O Projeto Mestrado
Por: Diandra1234 • 5/12/2021 • Projeto de pesquisa • 3.253 Palavras (14 Páginas) • 200 Visualizações
DIANDRA REGINA FERREIRA
A RELIGIOSIDADE E O CORPO FEMININO NA DISTOPIA O CONTO DA AIA (1985)
Linha de pesquisa: Instituições e sujeitos: saberes e práticas
Ponta Grossa,
Junho de 2021
A RELIGIOSIDADE E O CORPO FEMININO NA DISTOPIA O CONTO DA AIA (1985)
RESUMO
Esta pesquisa tem por objetivo analisar historicamente a distopia O Conto da Aia (1985), de autoria da escritora canadense Margareth Atwood, buscando identificar possíveis relações existentes entre o período em que a obra foi produzida e a problematização acerca da relação entre religiosidade e o corpo feminino presentes nesta obra, que foi escrita na década de 1980, durante a segunda onda do Movimento Feminista. O Conto da Aia foi publicado pela primeira vez no ano de 1985, e retrata um regime autoritário fictício baseado na repressão e na coisificação da mulher. Configura-se como uma obra distópica, por apresentar um futuro desastroso, permeado por opressão, luta por sobrevivência, perda da individualidade, entre outras características presentes também em outras obras do mesmo gênero produzidas no século XX, tais como 1984 (George Orwell) e Admirável Mundo Novo (Aldous Huxley), diferenciando-se das demais por ser apresentada a partir da perspectiva feminina.
Palavras-chave: Distopia - Margareth Atwood – Religião – Feminismo.
INTRODUÇÃO
O Conto da Aia, de autoria da canadense Margareth Atwood, foi publicado no ano de 1985 pela editora McClelland and Stewart, ganhando vários prêmios como Governor General's Awards de 1985 e o Prêmio Arthur C. Clarke em 1987. Foi traduzido para o português e recebeu sua primeira edição brasileira no ano de 1987 pela editora Marco Zero, e em 2017, período em que o Brasil e o mundo vivenciavam um aumento considerável do conservadorismo no cenário político, há o lançamento de uma nova edição pela editora Rocco, juntamente com uma série homônima do canal de streaming Hulu.
Na obra de Atwood, por meio das memórias de June somos apresentados à Gilead, uma parte do território estadunidense sob domínio de um governo totalitário instaurado por meio de um golpe de fundamentalistas religiosos denominados Filhos de Jacob, assim como a nova configuração social estabelecida e as consequências dessa teocracia cristã, principalmente ao que se refere aos direitos das mulheres.
Podemos observar que após a ascensão dos filhos de Jacob há uma reorganização das leis e da sociedade baseadas nos preceitos religiosos presentes na Bíblia, utilizando passagens bíblicas para legitimação dessa nova reorganização social, subjugando as personagens como June a condições em que historicamente mulheres estiveram sujeitas, como a repressão e a alienação através de discursos religiosos.
June é uma mulher considerada pecadora por Gilead após ter seu casamento deslegitimado devido ter se casado com um homem divorciado, e por esse motivo, assim como mulheres solteiras e viúvas se torna uma aia. Ela então passa ser chamada de Offred (pertencente a Fred - seu comandante) perdendo sua liberdade e direitos como por exemplo a ter um nome próprio, representando assim uma das muitas formas de despersonalização da mulher pelo regime.
Ambientada num futuro onde grande parte das mulheres se tornaram estéreis devido a poluição e a radiação, as aias são mulheres férteis que são designadas a função social de uma espécie de barrigas-de-aluguel para servir às famílias da alta cúpula de Gilead, sendo obrigadas a servirem sexualmente os comandantes durante seu período fértil. O estupro das aias é uma prática legal dentro do regime, realizado com a participação das esposas dos comandantes em um ritual denominado Cerimônia, antecedido por leituras de passagens bíblicas que legitimam esse ato, como Gênesis 30:3, na qual Raquel, diante da impossibilidade de ser mãe, oferece ao marido sua escrava para que ele se deite com Bilha e, desse modo tenha “filhos por meio dela”. (BÍBLIA, 1998, p. 43).
As mulheres em Gilead, são divididas em castas: as Tias, as Esposas, as Marthas, as Econoesposas, as Aias e as Não-Mulheres, sendo a aias unicamente reduzidas a função biológica de reprodutoras, tornando-se propriedade do governo, conforme June “Somos úteros de duas pernas, apenas isso [...]” (ATWOOD, 2017, p 165).
Escrita durante a segunda onda do Movimento Feminista, que em grande parte estimulado pela publicação da obra O Segundo Sexo (1940), de Simone de Beauvoir, se propôs a criticar a visão de feminilidade instaurada pela sociedade patriarcal, e a posição da mulher na mesma, Atwood nos apresenta uma sociedade extremamente patriarcal, na qual as mulheres são reduzidas a atividades domésticas, colocadas em posições de subalternidade, e privadas de qualquer tipo de independência, sendo por exemplo proibido ás mulheres, independente da sua casta, a prática da leitura. A história configura-se dessa forma como uma distopia, por caracterizar um futuro desastroso.
Sendo a Distopia considerada uma divisão da Utopia, podemos entendê-la como uma Utopia negativa, ou seja, a descrição de uma sociedade partindo dos problemas apresentados no tempo presente de sua escrita, ressaltando-os e apresentando consequências inerentes a essa sociedade.
O século XX foi um terreno fértil para o surgimento de distopias, entre elas podemos citar algumas obras literárias como: Nós do russo Ievguêni Zamiátin (1923), Admirável mundo novo de Aldous Huxley (1932) e Fahrenheit 451 de Ray Bradbury (1953). Nesse sentido, Figueiredo (s.d.) afirma:
O século XX vê os projetos utópicos serem colocados em cheque. As revoluções do século anterior não se mostraram suficientes para mudar a humanidade, do mesmo modo, as melhorias prometidas pela tecnologia mostram-se efêmeras e parciais. O homem mostra que não é capaz de dominar a natureza e a vida dos sujeitos não se parecia em nada com as propostas de esclarecimento iluministas, ou de racionalidade positivista. Pelo contrário, a tecnologia se radicaliza de tal forma que parece converter-se em portadora dos medos e temores dos homens. (FIGUEIREDO, s.d., p. 356)
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