Qualidade
Tese: Qualidade. Pesquise 862.000+ trabalhos acadêmicosPor: ludmilabrito • 31/8/2013 • Tese • 1.720 Palavras (7 Páginas) • 270 Visualizações
Primeiro, foi a indústria. Agora, as empresas de software querem aumentar a produtividade e, principalmente,
reduzir as falhas em seus produtos
Roberta Paduan
Os senhores voariam em meus aviões se eles tivessem a mesma confiabilidade que um sistema de informática?"A
pergunta formulada por William Boeing, fundador da maior fabricante de aviões do mundo, feita no começo dos anos
50, reflete bem o descrédito em relação aos programas de computador existentes naquela época. Hoje, os aviões não
apenas são construídos, mas voam graças a sistemas computacionais que não podem falhar -- afinal, não dá para
imaginar a hipótese de o piloto olhar para o co-piloto com cara de espanto, dizendo: "Xi, deu pau".
No entanto, meio século depois, a frase de Boeing poderia ser aplicada por executivos de muitos outros setores da
economia, que ainda sonham com o dia em que seus sistemas corporativos serão tão confiáveis quanto os usados em
aviões. A maior parte da indústria tecnológica permanece bem longe dos rígidos padrões de qualidade estabelecidos
pelo setor aeronáutico. Cerca de 55% de todo trabalho realizado pela área de desenvolvimento de software de uma
empresa é destinado à correção de erros detectados em sistemas já em funcionamento. Na prática, tais sistemas são
consertados em pleno vôo. A estimativa é do Instituto de Engenharia de Software (SEI), órgão criado pelo
Departamento da Defesa americano e operado na prestigiada Universidade Carnegie Mellon.
Não é à toa que as empresas destinam tantos esforços às correções. A produção de software está entre as atividades
mais artesanais do planeta. Programadores trabalham basicamente com criatividade. São uma espécie de artistas high
tech e, como todo artista, não costumam seguir regras de produção. Embora os principais avanços tecnológicos dos
últimos 50 anos tenham sido fruto de fagulhas de inspiração, é preciso muito trabalho cerebral para transformá-las em
código de computador. E é aí que mora o perigo. "A questão não é limitar a criatividade de quem cria e escreve os
programas", diz Juliana Herbert, doutora em qualidade de software da Universidade do Vale do Rio do Sinos (Unisinos),
de São Leopoldo, no Rio Grande do Sul. "É preciso ter método."
A solução para isso é a criação de modelos que se transformem em certificados de qualidade. Na indústria do software,
o mais conceituado deles é o CMM (Capability Maturity Model, algo como modelo de maturidade da capacidade de
desenvolvimento). Sua criação, não por acaso, está ligada à indústria da aviação. Na década de 80, quando a
informática começou a chegar aos aviões, a Força Aérea Americana criou uma avaliação dos fornecedores de software.
Foi desse trabalho que surgiu o certificado de qualidade CMM, emitido pelo SEI.
Além dos Estados Unidos, a certificação CMM foi amplamente adotada na Índia, hoje um grande pólo exportador de
tecnologia, e vem chegando com força total ao Brasil. Até agora, apenas 13 empresas brasileiras conseguiram a
certificação, mas praticamente toda indústria de software tenta enquadrar-se nessa espécie de ISO tecnológico. Nesse
estágio está a subsidiária da Dell Computers, além das nacionais Datasul e Vesta. No Rio Grande do Sul e em Minas
Gerais, algumas empresas estão trabalhando em grupo para baratear os custos da consultoria necessária à
implantação do padrão."As empresas querem o CMM porque têm de resolver um problema cultural dessa área: os estouros de prazo e
orçamento", afirma a gaúcha Juliana Herbert, diretora do ESICenter. Ligado ao Instituto Europeu de Software,
equivalente ao SEI americano, o ESICenter está instalado na Unisinos, na Grande Porto Alegre. Ao lado das poucas
empresas brasileiras que dão consultoria para a implantação do CMM, apenas o ESICenter e a subsidiária da empresa
americana ISD são autorizadas a aplicar as avaliações do certificado.
Trabalhar dentro do padrão CMM significa seguir um guia que estabelece passos que visam aumentar a produtividade
e eliminar -- ou, pelo menos, minimizar -- a existência dos defeitos no fim do desenvolvimento. Para a Orbitall, empresa
controlada por Citibank, Itaú e Unibanco, funcionou. Especializada em tecnologias e serviços do setor financeiro, como
todo processamento dos cartões Credicard, a empresa diminuiu em 70% os atendimentos de interrupção de sistemas
(o que pode significar, entre outras coisas, aquela situação chatíssima em que, na hora de pagar a conta do jantar com
o cartão de crédito, o garçom volta do fundo do restaurante dizendo que o sistema está fora do ar).
Um dos capítulos principais do CMM é o estabelecimento de critérios claros para a documentação durante o
desenvolvimento de um sistema, parte do trabalho que os desenvolvedores consideram uma chatice. Imagine uma
casa sem planta hidráulica. Se o morador não tiver uma cópia, corre o risco de furar um cano. Portanto, quanto melhor
for feito o registro do projeto original ou de suas reformas, menores serão os riscos de falhas e, conseqüentemente, de
retrabalho.
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