“Uma lição de discriminação” nos olhos de Pierre Bourdieu
Por: MARIACLARAES • 7/9/2019 • Dissertação • 578 Palavras (3 Páginas) • 443 Visualizações
“Uma lição de discriminação” nos olhos de Pierre Bourdieu
O documentário “Uma lição de discriminação” consiste em uma experiência feita em uma escola francesa de primário, que ilustra como as crianças podem assimilar uma discriminação e suas repercussões facilmente. Tal experiência foi realizada pela professora Annie Leblanc do ensino primário de Quebec, ela elaborou um experimento cientifico que provava que as crianças mais baixas são, em geral, mais inteligentes e criativas, enquanto as mais altas tendem a ser mais desajeitadas e preguiçosas. Por isso, no primeiro dia, ela separou a turma baseando-se na estatura de seus alunos, já no segundo dia, fez o contrário, incentivando os alunos altos e invertendo os papéis. No final, algumas crianças compreenderam que era apenas um jogo, mas para o restante da classe, a experiência foi extremamente poderosa e impactante. O fato (a discriminação) vivenciado na escola, não é nada de novo e ocorre desde os primórdios de tempo. Como os seres humanos, têm a tendência em se organizar em grupos, acaba excluindo, estranhos ou inimigos e qualquer um que seja diferente.
Pierre Bourdieu, conhecido como o investigador da desigualdade, em seus estudos conduzia alguns pontos de análise, são esses: Campo, Capital Cultural, Violência Simbólica e Habitus. Uma análise do documentário supracitado, feita pelo sociólogo francês, seria desta maneira:
* Campo: explicado como um espaço social estruturado e conflitual, o Campo para Bourdie sempre é onde os agentes sociais estão colocados em posições distintas, cada uma com suas estratégias de dominar o campo, nessa visão, tal conceito pode ser uma escola, família, um ambiente de trabalho, redes sociais, a própria política e economia, entre outros exemplos. A professora criou um ambiente de dominantes versus dominados, designado pela estatura dos alunos, o que indicaria o primeiro ponto analisado por Bourdieu.
* Capital Cultural, definido como qualificações intelectuais, o Capital Cultural nada mais é do que uma “bagagem”, involuntariamente adquirida, onde o indivíduo possui pela família e a origem de sua classe. Anne Leblanc, ao dizer que os alunos menores são mais inteligentes e criativos devido sua baixa estatura, estaria determinando seu capital cultural, preestabelecido já desde o nascimento dos alunos, enquanto os alunos maiores, ou seja os dominados nessa situação, apresentariam uma “deficiência” para as qualidades necessárias para ser um bom aluno, justamente pela ausência de seu capital cultural dominante (ser mais baixo).
* Violência simbólica: A violência simbólica é caracterizada por ser “uma forma de violência exercida pelo corpo sem coação física, causando danos morais e psicológicos”. Os alunos da escola primária, ao perceberem que estavam em uma posição superior, discriminaram os seus colegas de classe, os desprezando exatamente por simplesmente serem “inferiores” ou “dominados”, exercendo um tipo de violência não-física desencadeada por uma imposição simbólica.
* Habitus: definido por “sistema de disposições para a ação”, é a maneira como a sociedade divide os membros sob a forma de “disposições duráveis, capacidades treinadas, e modos de pensar, agir e sentir”. Tal conceito é guiado pelas disposições aprendidas no passado e constrói-se no processo
...