Principios Bioética
Exames: Principios Bioética. Pesquise 862.000+ trabalhos acadêmicosPor: secreto26 • 13/10/2013 • 806 Palavras (4 Páginas) • 482 Visualizações
OS PRINCÍPIOS DA BIOÉTICA E OS
LIMITES DA ATUAÇÃO MÉDICA
Wilson Ricardo Ligiera
Advogado, Mestre em Direito Civil e Especialista em Bioética
1. INTRODUÇÃO
As decisões sobre tratamento de saúde eram outrora tidas como questões
meramente técnicas, tomadas naturalmente pelo conhecedor das ciências médicas. Tal
prática, embora cerceasse por completo qualquer possibilidade de exercício de
autonomia pelo doente, não era vista como nociva. Naquele contexto, ambas as partes
da relação médico–paciente aceitavam que quem sabia o que era “melhor” para o
doente era sempre o médico, único e exclusivo detentor do conhecimento científico.
À luz dos princípios éticos contidos no Juramento de Hipócrates, era dever do
médico prescrever e administrar a terapia que representasse o melhor benefício
possível, sem nenhuma preocupação com qualquer participação ativa do paciente. Este
apenas sujeitava-se à intervenção médica, sem nada indagar e muito menos levantar
objeções. Entretanto, o costume de deixar a cargo do médico a tomada de todas as
decisões foi aos poucos sendo questionado.
Atualmente, o paciente já não aceita ser um mero objeto da ação médica; antes,
deseja tornar-se um sujeito participativo dessa relação. Diante dessa nova tendência,
não obstante a ampla invocação do princípio da beneficência pelos discípulos de
Hipócrates, em muitos casos o paciente não se sente beneficiado pela intervenção
médica. A despeito de todo zelo e empenho do profissional, são freqüentes as situações
em que o paciente, ao final do tratamento, simplesmente não visualiza o benefício do
procedimento médico.
Há ocasiões, ademais, em que o paciente, além de não enxergar nenhum bem, só
consegue ver o mal; são situações em que o doente não encara os procedimentos
médicos como atos beneficentes, mas como agressões ao seu organismo, desrespeito à
sua individualidade e afronta à sua dignidade. Deveras, há intervenções médicas que
podem causar mal maior que a própria doença. Com a maior utilização dos
procedimentos invasivos e o surgimento de novas drogas e aparelhagens destinadas a
preservar a todo custo a vida dos pacientes, houve um significativo aumento dos casos
de iatrogenia. Com efeito, ao lado dos danos efetivamente provocados no paciente por
tratamento médico errôneo, são hoje freqüentes aqueles causados pelo uso excessivo de
medicamentos, bem como os resultantes de procedimentos desnecessários.
Com o aumento do tecnicismo, o médico deve estar sempre alerta para não se
transformar em mero operador de máquinas e aparelhos. Ao olhar para um paciente
apenas como um conjunto de órgãos, o profissional negligencia seus aspectos
emocionais, podendo causar malefícios consideráveis à pessoa que necessita de sua
ajuda.
É de interesse notar que alguns profissionais só conseguem perceber a
importância da humanização da medicina quando eles próprios passam para a
condição de doentes internados num hospital. Só então chegam a compreender a
angústia e o medo normais do ser humano à mercê de uma enfermidade.
A deterioração da relação médico–paciente tem contribuído grandemente para o
aumento do número de processos judiciais por responsabilidade médica. A falta de um
bom relacionamento é também causa de parte expressiva das denúncias de supostos
erros médicos perante os Conselhos de medicina. Por outro lado, quando existe uma
boa comunicação entre médico e paciente, este encara com mais naturalidade as
eventuais conseqüências adversas do
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