O Superorgânico Resenha
Por: Matheus Bonachela • 20/10/2021 • Resenha • 1.024 Palavras (5 Páginas) • 116 Visualizações
Kroeber foi aluno de Franz Boas, precursor da crítica ao evolucionismo, linha de pensamento arraigada ao contexto econômico desenvolvimentista do ocidente, esse pensamento adentra a antropologia a partir de Herbert Spencer e Tylor quando estes se utilizam do pensamento de Charles Darwin, para explicar a sociedade, conseguintemente, o estudo Antropológico fica repleto de preconceitos culturais, devido a perspectiva escalar e universalizante da teoria evolucionista. Desse modo, é de extrema importância a obra “O Superorgânico" escrita por Kroeber, uma vez que consiste em uma coleção de argumentos contra o evolucionismo.
Sob essa ótica, o texto se desenvolve primordialmente em conceitos, como orgânico, que corresponde à formação biológica dos seres, mental, arraigado ao orgânico, porém apenas como potencialidade de pensamento e social ou civilização, correspondente a forma particular de associação humana baseada na cultura. Nesse sentido, o autor afirma que a popularidade do evolucionismo e da eugenia, teoria que consiste, justamente, na noção de que a raça é o espírito da nação e sendo assim, características corporais estariam ligadas a cultura. Destarte, a eugenia seria um atalho para o progresso (KROEBER, 1871. p. 258), no entanto, observa-se que tais pensamentos extrapolaram seus limites, gerando uma confusão conceitual, uma vez que, tudo passa a ser explicado numa escala qualitativa e progressiva, seja a evolução cósmica, seja a animal e de forma mais problemática a social, essa tendência a tal correlação se dá pelo fato do social existir como consequência do humano, e é justificada pelo progresso, percebido a partir de provas supostamente concretas que sobreviveram à passagem do tempo, em objetos e costumes preexistentes, porém transformados, esse processo, de acordo com Tylor, um dos fundadores do evolucionismo:
“Trata-se de processos, costumes, opiniões, e assim por diante, que, por força do hábito, continuaram a existir num novo estado de sociedade diferente daquele no qual tiveram sua origem, e então permanecem como provas e exemplos de uma condição mais antiga de cultura que evoluiu em uma mais recente.” (TYLOR, 1871. p. 31).
No entanto, Kroeber compreende que o orgânico, ou seja, a perspectiva evolucionista é incapaz de explicar a sociedade e reduz a história a uma ditadura genética mecanicista, confundindo sociedade e organismo. Nesse âmbito, o autor diferencia o que é sociedade humana e animal, ao afirmar que em certa medida formigas são seres sociais no sentido de se associarem e no caso de animais mais complexos emitem sons, mas só o fazem mediante determinidade biológica. Destarte, funcionam como algoritmo biológico, tanto que, um punhado de ovos de formigas isolados do formigueiro originário, colocados em uma localização geográfica distante, irá se comportar exatamente igual a fonte. Em contrapartida, de acordo com o autor “O homem é, pois, um animal social, um organismo social, ele tem constituição orgânica, mas também civilização” (KROEBER, 1971. p. 249) portanto, se um punhado de seres humanos for isolado de uma sociedade tida como superior e posta em outra, não irá se comportar igualmente aos caracteres supostamente evoluídos, porque, adotarão a linguagem e os costumes da civilização em que vivem e não da que descendem biologicamente da qual conservam laços sanguíneos, destarte, o autor observa:
“Há uma centena de elementos de civilização lá onde havia um no tempo em que o esqueleto de Neandertal encerrava um cérebro vivo, e não é só conteúdo da civilização como também a complexidade de sua organização que foi centuplicada. Mas o corpo e a mente associada, desse homem primitivo, não atingiram um ponto cem vezes, nem mesmo duas vezes mais fino, mais eficiente, mais delicado ou mais forte do que eram naquele tempo; é duvidoso se progrediram de um quinto” (KROEBER, 1971. p. 287)
Logo, o papel da hereditariedade e sobrevivência são nulos, sendo assim, não há evolução cultural, pois, o que fica evidente desta relação e raciocínio exposto, é que a cultura faz o ser humano e esta não é herdada por antepassados. Porque, existe transcendentalmente ao orgânico. Portanto, o processo de enculturação se dá por transmissão acumulada de ideias, valores e comportamento, dentro da civilização, que apenas seres humanos possuem. Desse modo, o conceito de sobrevivência não tem valor de prova, é incapaz de justificar o evolucionismo e explicar a humanidade, pois, não altera o caráter superorgânico da cultura, evidenciando apenas, que um saber, seja ele valor ou técnica, foi transmitido e acumulado, podendo se manter inerte ou modificado.
...