sua obra “No castelo do Barba Azul: algumas notas para a redefinição da cultura” (1971), Vargas Llosa destaca o fenômeno da chamada “retirada da palavra”, que significa uma alteração na tradição cultural que sempre foi sustentada no “discurso falado, lembrado e escrito”. No entanto, atualmente a palavra vai se subordinando cada vez mais à imagem. Inclusive na música, as letras vão se perdendo em meio aos sons envolventes, aos ritmos contagiantes e “vibrações estridentes”. Tudo isso oprime a reflexão, o estudo, a escrita, a memorização e até a comunicação verbal. A “musicalização de nossa cultura”, indaga Llosa, teria que efeitos (p. 19)? Quem sabe a deterioração da linguagem, que é um dos grandes sustentáculos não somente da cultura humana, mas do grande salto de “hominização” ou “exodarwinismo” preconizado por Michel Serres em sua obra “Hominescências”. Sem a comunicação, sem a linguagem, não há sociedade e, consequentemente, cultura. Afirma Serres: “A sociedade se constrói pela comunicação; pereceria sem ela”.

Vem à colação a obra de Gilles Lipovetsky e Jean Serroy, “A cultura – mundo. Resposta a uma sociedade desorientada”. Neste ponto há uma sutil retomada do tema da utopia da democratização da cultura, mediante a análise do argumento de Lipovetsky e Serroy quanto ao atual “enaltecimento de uma cultura global” (cultura – mundo), onde as fronteiras são obliteradas pela atuação dos mercados livres globalizados, pela revolução científica e tecnológica (especialmente no que diz respeito às comunicações). Tudo isso vem possibilitando a criação, pela primeira vez na história humana, de denominadores comuns culturais entre sociedades e pessoas de todos os cantos do mundo. Surge então uma equalização e aproximação que supera as divergências tradicionais, lingüísticas e de credo. A nova cultura global perde seu elitismo, erudição e exclusão e se converte em genuína “cultura de massas”. Novamente há uma ilusão de que isso

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