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Fundamentos Da Metafisica

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Por:   •  26/5/2014  •  9.617 Palavras (39 Páginas)  •  295 Visualizações

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Fundamentação da Metafísica dos Costumes

Immanuel Kant

Tradução de Antônio Pinto de Carvalho

Companhia Editora Nacional

PREFÁCIO

A ANTIGA filosofia grega repartia-se em três ciências: a Física, a Ética e a Lógica.. Esta

divisão está inteiramente de acordo com a natureza das coisas, nem temos que

introduzir-lhe qualquer espécie de aperfeiçoamento, a não ser acrescentar o princípio em

que ela se baseia, para que desse modo possamos, por um lado, possuir a certeza de ela

ser completa e, por outro lado, determinar com exatidão as subdivisões necessárias.

Todo conhecimento racional é ou material e refere-se a qualquer objeto, ou formal e

ocupa-se exclusivamente com a forma do entendimento e da razão, um e outro em si

mesmos considerados, e com as regras universais do pensamento em geral, sem

distinção de objetos. A filosofia formal denomina-se LÓGICA, mas a filosofia material,

que trata de objetos determinados e das leis a que eles estão sujeitos, divide-se, por sua

vez, em duas, visto estas leis serem ou leis da natureza ou leis da liberdade. A ciência

das primeiras chama-se FÍSICA; a das segundas, ÉTICA.Aquela dá-se também o nome de

Filosofia da natureza ou Filosofia natural; a esta, o de Filosofia dos costumes.

A Lógica não pode comportar parte empírica, ou seja, parte na qual as leis universais e.

necessárias do pensamento estribem em princípios tomados da experiência; de

contrário, não seria lógica, isto é, cânone do entendimento e da razão, válido para todo

pensamento e capaz de ser demonstrado. Ao invés, tanto a Filosofia natural como a

Filosofia moral podem, cada uma, possuir uma parte empírica, pois devem aplicar suas

leis, aquela à natureza como a objeto da experiência, e esta à vontade humana enquanto

afetada pela natureza: leis, no primeiro, caso, em conformidade com as quais tudo

acontece; leis, no segundo caso, de acordo com as quais tudo deve (388) acontecer,

tomando todavia em consideração as condições, mercê das quais muitas vezes não

acontece o que deveria acontecer.

Pode-se denominar empírica toda filosofia que se apóia em princípios da experiência; e

pura, a que deriva suas doutrinas exclusivamente de princípios a priori. Esta, quando

simplesmente formal, chama-se Lógica; mas, se for circunscrita a determinados objetos

do entendimento, recebe o nome de Metafísica.

Deste modo, surge a idéia de uma dupla metafísica: uma Metafísica da natureza e uma

Metafísica dos costumes. A Física terá pois, além de sua parte empírica, uma parte

racional . Outro tanto sucede com a Ética; embora, aqui, a parte empírica possa

denominar-se particularmente Antropologia prática, e a parte racional receber o nome

de Moral.

Todas as indústrias, mesteres e artes lucraram com a divisão do trabalho. Devido a ela,

não é um só que faz todas as coisas, mas cada qual se circunscreve àquela tarefa

peculiar que, por seu modo de execução, se distingue sensivelmente das demais, a fim

de poder cumpri-la com o máximo de perfeição e de facilidade possível. Onde os

trabalhos não são assim divididos e discriminados, e cada artista tem de realizar tudo

por si, as indústrias permanecem numa fase de grande barbárie. Ora seria, por certo,

questão digna de ser examinada, perguntar se a filosofia pura não exige em todas as suas

partes uni especialista que se lhe dedique exclusivamente, e se, para o conjunto desta

indústria que é a ciência, não seria preferível que os que estão habituados a apresentar,

conforme ao gosto do público, o empírico imiscuído com o racional, combinado em

toda a sorte de proporções que eles próprios desconhecem, que a si próprios se

qualificam de autênticos pensadores ao mesmo tempo que apodam de visionários os que

se ocupam da parte puramente racional, se não seria preferível, digo, que esses tais

fossem advertidos a que não se incumbissem simultaneamente de duas tarefas que

devem ser desempenhadas de maneira inteiramente diferente, cada uma das quais

reclama sem dúvida talento particular, e cuja reunião numa só pessoa conduz fatalmente

a produzir obra imperfeita. Limito-me, entanto, aqui, a perguntar se a natureza da

ciência não exige que se separe sempre com sumo cuidado a parte empírica da parte

racional, que se faça preceder a Física propriamente dita (empírica) de uma Metafísica

da natureza, e a Antropologia prática de uma Metafísica dos costumes, as quais

Metafísicas deveriam ser cuidadosamente expurgadas de todo elemento (389) empírico,

com o intuito de saber tudo o que a razão pura pode fazer em ambos os casos e em que

mananciais ela haure esta sua doutrinação a priori, quer semelhante tarefa seja

empreendida por todos os moralistas

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