A Importância Da música Na Educação Infantil.
Casos: A Importância Da música Na Educação Infantil.. Pesquise 862.000+ trabalhos acadêmicosPor: myself1619 • 12/3/2014 • 3.558 Palavras (15 Páginas) • 628 Visualizações
A importância da música na educação infantil.
Resumo: O objetivo deste artigo é discutir os efeitos de transferência cognitiva entre a música e outros contextos e áreas do conhecimento. Especificamente, o artigo trata de quatro relações de causa e efeito que envolvem a música (inteligência, matemática, linguagem e leitura) e discute suas implicações para a educação musical brasileira e para o desenvolvimento musical como um todo.
O interesse pelo desenvolvimento cognitivo-musical tem crescido substancialmente nos últimos tempos. Descobertas recentes da neurociência, psicobiologia, psicologia do desenvolvimento, educação e psicologia da música vêm fomentando um interesse crescente acerca do desenvolvimento cognitivo-musical do ser humano. Pesquisas recentes sugerem que John Locke (1632-1704) estava mesmo equivocado quando sugeriu que o ser humano vem ao mundo com a tabula rasa, e há inúmeras demonstrações empíricas das competências cognitivas do recém-nascido (veja Eliot, 1999). Durante a infância, o cérebro humano é mais maleável e os efeitos da aprendizagem são maiores que em qualquer outra fase da vida (Flohr, Miller & Deebus, 2000). Isso também parece ser o caso do desenvolvimento auditivo. Como exemplo, sabe-se hoje que é no período entre o nascimento e o décimo aniversário que as distinções entre alturas, timbres e intensidades se desenvolvem e se tornam mais refinadas (Werner & Vandenbos, 1993). É também nesta época que as crianças desenvolvem suas preferências e memórias musicais (veja Ilari & Polka, no prelo; Trainor, 1996; Trehub & Schellenberg, 1995). O desenvolvimento cognitivo-musical nesta época ocorre através de processos como impregnação e imitação (Ilari & Majlis, 2002), e está normalmente associado a diversas funções psico-sociais como a comunicação, inclusive de emoção, entre crianças e adultos, o endosso de normas culturais e étnicas, e o entretenimento (Gregory, 1998; Huron, 1999; Ilari, no prelo; Trainor, 1996; Trehub & Schellenberg, 1995; Trevarthen, 2001). Como sugerem diversos estudiosos, as práticas musicais das crianças e dos adultos são relevantes porque auxiliam no desenvolvimento auditivo, motor, cognitivo e social, além de ajudar a fortalecer as ligações afetivas nas famílias. Talvez esses fatores expliquem sua ubiqüidade.
Nos últimos anos, tenho me dedicado ao estudo dos mecanismos e processos mentais envolvidos no desenvolvimento da mente musical humana; sobretudo no que tange à percepção e produção musicais de bebês e crianças. Minhas pesquisas procuram compreender como, por exemplo, a criança faz a transição entre os sons que aprendeu ainda no útero materno (exemplo sonoro 1), as experiências sonoro-imitativas desenvolvidas através de jogos e brincadeiras e que denotam possíveis sobreposições entre a música e a linguagem na infância, criando muita polêmica entre estudiosos da música e da lingüística (exemplo sonoro 2), e, algum tempo mais tarde, suas produções musicais, realizadas através do canto, do movimento corporal e/ou da execução instrumental (exemplo sonoro 3). Não ignorando as diferenças individuais, eu e meus colegas de área temos procurado compreender e modelar os processos mentais envolvidos nas atividades musicais da infância (para exemplos consulte Gardner, 1997; Hargreaves, 1985).
No entanto, ao realizar pesquisas nesta área, um dos problemas que tenho encontrado refere-se à existência de diversos mitos, alguns dos quais estabelecidos há muito tempo, e que vêm sendo disseminados pela mídia, e transmitidos (ou retransmitidos) em conversas, informais e acadêmicas (para exemplos consulte Schellenberg, 2004; Schoenstein, 2002; Almeida et al 2003). Estes mitos afetam (e muito) as práticas musicais realizadas em conservatórios e escolas de música de todo o país, bem como afastam muitos indivíduos daquilo que chamo de motivações ‘reais’ para o ensino e para o aprendizado musical (veja Ilari, 2003). A minha fala hoje trata das relações causais; dos efeitos da aprendizagem musical em outras áreas do conhecimento - também conhecidos como efeitos de transferência entre contextos e áreas do conhecimento (para uma discussão consulte Schellenberg, 2004). Para a fala de hoje, escolhi quatro relações de causa e efeito que envolvem a música.
Primeira relação: O aprendizado musical e o desenvolvimento da inteligência humana
Nos últimos anos, frases como ‘a música deixa o ser humano mais inteligente’ ou ‘ela estuda música e por isso é muito boa de raciocínio’ podem ser ouvidas em diversos ambientes – em conversas informais entre amigos, em círculos familiares, na televisão e até mesmo em contextos educacionais. Geralmente, quando estas frases são pronunciadas, há uma tendência natural em associarmos o aprendizado musical a atributos ou rendimentos em outras áreas do conhecimento. Um exemplo disso foi o chamado ‘Efeito Mozart’, que causou (e ainda causa) muita polêmica.
Há cerca de uma década, a disseminação prematura pela mídia dos resultados de uma investigação científica preliminar deu origem ao famigerado ‘Efeito Mozart’, nome atribuído a uma pequena melhoria em um sub-teste (habilidades espaciais) do famoso teste Stanford Binet de inteligência ocorrida logo após a audição de uma determinada obra musical de W.A. Mozart. Seus pesquisadores (veja Rauscher, Shaw & Ky, 1993; 1995), compararam a performance de ratos de laboratório e de estudantes universitários em condições sonoras variadas, como no silêncio e na presença de peças de Mozart e Phillip Glass, e concluíram que a audição da música de Mozart causava um progresso temporário nas habilidades espaciais de seus participantes. O ‘Efeito Mozart’, que hoje é marca registrada, deu origem a uma verdadeira febre de consumo da música de Mozart e de programas ‘mágicos’ de educação musical, que prometiam desenvolver bebês mais inteligentes e mais aptos a obterem um lugar em universidades famosas como a renomada Universidade de Yale (Schoenstein, 2002). Outro caso interessante e também relativo ao tal efeito foi a distribuição de CDs intitulados ‘Construa o cérebro de seu bebê através da música de Mozart’ em todas as maternidades do estado da Geórgia (EUA) no ano de 1998, a mando do então governador Zell Milner. Segundo o político, a distribuição do CD supostamente ‘garantiria’ o desenvolvimento da inteligência dos bebês e, portanto, de um estado com indivíduos mais inteligentes que a média.
Como não poderia deixar de ser, o ‘Efeito Mozart’ não causou polêmica apenas junto à população, mas gerou grandes disputas
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