O que é Ideologia?

CHAUÍ, Marilena. O que é ideologia. São Paulo: Brasiliense, 1980.

Chauí começa seu livro partindo de exemplos históricos como a teoria das quatro causas de Aristóteles, as quais explicam o movimento, que para os gregos é toda e qualquer alteração da realidade, nela, há uma hierarquização das causas, onde no topo consiste a causa final, que seria o motivo pelo que um objeto passa por dada transformação, e na base estaria a causa eficiente, que é a operação para fazer um objeto passar por uma transformação. Nessa parte do livro, a autora faz uma metáfora, na Grécia antiga, homens livre, que seriam a causa final e o escravos, que seriam a causa eficiente. Pode-se fazer uma analogia com a ideologia e a luta de classes.

A filósofa também aborda os vários conceitos que outros pensadores propõem à ideologia, dentre eles, Augusto Comte – que sustenta a ideologia como um conjunto de ideias, Napoleão Bonaparte – que dá um sentido pejorativo a ideologia e aos ideólogos e Émile Durkheim – que considera o ideológico como uma ideias restantes, pré-científicas.

A maior parte da obra é direcionada para o conceito de ideologia Marxista. Apesar de Marx fazer uma crítica a filosofia hegeliana, ele mantém aspectos fundamentais. Uns desses aspectos, seriam a dialética, o movimento interno de produção de realidade tem como motor a contradição. Para Hegel, a dialética ocorre no campo das ideias, por isso tem o título de espiritualista. Hegel também diz que o real é racional e o racional é o real. O espirito é a verdadeira reflexão da consciência. Hegel usa a alienação como forma

Diferente de Hegel, Marx diz que a contradição não se fixa nas ideias, mas sim, no real, entre homens reais, e isso se chama a luta de classes. Ideologia para Marx, diferente do que o senso comum que à trata como um conjunto de ideias, é na verdade ideias da burguesia. Como o próprio Marx fala “As ideias dominantes numa época nunca passaram das ideias da classe dominante” (MARX, 39, 1848).

A ideologia é um sistema de ideias criado para comprovar o status social superior, uma explicação da realidade criada pela classe dominante, no caso a burguesia, para iludir e enganar a classe dominada, o proletário. Essa alienação e causada pela mais-valia –que é a parte do valor dada a força de trabalho que o trabalhador não recebe do patrão- e o fetichismo da mercadoria – no qual as pessoas viram coisas e as coisas viram pessoas, ela, a ideologia, é forjada para alienar as multidões, garantindo os interesses da burguesia.

O problema com o conceito de Marx para a ideologia é sua própria solução para tal. O conceito da dialética empregada por Marx é que sempre houve e sempre haverá – uma tese, uma antítese e por fim uma síntese. Para o filósofo a ideologia burguesa seria quebrada assim que o comunismo fosse “implantado” pela própria classe trabalhadora. É nesse ponto em que a problemática entra, e fica aqui uma pergunta. Se sempre houve a dialética e ela sempre acontecerá, por que nesse momento ela iria parar e a classe trabalhadora não se tornaria uma nova “burguesia”?

Por fim, o livro de Chauí pode ser considerado introdutório para o mundo acadêmico, mas apesar de ser um livro didático, no que compete o assunto, não traz algo de novo, mas sim reproduz o que outros autores já haviam discutido, mesmo, talvez, sendo esse intuito da autora. Chauí também peca nos “rodeios” que emprega na obra, não indo direto ao que é essencial, isso dificulta, muitas vezes, no entendimento do exemplar. Apesar disso, o livro tem um conteúdo rico, e é de muito aprendizado para aqueles que são leigos no assunto.

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