O Ensino De Ciências Nas Escolas Brasileiras
Exames: O Ensino De Ciências Nas Escolas Brasileiras. Pesquise 862.000+ trabalhos acadêmicosPor: Davidson1 • 7/5/2013 • 6.938 Palavras (28 Páginas) • 758 Visualizações
o Ensino de Ciências nas Escolas Brasileiras
JOSÉ ERNO TAGLIEBER* RESUMO
Os currículos de ciência. surgidos nas escolas secundárias na década imediatamente posterior ao Sputnik ( 1957). enfatizaram. de maneira geral. a natureza da Ciência e se propuseram a desenvolver nos alunos a hahilidade da inquirição como um meio para desenvolver uma cidadania funcional. Entretanto. após vinte e cinco anos de aplicação destes curriculos. a educação científica está em crise nos países mais desenvolvidos. O Brasil. como um país em desenvolvimento. necessita construir uma cultura tecnológica para poder desenvolver harmoniosamente todos os níveis de sua sociedade. Propomos. como um dos primeiros passos desta transformação sócio-cultural. um ensino científico baseado no processo metodológico. relacionando não só o conhecimento e as aplicações tecnológicas. mas também os fenômenos sócio-culturais. Nosso contato diário e constante é com a tecnologia e não com a Ciência. como afirmou Goodlad (1973). E. poder-se-ia acrescentar que as percepções destes contatos. os pensamentos e as ações são coordenados e orientados pelos valores sócio-culturais privilegiados pela sociedade na qual a pessoa está inserida. É. portanto. pedagogicamente aconselhável fundamentar o ensino científico nas aplicações tecnológicas próprias da cultura da sociedade onde
o aluno vive. para que possa compreender e atuar eficazmente no seu meio ambiente.
INTRODUÇÃO
Na presente monografia serão tratados a princípio, certos aspectos da educação científica no Brasil para uma melhor compreensão do tema.
•ˇ Professor do Centro de Ciências da Educação (Departamento de Metodologia de Ensino l da UniverSIdade Federal de Santa Catarina.
Perspectiva; r. CED. Florianópolis. 1(3). 91-111. Jul./Dez. 1984 91
Serão apresentados e discutidos dois pontos de vista: o primeiro que se refere aos argumentos em que foram baseados os currículos de cíências desenvolvidos nos Estados Unidos e trazidos para o Brasil na década de 60; e o segundo que diz respeito aos argumentos baseados nas diferenças e semelhanças entre a Ciência e a Tecnologia e o significado, para o ensino de ciências. da aplicação destes princípios num determinado contexto cultural. E. finalmente. serão discutidos os efeitos das mudanças no ensino científico nas escolas pré-universitárias brasileiras se o segundo ponto de vista fosse adotado. (Quando falamos em escolas préuniversitárias. referimo-nos às escolas de l'? e 2'? graus).
OS CURRÍCULOS DE CIÊNCIAS NAS ESCOLAS SECUNDÁRIAS
A educação científica brasileira nas escolas secundárias não tem uma tradição. Assuntos científicos começaram a ser introduzidos, oficialmente. nas escolas secundárias a partir dos idos de 1970 (Barbosa, 1942). Mas. foi apenas na década de 30 que começou a formação-dos professores de ciências. para as escolas de primeiro e segundo graus, com a implantação das faculdades de filosofia. ciências e letras nas universidades e institutos de ensino superior. Azevedo (1954) afirma que a Ciência nunca foi uma tradição cultural brasileira e ainda hoje o conhecimento científico não é privilegiado nos currículos das escolas de primeiro e de segundo graus.
Na curta história dos currículos brasileiros de ensino de ciências para escolas pré-universitárias. houve pelo menos duas fontes de influências; a) antes da Segunda Guerra Mundial, quando os currículos dos países europeus. principalmente da França e da Alemanha. foram traduzidos e usados em nossas escolas. sob a forma de livros didáticos -e estes eram altamente factuais; b) após a segundagrande guerra mundial. quando os livros americanos entraram no Brasil. como também certos convênios internacionais foram celebrados e estes decisivamente influíram nos conteúdos e práticas pedagógicas das aulas de ciências. No primeiro período era enfatizado o conteúdo factual, e no segundo a ênfase estava certamente no processo científico. Neste último período vamos encontrar os currículos produzidos na década dos anos 60, tais como o BSCS. PSSc. o CHMS. e outros (Maybury, 1975).
Um outro fato importante. relacionado com o desenvolvimento
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curricular. foi a lei 5692f71 que. se de certa forma favoreceu o ensino científico na educação pré-universitária. também o prejudicou. no sentido de diminuir o tempo disponível aos professores de ciências para o estudo científico. Esta lei gerou controvérsias tanto a nível filosófico como a nível prático e. como conseqüência. a nível político. A nível filosófico. embora bem intencionada. parece não respeitar certas características da população brasileira. tal como uma certa tendência ao "achismo". do "generalismo" e, conseqüentemente. ao "superficialismo". A nível prático. a falta de recursos materiais e humanos para a implementação da lei levou necessariamente a educação brasileira ao fracasso. A' nível político. ainda estamos por encontrar um sistema educacional que satisfaça às nossas necessidades de cidadãos brasileiros.
No presente trabalho será analisada apenas a educação científica.
Nas poucas pesquisas avaliativas. feitas no Brasil. após a aprovação da lei 5692f71. o conhecimento científico dos alunos mostrou ser eminentemente factual. tipicamente conteúdos memorizados. não necessariamente compreendidos (Schiefelbein e Simmons. 1980; Taglieber. 1983; e outros). Nesta dinâmica. pode-se incluir a memorização dos próprios processos científicos. tomando-os meras rotinas de verificação em vez de meios criadores de novos conhecimentos. O aluno, não raras vezes, percebe a inutilidade dos conteúdos ensinados. Este problema Radhakrisma (1979) reconheceu como comum a todos os países em desenvolvimento:
"O presente sistema de educação científica levou à
alienação dos problemas e objetivos nacionais. por
causa da falta de vínculos -entre o que é ensinado na
escola e o que é vivido no dia a dia". (p. 143) Aqui está. provavelmente. uma das maiores causas do desânimo e frustração e conseqüente abandono da escola. pelos alunos.
Um terceiro fator que possivelmente influiu nos currículos de ciências nas escolas. principalmente nas de segundo grau, é o concurso
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