PROJETO DE MESTRADO CEFET
Por: Simone Moura • 1/9/2019 • Projeto de pesquisa • 2.728 Palavras (11 Páginas) • 422 Visualizações
[pic 1] | CENTRO FEDERAL DE EDUCAÇÃO TECNOLÓGICA DE MINAS GERAIS DIRETORIA DE PESQUISA E PÓS-GRADUAÇÃO PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ESTUDOS DE LINGUAGENS |
Número de Inscrição:__________
Pelas lentes da memória:
Narrativas de vida e construção da identidade de fotógrafos populares de Belo Horizonte
Linha de Pesquisa: Linha II – Discurso, Mídia e Tecnologia
Belo Horizonte, novembro de 2016
I - Indicação da linha de pesquisa
Este projeto de pesquisa é uma proposta de análise da construção das identidades discursivas manifestadas nas narrativas de vida de três gerações[1] de fotógrafos populares moradores do Aglomerado da Serra[2]. A partir da transcrição de entrevistas realizadas com sete fotógrafos, escolhidos para compor o corpus, analisarei a constituição das identidades discursivas demonstradas por eles durante seus atos linguageiros. Para isso, amparada nos pressupostos teóricos desenvolvidos por Machado, Charaudeau, Maingueneau e Amossy pretendo propor uma reflexão a partir dos seguintes conceitos da Semiolinguística, entre os quais: narrativas de vida, identidade discursiva, ethos discursivo, interdiscurso [memória discursiva e formação discursiva], representações e imaginários sócios-discursivos, a partir de procedimentos analíticos que deem conta, em certa medida, da complexidade do assunto.
Desta forma, a partir das narrativas da vida dos fotógrafos populares, como expressão de sua interioridade, pretendo realizar uma pesquisa que identifique qual identidade os fotógrafos projetam sobre si e em que medida os imaginários sociais hegemônicos sobre o Aglomerado da Serra tem influenciando na formação discursiva dos moradores e consequentemente na constituição de suas identidades.
II – OBJETIVO GERAL
Compreender o processo de formação das identidades discursivas a partir das competências e estratégias adotadas nos atos linguageiros de fotógrafos populares.
II.1. Objetivos específicos
- Analisar a construção das identidades discursivas presentes nas narrativas de vida dos fotógrafos populares moradores do Aglomerado da Serra.
- Identificar os diferentes imaginários-sócio discursivos atribuído ao Aglomerado da Serra pelos fotógrafos, com vistas a compor e revelar as representações sociais imaginários sociais em torno de tal localidade.
- Analisar os efeitos dos representações sociais hegemônicas sobre a formação das identidades dos fotógrafos a partir das imagens que eles projetam de si.
III – JUSTIFICATIVA
Historicamente os aglomerados urbanos e seus moradores têm ganhado representações sociais negativas através dos meios de comunicação tradicionais (Libânio, 2004). Abordagem que fica mais evidente a partir da década de 90, principalmente através de noticiários sensacionalistas que escancaram o universo das periferias, conforme apontado pela Jornalista Aline Maia em seu artigo Do subúrbio ao centro midiático (2012). Maia observa ainda que nos anos 2000, a representação da pobreza, em geral associada à violência, começa a ganhar espaço também nas telas do cinema. A autora acrescenta que tais representações disseminadas ao longo de anos têm, revertido em efeitos negativos em nossa sociedade sobre a imagem que se têm sobre os aglomerados e seus moradores.
Por outro lado, o antropólogo Milton Guran (2015) contextualiza que na última década este cenário tem mudado, através da inclusão visual proporcionada pelo, ainda recente, acesso à internet e aos dispositivos de comunicação e informação pelas camadas populares da sociedade brasileira, aliada a organização dos próprios grupos, outrora marginalizados em se fazerem visíveis através de suas narrativas e da produção de suas próprias imagens. Contexto que vai de encontro as reflexões propostas por Proença e Limberti (2015) sobre a dificuldade envolvendo a emergência de novas vozes no contexto atual:
A voz do dominado é, frequentemente abafada, silenciada. [...] Além de ser o perdedor, sua manifestação muitas vezes não repercute. O eco da sua voz permanece, porém, nos vãos, nas fissuras do sistema, esperando a oportunidade de ser ouvida (PROENÇA & LIMBERTI, 2015)
No entanto, acredito que aos poucos têm surgido brechas para a reverberação dessas vozes. Ela tem se dado através do aumento gradativo do acesso pelas classes populares aos meios de comunicação, sobretudo às novas tecnologias. Desta forma, percebe-se uma pequena, mas significativa diversificação das imagens sobre a favela e seus moradores no cenário midiático brasileiro.
E, tais imagens revelam um desejo de serem reconhecidas e aceitas socialmente, constituindo uma “nova” identidade a quem mora em favelas e aglomerados urbanos. Digo, “novas”, pois o imaginário que circula sobre os moradores destas áreas recorrentemente são atreladas as representações de carência, marginalidade, vulnerabilidade e violência.
Diante da predominância dessas representações, uma das perguntas que este projeto tentará responder diz respeitos aos efeitos que tais estereótipos negativos tem na construção das identidades de sujeitos que residem em favelas e aglomerados urbanos. Uma vez que tenho assistido a tomada de voz de quem antes era “segregado” quanto a produção das próprias narrativas, conforme apontado por Proença e Limberti (2015). Situação que vai de encontro ao contexto observado por Guran (2015), para quem a disputa por novos discursos reflete à lenta, mas significativa ascensão das classes populares através:
da aquisição dos bens de consumo; associada à oferta dos serviços promovidos pelo Estado; ao ingresso aos níveis mais elevados de formação e principalmente o acesso aos meios de produção midiática, sobretudo envolvendo as tecnologias e a internet (GURAN, 2015).
Na esteira dessas mudanças, o interesse pelo tema do presente projeto, vem se consolidando a partir de uma experiência que tenho acompanhado[3] há um ano no Aglomerado da Serra. Trata-se do projeto “Lentes da Memória” que realiza encontros intergeracionais entre os diferentes fotógrafos da região, com o objetivo de sistematizar as histórias dos moradores e posteriormente compor uma publicação[4] a partir da organização destes relatos. Num destes encontros pude presenciar o diálogo entre diferentes gerações de fotógrafos populares contando um pouco sobre suas trajetórias de vida e refletindo sobre as transformações ocorridas na Aglomerado da Serra nas últimas décadas. Transformações estas que vão desde as intervenções urbanas promovidas entre 2005 e 2012 pelo Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) por meio do Programa - Vila Viva[5] até as denominações que o Aglomerado da Serra recebe de seus moradores conforme os interlocutores e os contextos de interação. Num destes encontros me chamou a atenção como as denominação relativas ao Aglomerado da Serra foram mudando conforme as mudanças políticas, econômicas e urbanas, pelos quais o território passou.
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