Comentário Sobre o Texto "Gira corpo, gira mundo"
Por: AntropologaSince • 23/10/2023 • Resenha • 525 Palavras (3 Páginas) • 55 Visualizações
Em “Gira corpo, gira mundo'': Política e mobilidade entre pessoas e encantados em Codó (Maranhão), Martina Ahlert fala sobre o Terecô, uma religião afro-brasileira marcada pela presença dos encantados, na região do interior do Maranhão. A autora perpassa sobre a questão da mobilidade e a relação entre mobilidade e política, através da vivência do seu interlocutor, Seu Raimundinho.
Porém, Ahlert traz primeiro a percepção de um pastor evangélico sobre a religião, e de como o motivo dos barracões onde acontecem os encontros ficarem atrás das casas e invisíveis aos que transitam na rua, na visão do pastor, seja porque essas pessoas mentem e tem que se esconder, tratando o terecô como algo ruim, algo desonesto. Mas para os pais e mães de santo, o lugar não passa de uma tradição ou de uma situação de condição financeira.
Logo depois, ela parte para a questão dos encantados e de como a relação entre eles e o terecozeiro se constrói e se mantém através da incorporação, das visitas e dos sonhos e de como essa conexão se dá não somente através disso, mas também nas tendas, onde os objetos que corporificam sua presença são enterrados no chão. A autora passa por tudo isso para entrar mais a fundo na questão da mobilidade em si, onde ela parte da vivência de expulsão seu interlocutor, pois ele conta que montava suas tendas e sempre alguém vendia o terreno que estavam localizadas e ele tinha que se mudar, rompendo alguns elos, pois tinha objetos que dava para carregar e esses objetos podem ser vistos como uma forma de atualização da religião, uma forma de se religar, porém outros tinham que ser deixados para trás, por exemplo, alguns elementos da natureza, como árvores de onde vinha a força da mãe ou do pai de santo. Após isso, a autora traz outra visão sobre a mobilidade, falando das visitas que se faz entre as tendas, vendo o ato de se movimentar como uma forma de tecer relações e criar alianças. onde há um ganho, pois cada tenda tem uma forma de fazer as músicas rituais e também rever conhecidos humanos e não humanos. E também, ela traz a mobilidade entre a Terra e a Encantaria, numa visão onde os encantados têm a aptidão de passar entre as duas dimensões, e a gente tem a percepção de como a casa e os corpos são marcados pelo trânsito das entidades e de que esse corpo não te pertence.
Além disso, no final do texto Ahlert traz de volta a visão do pastor sobre a religião, para falar sobre o protesto que teve quando ficaram sabendo da fala dele, e tratar a não adesão dos pais e mães de santo nesse protesto sendo vista como ignorância pelas pessoas que estavam participando, porém, a autora possui um olhar diferente, onde os terecozeiros observavam esse movimento de caminhada como algo que mostraria a força da Encantaria. Ou seja, ao mesmo tempo que a mobilidade traz perdas e rompe elos, ela traz conhecimento e cultiva relações.
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