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A MODERNIDADE FILOSÓFICA E OS FUNDAMENTOS PEDAGÓGICOS DA EDUCAÇÃO MODERNA

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Por:   •  22/8/2014  •  4.240 Palavras (17 Páginas)  •  395 Visualizações

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A MODERNIDADE FILOSÓFICA E OS FUNDAMENTOS PEDAGÓGICOS DA EDUCAÇÃO MODERNA

Celso José Martinazzo

Nesta pesquisa reconstruímos parte da história dos modelos de racionalidade filosófica e pedagógica da modernidade procurando estabelecer os vínculos existentes entre o discurso filosófico e a práxis pedagógica. A leitura hermenêutica recorrente desse período nos permite compreender as premissas filosóficas e pedagógicas ainda hoje condicionantes do processo educacional. A modernidade promove o chamado giro antropológico e epistemológico e se estrutura sobre o princípio da subjetividade. A subjetividade expressa, via de regra, a visão cartesiana de sujeito racional, pensante e consciente, referência, centro e produtor do conhecimento. A modernidade ao legitimar esse discurso filosófico procurou forjar, igualmente, um discurso pedagógico que o concretizasse. As teorias pedagógicas trazem para o campo das práticas educacionais os chamados fundamentos do iluminismo racionalista e empirista. Nesse sentido, a modernidade se caracteriza por essa indissociável sintonia entre os dois discursos.

Palavras-chave: modernidade, filosofia, educação.

Os Pressupostos Filosóficos da Modernidade: A Centralidade da Subjetividade

A modernidade, compreendida na sua dimensão filosófica e pedagógica, produz uma virada paradigmática profunda em relação à racionalidade dos períodos antigo e medieval.

Segundo Habermas (2000, p. 8), Hegel referia-se a “novos tempos” e “tempos modernos” aos indicadores de um “Novo Mundo” determinado pelo Renascimento e pela Reforma, consolidado pela Revolução Francesa e pelo Iluminismo e, nesse sentido, “[...] foi o primeiro filósofo que desenvolveu um conceito claro de modernidade”. Para Santos (1999, p.136), embora, o humanismo renascentista tenha significado “a primeira afloração paradigmática da individualidade como subjetividade [...]” são os acontecimentos-chave históricos da Reforma, Revolução Francesa e Iluminismo que promovem o estabelecimento do princípio da subjetividade.

Na interpretação de Habermas (2000, p. 432) o movimento da filosofia moderna abrange o período que tem início com Descartes, recebe uma grande contribuição de Kant e estende-se, aproximadamente, até a morte de Hegel, em 1831 . A filosofia kantiana representa a essência do pensamento moderno que se explicita naquilo que Habermas denomina de paradigma da filosofia do sujeito, da filosofia da reflexão, da filosofia mentalista ou da consciência. No entanto, apesar de pequenas divergências, num ponto os pensadores parecem concordar: a modernidade é, fundamentalmente, o período em que emerge e se consolida o princípio da subjetividade, cuja manifestação máxima dar-se-á pela expansão, consolidação e domínio racional.

O pensamento moderno promoveu uma verdadeira reviravolta ontológica e epistemológica, instalando a dimensão antropocêntrica-subjetivante, centrada no sujeito cognoscente. A metafísica clássica “pode ser denominada cosmocêntrica-objetivante, no sentido de que a reflexão aqui se concentra sobre o que é pensado, ou a ordem cósmica e só depois – quando já está estabelecido o que seja a estrutura fundamental do ente – se põe a pergunta sobre o espírito do homem que pensa o ente” (Oliveira, 1995, p.109).

Com Descartes a modernidade descobre o sujeito, enquanto constituído de duas realidades distintas: o ego ou res cogitans e a res extensa. A verdade primeira e fundamental para Descartes é a existência do pensamento: “penso, logo sou”. Enquanto um ser de pensamento, o homem reconhece sua existência. O ser humano se constitui pela ação do pensar. Fundamentalmente, é por esta razão que Hegel (apud Matos, 1997, p.75), “reconhece na descoberta do eu pensante, da interioridade reflexiva, o princípio inaugural da filosofia moderna”.

A modernidade atribui à razão a faculdade de representar e de pronunciar o mundo; o pensar é a atividade conceitual complexa de estruturação das percepções de como as coisas realmente são. O cogito garante a certeza absoluta e é considerado “[...] ponto de partida de toda a edificação filosófica” (Bornheim, 1999, p. 98).

A filosofia transcendental kantiana impulsiona o pensamento moderno e coloca-se no centro do mesmo ao promover uma verdadeira revolução copernicana do ato de conhecer. Para Kant a razão estabelece as categorias com as quais apreende e conhece a realidade. Neste caso, a realidade é apreendida e se conforma às categorias intelectuais dadas a priori. Nisso consiste a chamada revolução copernicana ou, giro transcendental, em relação ao conhecimento, promovido por Kant: a materialidade física dos objetos adquire existência enquanto algo representado na mente de um sujeito com capacidade cognoscente consciente.

Em Kant, o sujeito é ativo, organizador e sistematizador do conhecimento. Ao perguntar pelas condições de possibilidade do ato de conhecer Kant se coloca no centro da filosofia da consciência. Ele enfatiza o dinamismo da razão e atribui a ela uma capacidade auto-reflexiva. Na filosofia transcendental de Kant a razão possui uma força estruturante sobre os dados coletados pelos sentidos. Porém, a razão continua autocertificando-se com idéias metafísicas, que são totalmente puras e não alcançáveis pela luz da razão. Os princípios da razão são dados de forma a priori e, assim, necessários e universais. Na Crítica da Razão Pura Kant (1974, p.11) define a metafísica como “um conhecimento especulativo da razão inteiramente isolado que se eleva completamente acima do ensinamento da experiência através de simples conceitos (não como a Matemática, através de aplicação da mesma à intuição), na qual, portanto a razão deve ser aluna de si própria [...]”.

Kant (1974), portanto, compreende por metafísica aquele conjunto de conhecimentos que estão acima do mundo sensível. Segundo ele, para todo condicionado deve existir um incondicionado o que fundamenta um salto do mundo físico ou fenomênico para um mundo metafísico ou numérico. Porém, o incondicionado somente pode ser encontrado e conhecido nas coisas-em-si-mesmas e, portanto, é impossível conhecê-lo. Como saber da existência do incondicionado? Somente intermediado por um salto do tipo metafísico, enquanto síntese do pensamento. O incondicionado, não podendo ser conhecido, pode e deve, pelo menos, ser pensado. Está aí a capacidade discursiva da razão: pensar o incondicionado, enquanto fundante do condicionado.

Nas afirmações de Descartes e Kant, está explícita a idéia de modernidade que constitui

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