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NÃO EXISTEM LÍNGUAS UNIFORMES

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Por:   •  30/5/2014  •  1.141 Palavras (5 Páginas)  •  872 Visualizações

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Alguém que estivesse desanimado pelo fato de que parece que as coisas não

dão certo no BrasiI e que isso se deve ao "povinho" que habita esse país (conhecem a

piada?) poderia talvez achar que tem um argumento definitivo, quando observa que "até

mesmo para falar somos um povo desleixado". Esse modo de encarar os fatos de

linguagem é bastante comum, infelizmente. Faz parte da visão de mundo que as pessoas

têm a respeito dos campos nos quais não são especialistas. Em outras palavras, é uma

avaliação falsa. Mas, como existe, e como também é um fato social associado à

linguagem, deve ser levado em conta. Por isso, para quem pretende ter uma visão mais

adequada do fenômeno da linguagem, especialmente para os profissionais, dois fatos

são importantes: a) todas as línguas variam, isto é, não existe nenhuma sociedade ou comunidade na qual todos falem da mesma forma; b) a variedade linguistica é o reflexo

da variedade social e, como em todas as sociedades existe alguma diferença de status

ou de papel entre indivíduos ou grupos, estas diferenças se refletem na língua. Ou seja: a

primeira verdade que devemos encarar de frente é relativa ao fato de que em todos os

países (ou em todas as "comunidades de falantes") existe variedade de língua. E não

apenas no Brasil, porque seríamos um povo descuidado, relapso, que não respeita nem

mesmo sua rica língua. A segunda verdade é que as diferenças que existem numa língua

não são casuais. Ao contrário, os fatores que permitem ou influenciam na variação

podem ser detectados através de uma análise mais cuidadosa e menos anedótica.

Um dos tipos de fatores que produzem diferenças na fala de pessoas são

externos à língua. Os principais são os fatores geográficos, de classe, de idade, de sexo,

de etnia, de profissão etc. Ou seja: pessoas que moram em lugares diferentes acabam

caracterizando-se por falar de algum modo de maneira diferente em relação a outro

grupo. Pessoas que pertencem a classes sociais diferentes, do mesmo modo (e, de cena

forma, pela mesma razão, a distância — só que esta é social) acabam caracterizando sua

fala por traços diversos em relação aos de outra classe. O mesmo vale para diferentes

sexos, idades, etnias, profissões. De uma forma um pouco simplificada: assim como

certos grupos se caracterizam através de alguma marca (digamos, por utilizarem certos

trajes, por terem determinados hábitos etc.), também podem caracterizar-se por traços

linguísticos. Para exemplificar: podemos dizer que fulano é velho porque tem tal hábito

(fuma cigarro sem filtro, por exemplo), ou porque fala "Brasil" com um "l" no final (ao invés

de falar "Brasiu", com uma semivogal,como em geral ocorre com os mais jovens). Ou seja, as línguas fornecem meios também para a identificação social. Por isso, é

frequentemente estranho, quando não ridículo, um velho falar como uma criança, uma

autoridade falar como uma pessoa simples etc. Por exemplo, muitos meninos não podam

ou não querem usar a chamada linguagem correta na escola, sob pena de serem objeto

de gozação por parte dos colegas, porque em nossa sociedade a correção é considerada

uma marca feminina.

Também há fatores internos à língua que condicionam a variação. Ou seja, a

variação é de alguma forma regrada por uma gramática interior da língua. Por isso, não é

preciso estudar uma língua para não "errar" em certos casos. Em outras palavras, há

"erros" que ninguém comete, porque a língua não permite. Por exemplo, ouvem-se

pronúncias alternativas de palavras como caixa, peixe, outro: a pronúncia padrão incluiria

a semi vogal, a pronúncia não padrão a eliminaria (caxa, pexe, otro). Mas nunca se ouve

alguém dizer peto ou jeto ao invés de peito e jeito. Por que será que os mesmos falantes

ora eliminam e ora mantém a semi vogal? Alguém pode explicar por que o i cai antea de

certas consoantes e não diante de outras? Alguém pode explicar por que o u cai antes de

t (otro) e o i não cai no mesmo contexto (peito, jeito)? Certamente, então, o tipo de

semivogal (i ou u) e a consoante seguinte são parte dos fatores internos relevantes para

explicar esse fato que, de alguma forma, todo falante conhece.

Outro exemplo: podem-se ouvir várias

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