O DESENVOLVIMENTO DA GEODIVERSIDADE DENTRO DE UNIDADES DE CONSERVAÇÃO: ESTADO DA ARTE

O DESENVOLVIMENTO DA GEODIVERSIDADE DENTRO DE UNIDADES DE CONSERVAÇÃO: ESTADO DA ARTE

Raoni Oliveira de Souza CARDOSO

Programa de Pós-graduação em Geociências, ênfase em Patrimônio Geopaleontológico (PPGEO), Departamento de Geologia e Paleontologia do Museu Nacional

RESUMO: Esse artigo trata da análise da construção e do desenvolvimento das atividades ligadas à geodiversidade por meio das Unidades de Conservação. Apesar da Geodiversidade ser um termo relativamente novo enquanto alvo de debates acadêmicos e conceituações teóricas, na prática a apreciação dos elementos abióticos da natureza já é algo feito a séculos. Atualmente podemos contar com fundamentos e ferramentas bem delineadas, tais como a Geoconservação e o Geoturismo, de forma a facilitar o acesso do público geral aos conhecimentos geológicos. Neste sentido de acessibilidade, que as Unidades de Conservação oferecem um vasto campo, principalmente aquelas abertas à visitação com vistas à recreação. Com base nisso é possível identificar meios de gestão sinérgicos entre os temas aqui mencionados, demonstrando as vantagens de inserir a geodiversidade na administração de uma Unidade de Conservação, assim como continuar discussões que possam sanar problemas e dificuldades ainda existentes nesse emergente campo das ciências geológicas.

Palavras chave: Geodiversidade, Geoconservação, Geoturismo, Unidades de Conservação

ABSTRACT: This article deals with the analysis of the construction and development of activities related to geodiversity through Conservation Units. Although Geodiversity is a relatively new term as the target of academic debates and theoretical concepts, in practice the appreciation of the abiotic elements of nature has been done for centuries. Currently, we can count on well-designed fundamentals and tools, such as Geoconservation and Geotourism, in order to facilitate the general public's access to geological knowledge. In this sense of accessibility, that the Conservation Units offer a wide field, mainly those open to visitation with a view to recreation. Based on this, it is possible to identify synergistic means of management among the themes mentioned here, demonstrating the advantages of inserting geodiversity in the administration of a Conservation Unit, as well as continuing discussions that can solve problems and difficulties that still exist in this emerging field of geological sciences.

Keywords: Geodiversity, Geoconservation, Geotourism, Conservation Units

INTRODUÇÃO

A fragilidade da diversidade natural cria a demanda por mecanismos e ferramentas de proteção, onde o eixo de conservação e preservação da natureza se dá por meio de uma legislação. A lei visa a proteção de locais com características naturais relevantes, onde essas áreas são delimitadas e administradas sob um regime diferenciado de acordo com as suas características naturais e sociais, além de promover a educação/interpretação ambiental, o contato com a natureza e o turismo ecológico. (Vallejo, 2013)

Segundo Bruschi (2007), quando tratamos do termo “natureza”, é comum que a associação feita à palavra seja diretamente ligada à biodiversidade, que trata dos serem vivos que povoam o planeta Terra, porém o contexto do que é a natureza é mais amplo, uma vez que toda a biota se desenvolveu sobre o que é a Geodiversidade.

A geodiversidade por si só não pode ser interpretada e gerida sem que haja ferramentas para o mesmo, portanto, foram desenvolvidos meios organizadores e facilitadores para o contato do público interessado no tema, público este não necessariamente acadêmico ou especializado. (Nascimento, Ruchkys & Mantesso-Neto, 2008)  

Este artigo tenta traçar o desenvolvimento dos conceitos da Geodiversidade como mais uma ferramenta para a criação e gestão de áreas protegidas, como também delinear qual é a perspectiva para aquelas áreas que se encontram sob a luz da legislação ambiental brasileira.

MATERIAIS E METODOS

Para esta pesquisa o trabalho realizado foi por meio de levantamento bibliográfico, o mesmo se deu por meio de artigos acadêmicos nacionais e internacionais, livros específicos do tema de estudo e visitações em websites, para que assim, pudesse ser tecido um raciocínio que demonstrasse a linha de raciocínio entre os conceitos estudados e o tratamento dos mesmos quando nos focamos na gestão de áreas protegidas no Brasil.

GEODIVERSIDADE

Segundo Gray (2013), Geodiversidade é o conjunto dos representantes abióticos da natureza, sejam eles geológicos, geomorfológicos, hidrológicos e pedológicos. Além das próprias feições, também são consideradas as suas relações, sistemas, propriedades e interpretações.

A interação da sociedade junto à Geodiversidade enquanto um sistema complexo e com as suas singularidades data desde o séc. XIX, quando medidas de proteção para a geologia foram criadas. Em 1819, na Escócia, foi tomada uma ação legal contra a exploração de rochas na cidade de Edimburgo e seus consequentes impactos, enquanto a Alemanha criou a primeira reserva natural geológica do mundo em Siebengebirge já 1836. (Gray, 2008)

A intensificação das discussões acerca das medidas de proteção e conservação da geodiversidade (geoconservação) se deu à princípio na década de 1970 (Conferência de Estocolmo), junto com crescimento das preocupações ambientais. (Burek & Prosser, 2008)

O termo geodiversidade surgiu na Conferência de Malvern, que tratou da conservação geológica e paisagística, realizada em 1993 no Reino Unido, onde o termo “geodiversidade” passou a ser utilizado de forma mais difundida. Sharples (1993), na Austrália, realizou um dos primeiros estudos mais aprofundados a respeito da conservação geológica e gemorfológica. (Gray, 2004)

De acordo com Botelho (2018), no Brasil termo geodiversidade foi mencionado primeiramente como por Veiga (1999) como diversidade geológica, posteriormente Xavier da Silva e Carvalho Filho (2001) definiram como a “variabilidade das características ambientais de uma determinada área geográfica”.

Nas últimas duas décadas o debate para o desenvolvimento da geodiversidade e seus conceitos cresceram  por todo o mundo, porém ainda não havia uma abordagem sistêmica que pudesse avaliar os pontos de interesse, atribuindo valores de tipo uso, tamanho de área etc. Portanto foi elaborada uma forma de valoração mais padronizada que fugisse de critérios que se perdessem na subjetividade do avaliador. (Brilha, 2015)