NOTAS DE INTRODUÇÃO SOBRE A PUBLICAÇÃO DOS TRABALHOS DE MARX E ENGELS
Tese: NOTAS DE INTRODUÇÃO SOBRE A PUBLICAÇÃO DOS TRABALHOS DE MARX E ENGELS. Pesquise 861.000+ trabalhos acadêmicosPor: barreto2099 • 14/6/2014 • Tese • 3.887 Palavras (16 Páginas) • 409 Visualizações
NOTAS INTRODUTÓRIAS SOBRE A PUBLICAÇÃO DAS OBRAS DE MARX E ENGELS
Pedro Leão da Costa Neto (UTP)
O objetivo do presente artigo é expor, em linhas gerais, a história da edição das obras de Karl Marx e Friedrich Engels, tentando revelar os obstáculos, de diferente natureza, com a qual se deparou e os problemas teóricos que suscitou; a reconstrução desta trajetória nos permitirá compreender importantes aspectos associados a difusão e o destino da obra dos dois autores. Para compreendermos esta história, é necessário observar, que esta esteve marcada desde o seu início, por duas diferentes questões, a primeira associada aos seus efeitos práticos na história social e política dos séculos XIX e XX e em segundo lugar, as questões teóricas por ela suscitada.
No caso do legado de Marx, é importante destacar que a grande maioria de seus escritos permaneceram inéditos durante a sua vida, mesmo parte daqueles que tiveram uma grande importância para a formação da tradição marxista posterior foram publicados apenas postumamente. Ao lado de algumas obras publicadas durante a sua vida (dentre as quais podemos destacar A Sagrada Família (redigida em conjunto com Engels), Miséria da Filosofia, Manifesto do Partido Comunista, Contribuição à Critica da Economia Política e Livro I de O Capital, entre outros), Marx, além de uma extenso número de artigos publicados em jornais e revistas, nos deixou um grande número de escritos em diferentes graus de elaboração, desde apontamentos de leitura até rascunhos em um estado avançado de elaboração, alem de uma extensa correspondência. Engels, por sua vez, publicou durante a sua vida, entre outras obras, A Situação da Classe Operária na Inglaterra, Anti-Dühring, Ludwig Feuerbach e o fim da Filosofia Clássica Alemã e A Origem da Família da Propriedade Privada e do Estado , permanecendo inédito entre outros o importante manuscrito publicado sobre a Dialética da Natureza.
Podemos afirmar, que desde as primeiras tentativas, a publicação das obras de Marx (e de Engels) esteve associada a importância da figura de Marx e a posterior difusão do marxismo no interior do movimento operário e socialista. As primeiras tentativas de publicação das obras de Marx remontam ainda a vida do autor. A primeira delas Gesammelte Aufsätze von Karl Marx, por iniciativa de Hermann Becker – membro do Comitê Central da Liga dos Comunistas; ainda no início dos anos 1850, portanto logo após a revolução européia de 1848-1849. Dos dois volumes previstos de 25 cadernos cada um, foi publicado apenas o primeiro caderno, contendo dois artigos da Gazeta Renana, é provável que esta edição, por motivos políticos, nem mesmo chegou, a ser comercializada. Após a publicação de O Capital em 1867, retornou-se a idéia da publicação dos escritos de Marx, porém estas novas tentativas, por diferentes motivos não tiveram igualmente sucesso.
É entretanto, apenas após a sua morte, em 1883, que se inicia a publicação, de forma sistemática, da obra de Marx. Esboçamos abaixo os principais momentos desta história.
I- Engels como editor de Marx (1883-1895).
Sem dúvida alguma, o trabalho de maior importância realizado por F. Engels e que lhe custou extraordinários esforços, foi a decifração dos manuscritos, seleção e preparação para a publicação dos Livros II e III de O Capital. As principais etapas deste empreendimento foram:
1883- Publicação da terceira edição do Livro I de O Capital;
1885- Publicação do Livro II de O Capital;
1887- Colabora com a tradução da tradução inglesa do Livro I de O Capital;
1890- Publicação da quarta edição do Livro I de O Capital;
1894- Publicação do Livro III de O Capital.
É importante aqui destacar que o trabalho organizativo de Engels, independente de sua importância histórica decisiva, foi objeto de sucessivas apreciações e críticas. Já no início dos anos 1920, o incansável editor das obras de Marx e Engels, David Riazanov interrogava:
Dos manuscritos que formavam o esboço do Livro II de O Capital, ou seja oito, Engels somente dois foram utilizados plenamente. (...) Nos chegamos portanto a uma questão de grande importância. Todos os marxistas russos que se ocupavam do Livro II de O Capital não podiam abandonar a seguinte idéia: não seria possível obter este Livro II sob a forma original, tal qual foi estabelecida por Marx?
Esta intrigante questão continuou a sendo repetida desde então. Em 1968, o marxólogo Maximilien Rubel retornará a esta questão por ocasião da publicação do segundo tomo de sua organização das obras de Marx, publicará uma versão ligeiramente diferente dos Livros II e III. Rubel afirma:
Nós podemos dizer que Engels fez, ao mesmo tempo, muito, dando a aparência de uma obra definitiva; e muito pouco, afastando de sua seleção os manuscritos cuja publicação integral revelaria aspectos importantes da empresa científica de Marx, na medida que ela melhor indicaria as razões de seu inacabamento.
Esta questão só será definitivamente solucionada, como veremos, com a publicação definitiva do conjunto dos manuscritos de Marx, na Marx – Engels Gesamtausgabe (MEGA 2).
Independente do caráter polêmico da edição engelsiana de O Capital, é importante lembrar aqui alguns aspectos importantes deste empreendimento: ao lado de contribuir para constituir o corpus da obra de Marx, não sem importância foi a sua contribuição no terreno filológico, assim como de deciframento da grafia quase ilegível de Marx, “fornecendo desta maneira diretamente para amigos e companheiros, e indiretamente as gerações sucessivas, modelos e técnicas de leitura e transcrição”.
Ao lado deste imenso trabalho dedicado a publicação de O Capital, Engels reunirá e publicará ainda um conjunto de obras de Marx, entre os quais podemos enumerar: a primeira edição alemã de A Miséria da Filosofia, a 2ª edição de O 18 Brumário de Luis Bonaparte e as edições de Critica ao Programa de Gotha, Trabalho Assalariado e Capital e Luta de Classes na França (os dois últimos acompanhados de importantes introduções). Particularmente importante para a história posterior do marxismo, será a Introdução
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