Os Fichamentos de Antropologia
Por: Elig Cassiane Silva • 27/6/2020 • Resenha • 3.143 Palavras (13 Páginas) • 165 Visualizações
TARDE, Gabriel. [1895]. “Capítulo III – Que é uma Sociedade?”. In: As Leis da Imitação. Porto: Rés, 1979.
“Daí esta definição de grupo social: uma coleção de seres enquanto estão em vias de se imitar entre si, ou enquanto, sem se imitarem actualmente, se assemelham e os seus traços comuns são cópias antigas de um mesmo modelo.” (Pag. 93)
“Uma sociedade é sempre, em diversos graus, uma associação, e uma associação é para a socialidade, para a imitatividade, por assim dizer, o que a organização é para a vitalidade ou mesmo o que a constituição molecular é para a elasticidade do éter.” (Pag. 94).
“Uma quantidade de crianças educadas em comum, tendo recebido a mesma eduação no mesmo meio, e não ainda diferenciadas em classes e em profissões: tal é a matéria prima da sociedade.” (Pag. 95).
“[...] uma nação não é senão um acordo de tradições, de costumes, de educações, de tendências, de ideias que se propagam imitativamente por vias diferentes, mas subordinando-se hierarquicamente e ajudando-se fraternalmente.” (Pag. 96).
“Em resumo, para a questão que colocamos no começo: Que é sociedade? nós respondemos: é a imitação.” (Pag. 99).
Gabriel tarde, entra em debate com Durkheim pois, enquanto Durkheim tinha a pretensão de fazer da sociologia uma ciência e diferenciá-la da biologia e da psicologia, Tarde não defendia a natureza de ser livre da sociologia, tanto que, em seus exemplos sobre o modo de ser do social faz comparações de ordem biológica e psicológica, chegando ao extremo de defender que a dinâmica de invenção e de continuidade da sociedade nada mais é do que uma repetição e imitação espontânea de práticas da natureza. Basicamente, define que a sociedade se faz de ondas de propagação, para ele, a totalidade nada mais é do que uma grande imitação de todas as partes. Seu foco, é mais a transmissão (dada a ideia de imitatividade e transmissão hierárquica) do que o objeto, acredito que, por este motivo ele seja mais estudado nas áreas de comunicação, visto que a comunicação é a grande responsável pela formação da opinião das massas.
DURKHEIM, Émile e MAUSS, Marcel. [1903]. Algumas formas primitivas de classificação. Ensaios de Sociologia. Pp. 399-455. São Paulo, Perspectiva. 1990 (seminário)
“A classificação das coisas reproduz a classificação dos homens” (p. 184).
“O que caracteriza as referidas classificações é que as idéias estão nelas organizadas de acordo com o modelo fornecido pela sociedade. Mas desde que esta organização da mentalidade coletiva exista, ela é suscetível de reagir à sua causa e de contribuir para modificá-la.” (p. 189)
“As coisas não se encontram dispostas simplesmente sob a forma de grupos isolados uns dos outros, mas estes grupos mantêm uns com os outros relações definidas e seu conjunto forma um só e mesmo todo”. Seu objetivo não é, assim, tornar mais fácil a ação, mas tornar inteligíveis as próprias relações sociais existentes, dando luz a uma “primeira filosofia da natureza”, em que se ligavam as idéias, onde o conhecimento se tornava uno. (p. 197-198)
“Uma classificação lógica é uma classificação de conceitos”. (p. 202)
Ao comparar a organização das sociedades totêmicas Durkheim percebe que existe uma organização totêmica, um tipo de sistema de classificação com uma lógica comum a diversos clãs de diferentes lugares da Austrália.
Os clãs que antes estavam ligados pelos costumes e pelas representações foram, sofrendo fragmentações e dando origem a novos clãs e a novas formas de classificação. Os clãs multiplicados inicialmente possuíam uma relação hierárquica, mas foram se “autonomizando” de modo que mantiveram parte das características de sua origem e desenvolveram outras novas. Assim, obtém uma espécie de ramificação, onde os totens geram subtotens, estes se tornam novos totens e assim sucessivamente.
Existe então uma relação direta entre o sistema social e o sistema lógico que a sociedade utiliza para se conceituar. As classificações primitivas se ligam as primeiras classificações científicas. Mesmo que as classificações científicas pareçam extremamente diferentes das classificações primitivas, elas possuem características em comuns: uma classificação gera outra mais complexa e as classificações complexas mantêm vestígios da sua classificação inicial.
Portanto, para Durkheim, a história da classificação científica é a história do declínio da afetividade social que gradualmente proporcionou a livre reflexão dos indivíduos. Mesmo assim, mantem-se algumas influências que resultaram em formas de classificação.
MAUSS, Marcel e HUBERT, Henri. [1898]. Sobre o sacrifício. S. Paulo: Cosac-Naify, 2005. Introdução e cap. 1, 2, 5 e 6.
Introdução
“Propusemo-nos neste trabalho definir a natureza e a função social do sacrifício.” (Pag. 7).
“Não cogitamos pois empreender aqui a história e a gênese do sacrifício, e se chegamos a falar de anterioridade, trata-se de anterioridade lógica e não de anterioridade histórica.” (Pag. 14).
I. DEFINIÇÃO E UNIDADE DO SISTEMA SACRIFICIAL
“Antes de ir mais longe, convém dar uma definição exterior dos fatos que designamos por "sacrifício". (Pag. 15).
“Chegamos então à seguinte fórmula: o sacrifício é um ato religioso que mediante a consagração de uma vítima modifica o estado da pessoa moral que o efetua ou de certos objetos pelos quais ela se interessa.
Para brevidade da exposição, denominaremos sacrifícios pessoais aqueles em que a personalidade do sacrificante é diretamente afetada pelo sacrifício e sacrifícios objetivos aqueles em que objetos, reais ou ideais, recebem imediatamente a ação sacrificial.” (Pag. 19).
“Há continuidade entre as formas do sacrifício. Elas são ao mesmo tempo muito diversas e muito semelhantes para que seja possível dividi-las em grupos muito caracterizados. Todas têm o mesmo núcleo, e é isso que faz a sua unidade. São os invólucros de um mesmo mecanismo que vamos agora desmontar e descrever.” (Pag. 24).
2 . O ESQUEMA DO SACRIFICIO
Sobre a entrada.
“Se os dois ritos analisados são de tal forma semelhantes, é que os objetos visados de parte a parte também são análogos. Nos dois casos trata-se de fazer que a força religiosa que as sucessivas consagrações acumularam no objeto sacrificado se comunique, de um lado, com o domínio do religioso e, de outro, com o domínio profano, ao qual pertence o sacrificante. Os dois sistemas de ritos contribuem, cada um num sentido, para estabelecer essa continuidade que nos parece ser, feita essa análise, uma das características mais notáveis do sacrifício. A vítima é o intermediário pelo qual a corrente se estabelece. Graças a ela, todos os seres que participam do sacrifício se unem, todas as forças que nele intervêm se confundem.” (Pag. 50).
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