O "jeitinho brasileiro" e suas consequências

Clara Cerqueira

Proposta PUC 2015

March 10, 2016

O "jeitinho brasileiro" e suas consequências

Uma das marcas do Brasil é o "jeitinho brasileiro" - tentativa de levar vantagem em situações cotidianas de modo ilícito e/ou imoral. Essa prática, até certo tempo, permanecia como parte integrante da sociedade brasileira, algo natural; por esse motivo, não era debatida. No entanto, ultimamente, ela ganhou centralidade em diversas discussões no país, gerando questionamentos quanto aos motivos dessa mudança de postura da mídia e dos cidadãos. Diante disso, observa-se que os pequenos atos de corrupção têm ganhado destaque porque as consequências dessas práticas estão sendo sentidas mais intensamente nos dias atuais.

Existe no Brasil o costume enraizado de buscar levar vantagem - seja sobre a lei, a exemplo dos subornos, ou sobre outros indivíduos, como em situações de desrespeito às filas. Esse costume é reflexo de uma ideologia que dita a procura por privilégios ao invés da procura por direitos. Isto é, o benefício individual é priorizado mesmo quando não se justifica. Cita-se, nesse sentido, o caso de governantes que desviam verbas de obras importantes como as de hospitais e escolas. Nesse caso, além de benefício individual sem justificativa, houve supressão de direitos coletivos. É exatamente por isso que a manutenção de privilégios - e não de direitos - gera consequências cada vez mais intensas, compartilhadas por toda a sociedade brasileira: porque suprime direitos básicos. Dentre essas consequências está a segregação sócio-econômica acentuada e seus efeitos, como a abertura de margem para a criminalidade. Vê-se, portanto, quão nociva é a adoção das pequenas corrupções.

Uma vez que essas consequências têm afetado intensamente a sociedade, os indivíduos passaram a buscar explicações mais concretas para sua ocorrência. É nesse contexto que surgem as pequenas corrupções como fonte de debate, isso porque elas detêm parte da  responsabilidade pelo conflituoso contexto social brasileiro. Por exemplo, em 2014 a Controladoria Geral da União publicou uma campanha alertando para essas posturas e ela foi compartilhada mais de 110 mil vezes, provando esse ganho de repercussão. Portanto, conclui-se que o interesse crescente pela análise do "jeitinho brasileiro" fundamenta-se na intensificação dos seus efeitos negativos para a sociedade.

Diante do exposto, urgem reavaliações individuais de conduta, de modo a desconstruir a mentalidade de privilégios e limitar suas consequências. Dessa forma, são estratégicas  campanhas como a supracitada, bem como educação familiar e escolar, no sentido de valorizar a honestidade e o respeito pelo direito do outro - posturas básicas de um cidadão consciente.